VENEZUELA DENUNCIA VÍDEO GERADO POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL DIVULGADO POR TRUMP SOBRE ATAQUE NO CARIBE
- Alexandre Costa
- 4 de set.
- 4 min de leitura
POR REDAÇÃO | ESQUINADEMOCRATICA.COM.BR

O ministro da Comunicação da Venezuela, Freddy Ñáñez, denunciou nesta terça-feira (2), em mensagem no Telegram, que um vídeo divulgado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre um suposto ataque a narcotraficantes no Mar do Caribe foi produzido por inteligência artificial. Segundo o ministro, trata-se de um deepfake, com explosões artificiais, água irreal e marcas d’água falsas. Ele acusou o senador republicano Marco Rubio de enganar Trump com provas fabricadas: “Parece que Marco Rubio sigue mintiéndole a su presidente”, afirmou. A denúncia foi reproduzida por veículos como TeleSUR e Painel Político.
Poucas horas antes da denúncia venezuelana, Trump havia anunciado em sua rede social que tropas americanas atacaram um barco da facção criminosa Tren de Aragua, considerada por Washington como organização terrorista. O presidente afirmou que “11 narcoterroristas” morreram, sem apresentar provas verificáveis. A gravação publicada trazia a inscrição “unclassified” e buscava dar a impressão de documento militar oficial. REPETIÇÃO DE UM PADRÃO NA AMÉRICA LATINA
O uso de justificativas ligadas ao narcotráfico ou à segurança nacional para intervenções externas não é novo. Em 1954, os EUA derrubaram Jacobo Árbenz na Guatemala para proteger a United Fruit Company. Em 1973, apoiaram o golpe no Chile contra Salvador Allende. Em 1989, invadiram o Panamá alegando combater Manuel Noriega. O caso da Venezuela se encaixa nesse padrão: além do petróleo e dos minérios, há a dimensão simbólica de enfraquecer um projeto político que insiste em resistir à hegemonia estadunidense.
ANÁLISES TÉCNICAS E SOBERANIA
De acordo com fontes venezuelanas, análises confirmaram que o vídeo foi fabricado. Autoridades acusam os EUA de manipular informações para justificar sua presença militar no Caribe, onde já operam navios de guerra, mísseis e um submarino nuclear sob a justificativa de combate ao narcotráfico. Ñáñez advertiu: “Basta ya Marco Rubio de alentar la guerra e intentar manchar las manos de sangre al presidente Donald Trump”.
O MITO DO “CARTEL DE LOS SOLES”
A denúncia se insere em um contexto mais amplo de narrativas sobre o narcotráfico na Venezuela. O termo “Cartel de los Soles” tem sido usado por opositores e pelo governo norte-americano para acusar o presidente Nicolás Maduro e generais da FANB de liderarem um cartel de drogas. Pesquisas e análises, como as do jornalista Fernando Casado em El mito del cartel de los soles, apontam que não há provas de estrutura organizada semelhante a cartéis colombianos ou mexicanos. Em vez disso, trata-se de casos individuais de corrupção apresentados como se fossem uma organização criminosa nacional. El País revelou em 2020 que Trump chegou a ordenar ao Pentágono a elaboração de um plano secreto contra os “cartéis” no exterior.
GUERRA HÍBRIDA E INTERESSES ESTRATÉGICOS
Analistas como Casado e veículos como Reuters e Carnegie Endowment destacam que a narrativa do narcotráfico serve como instrumento de guerra híbrida, combinando sanções econômicas, pressão diplomática e militarização da região. O objetivo seria tanto enfraquecer o governo chavista quanto garantir acesso aos vastos recursos naturais venezuelanos, em especial o petróleo.
Históricos vínculos de empresas norte-americanas como a Creole Petroleum e a Lago Petroleum mostram o interesse contínuo dos EUA na exploração petrolífera venezuelana. Hoje, mesmo sob tensões políticas, companhias como a Chevron atuam no país por meio de licenças especiais do governo americano. A Citgo, filial da PDVSA nos EUA, continua operando, embora com repasses bloqueados ao governo Maduro.
O RISCO DOS DEEPFAKES NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A denúncia do governo Maduro expõe um alerta global: o uso de inteligência artificial para fabricar provas em disputas internacionais. O episódio reforça os riscos de fake news e deepfakes em cenários de guerra híbrida, onde a manipulação da informação pode justificar ações militares e comprometer a estabilidade regional.
📌 LINHA DO TEMPO – INTERVENÇÕES DOS EUA NA AMÉRICA LATINA (1954–2025)
🟥 1954 – GUATEMALA Golpe contra Jacobo Árbenz, articulado pela CIA.👉 Narrativa: risco comunista.👉 Interesse real: proteger a United Fruit Company.
🟥 1973 – CHILE Derrubada de Salvador Allende, com apoio norte-americano.👉 Narrativa: conter o socialismo.👉 Interesse real: evitar modelo democrático-socialista na região.
🟥 1989 – PANAMÁ Invasão dos EUA depõe Manuel Noriega.👉 Narrativa: combate ao narcotráfico.👉 Interesse real: garantir controle sobre o Canal do Panamá.
🟥 2000–2010 – VENEZUELA (CHÁVEZ) Sanções e apoio à oposição durante governos chavistas.👉 Narrativa: defesa da democracia.👉 Interesse real: petróleo e enfraquecimento do chavismo.
🟥 2020 – “CARTEL DE LOS SOLES” Trump ordena ao Pentágono preparar plano secreto contra cartéis.👉 Narrativa: guerra às drogas.👉 Interesse real: intervenção política e controle energético.
🟥 2025 – DEEPFAKE DO CARIBE Trump divulga vídeo falso de ataque ao Tren de Aragua. Venezuela denuncia uso de IA.👉 Narrativa: combate ao narcotráfico e terrorismo.👉 Interesse real: ampliar pressão sobre Maduro e acesso a petróleo e minérios.
LINKS PARA CHECAGEM
— Denúncia de deepfake feita por Freddy Ñáñez (Painel Político). Painel Político
— Vídeo divulgado por Trump sobre ataque ao Tren de Aragua (O Globo). O Globo
— Cobertura venezuelana sobre manipulação de informações (TeleSUR). TeleSUR
— Reportagem sobre plano secreto de Trump contra cartéis (El País). El País
— Ensaio “El mito del cartel de los soles” (Fernando Casado). Fundación Editorial El perro y la rana
— Relatório sobre interesses geopolíticos e petróleo (Carnegie Endowment). Carnegie Endowment— Chevron autorizada a operar na Venezuela (Wall Street Journal). Wall Street Journal
— Citgo como fonte de receita estratégica (Washington Post). Washington Post
— Contexto histórico de intervenção na Guatemala, Chile e Panamá (Wikipedia/El País). Wikipedia + El País
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