TRUMP NO CAFÉ AQUÁRIOS, POR PAULO GAIGER*
- Alexandre Costa

- 27 de jun.
- 3 min de leitura

Conhecem aquelas máscaras que se compram em lojas de fantasias? São de plástico, vêm com uns óculos de aro preto, um narigão e um bigode. Pois entrei no Aquários para tomar um cafezinho quando ouvi um “psiu”, “hello, Mr. Paul!”. Olhei para os lados do Café para ver de onde vinha o chamado. Numa mesinha à frente, estavam o Valter Hugo Mãe, o Vitor Ramil e o Fernando Pessoa na maior trela sobre metafísica, entre goles de café e ginja. Na calçada, quase na porta de entrada, me pareceu ser o prefeito de Porto Alegre, muito desorientado, golpeando o ar, desferindo pontapés em seres imaginários e a gritar furiosamente: fora comunistas! No outro lado da Quinze, um senador distribuía livremente panfletinhos a favor da censura nas artes. Dentro do café, do lado de cá, vi o Oscar Wilde, a Chimamanda Ngozi e o Pablo Rodrigues falando sobre intolerância e burrice. “Mr. Paul, I’m here!”. Olhei para o canto esquerdo de quem entra no Aquários, lá estava um sujeito grandalhão, com o rosto detrás deste tipo de máscara: óculos, narigão e bigode. Contudo, não escondia o topete meio loiro, meio pérola. Acenou-me com os braços e meio desengonçado se levantou entornando o café da xícara: “Come, my friend! I need your help!”. Mais um louco em minha vida, caramba! Fui até ele, um tanto apreensivo, e cruzei pela mesa onde se falava da impermanência: Luis Rubira, Clarice Lispector e Sidarta Gautama pareciam se divertir. “Mr. Paul, help me!”. “How can I help you?”, perguntei com meu inglês fajuto. De repente, ele parou em silêncio. Olhou pela janela e vi que trancou a respiração, começou a suar e a ficar numa vermelhidão daquelas. “I suffer from gases. I fart nonstop. I’m a pig!”. E agora, minha Nossa Senhora de Guadalupe?, pensei com meus botões. Tentei aliviar a situação: “O senhor podia falar em português? Meus sete leitores preferem este idioma!”. “Oh, mass clauro! I manja portiuguis!”. E assim emendou um papo surreal. “My name is Trump, Donald Trump. The president of America!”. E levantou-se batendo continência para si mesmo e com seu corpanzil ameaçou imitar a estátua das lojas Havan. “I usa estas máscauras para non ser reconhecidou! I estauva de viagem, you know, a travel, and I got lost. Am I in Small Balls town?”. “Pelotas”, respondi. O grandalhão do topete, sem mais nem menos começou a chorar. Trancou a respiração, olhou pela janela com os olhos banhados e percebi um leve sorriso quando flagrou a performance do, sei lá, prefeito de Porto Alegre e os panfletinhos do senador. “Help me. I do not to want to fart! Me non tem mais amigous, only Kim Jong-un, mas me non gostar do cabelo dele!”. “Pois é, presidente... Quem sabe tu tiras a máscara para eu ver o teu verdadeiro rosto?”. Sem hesitar, Trump a retirou de seu rosto. Que susto! Havia outra máscara sob esta primeira. Ele retirou a segunda, a terceira, a quarta... “Mas o que é isso?”, perguntei. “I’m afraid. I have many masks superpostas. Non acabam mais. Elas me proutegem de mim mesmo, of questions e da vergonha, do you undestand me? Shame, shame, cowardice. I have the power! I’m a pig. And I cry because me goustaria de fazer do world uma grande America, only mine, without mexicans, black men, women, muslims, art, education and public health. My amusement park, where I can kill people! But, I can not yet!”. Há um louco, um tirano, um imbecil por detrás de todas estas máscaras. Ia dizer isso a ele quando ele fixou o olhar em meu rosto e trancou a respiração. “I’m a big pig!” Lembro-me vagamente de quando levantou levemente a nádega direita. Um estrondo, fedor, pavor e escuridão.
(*) Texto publicado no livro “Não vá ao supermercado nos domingos” (ed. Traços&Capturas – 2019).








