VÍTIMAS DA TIRANIA: VLADO, TIM LOPES, DOM PHILLIPS E OS MAIS DE 240 JORNALISTAS MORTOS EM GAZA
- Alexandre Costa

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Atualizado: há 3 dias

por Alexandre Costa | EsquinaDemocratica.com.br
O uso da força para calar a notícia e silenciar a imprensa tem feito vítimas em diversas partes do planeta. Ao longo do tempo, a violência interrompeu a vida de jornalistas no mundo inteiro. No Brasil, Vladimir Herzog, Tim Lopes e Dom Phillips foram assassinados em diferentes circunstâncias, em períodos distintos da história, com grande repercussão dentro e fora do país. Por trás destas e de muitas outras mortes está a tirania insana e o poder sanguinário que se instalou nos porões dos quartéis, na ditadura militar; em meio as facções que disputam territórios, nas favelas; ou através da exploração da Amazônia pelo crime organizado.
No entanto, nada se compara aos 240 jornalistas mortos durante os ataques de Israel à faixa de Gaza. O genocídio do povo palestino também será lembrado como a maior carnificina de jornalistas da história moderna.
VLADIMIR HERZOG: A FARSA DO SUICÍDIO
No próximo sábado, dia 25 de outubro, se completam 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, conhecido como Vlado, morto nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. O regime militar forjou um suicídio, mas a farsa ruiu diante de provas e testemunhos.
Vlado se tornou símbolo de uma geração de profissionais que enfrentou censura, tortura e morte em nome da verdade.
O Le Monde Diplomatique Brasil publicou o ensaio “Jornalistas comunistas e do PCB na luta contra a ditadura civil-militar”, reconstituindo os percursos de repórteres que desafiaram o silêncio imposto pela repressão (Diplomatique). “O corpo de Vlado contou uma verdade que a ditadura tentou esconder”, ressaltou a autora do artigo, a historiadora Mônica Mourão, que está fazendo o documentário Vozes da Resistência. Além de professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Mônica integra o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.
TIM LOPES: NARCOTRÁFICO DESAFIOU O ESTADO
Em 2002, o repórter Tim Lopes, da TV Globo, foi sequestrado, torturado e assassinado por traficantes enquanto investigava o tráfico e o abuso de menores no Rio de Janeiro. O caso mobilizou o país, expôs a fragilidade da cobertura em áreas dominadas por facções e abriu um debate sobre o papel do jornalismo nas periferias. Duas décadas depois, a impunidade estrutural e a ausência de políticas de proteção continuam sendo marcas da profissão.
CRIME ORGANIZADO NA FLORESTA
Em 5 de junho de 2022, o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira foram assassinados no Vale do Javari (AM). Três anos depois, as famílias ainda esperam justiça. A Repórteres sem Fronteiras (RSF) cobrou das autoridades brasileiras a conclusão do julgamento e novas garantias de segurança para comunicadores ambientais RSF.
O caso marcou um ponto de inflexão: a Amazônia passou a ser vista como uma das regiões mais perigosas do mundo para jornalistas, ativistas e defensores da floresta. No mesmo dia em que completavam três anos da tragédia, o The Guardian lançou o podcast “Missing in the Amazon”, revisitando os últimos dias de Dom e Bruno e o impacto das investigações internacionais.
GAZA: A MAIOR CARNIFICINA DE JORNALISTAS DA HISTÓRIA
Entre 2023 e 2025, o território palestino se tornou o cenário mais letal do planeta para a imprensa. A Repórteres sem Fronteiras apresentou ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em 30 de setembro de 2025, sua quinta queixa formal por crimes de guerra cometidos contra jornalistas pelo exército israelense (RSF – denúncia ao TPI).
Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), pelo menos 240 profissionais e trabalhadores de mídia foram mortos entre outubro de 2023 e outubro de 2025 — número superior às mortes registradas em toda a guerra do Vietnã (60–80) e próximo ao total contabilizado em duas décadas de guerra no Iraque (228–242). Mesmo a Segunda Guerra Mundial, com todos os seus campos e censuras, não produziu registro comparável em tão curto período.
TONELADAS DE BOMBAS E GENOCÍDIO
Total de explosivos: Em meados de 2024, relatórios apontavam que a tonelagem de bombas lançadas por Israel em Gaza superou a quantidade total lançada em Dresden, Hamburgo e Londres combinadas na Segunda Guerra Mundial.
Gaza: Mais de 70.000 toneladas até abril de 2024.
London Blitz (1940-1941): Cerca de 18.300 toneladas.
Hamburgo (1943): Cerca de 8.500 toneladas.
Dresden (1945): Cerca de 3.900 toneladas.
Densidade dos bombardeios: As bombas de Israel foram lançadas sobre uma área muito menor do que as cidades europeias bombardeadas na Segunda Guerra Mundial. Essa densidade resulta em uma destruição mais concentrada, especialmente porque Gaza já é uma das áreas mais densamente povoadas do mundo.
Armas nucleares: Em novembro de 2023, o Euro-Med Human Rights Monitor estimou que 25.000 toneladas de explosivos lançadas sobre Gaza equivaliam à força de duas bombas nucleares como a de Hiroshima, que teve uma força equivalente a 15.000 toneladas de explosivos.
COMPARAÇÃO DE GAZA COM O VIETNÃ
Volume total: Embora o total de toneladas de bombas lançadas pelos EUA no Vietnã ao longo de oito anos seja maior (mais de 5 milhões de toneladas), a densidade de bombardeios em Gaza é significativamente superior.
Densidade por área: A densidade explosiva em Gaza pode ser até 18 vezes maior do que a usada pelos EUA no Vietnã. Um analista do Pentágono declarou que o nível de bombardeios concentrados em uma área tão pequena não era visto desde o Vietnã ou a Segunda Guerra Mundial.
Tamanho e tipo de bombas: Em Gaza, Israel tem usado, predominantemente, bombas de 1.000 a 2.000 libras. Analistas notaram que a taxa de uso dessas grandes bombas em uma área pequena é incomum e contribuiu para o alto número de vítimas civis e a destruição massiva.
COMPARAÇÃO DE GAZA COM A GUERRA RÚSSIA X UCRÂNIA
Entulho e danos: Em termos de destruição física, a quantidade de entulho em Gaza é maior do que na Ucrânia, apesar de a linha de frente ucraniana ter quase 1.000 km, enquanto Gaza tem apenas cerca de 40 km de extensão. A ONU estimou 37 milhões de toneladas de escombros em Gaza em maio de 2024.
Tipo de armamento: Enquanto a guerra na Ucrânia envolve muitos drones, mísseis e bombas planadoras (muitos interceptados), a campanha de bombardeio de Israel em Gaza tem usado uma alta proporção de bombas não guiadas ("bombas burras"), o que especialistas apontaram como "chocante" para um país que se considera uma democracia moderna
Fontes e links para checagem:

— RSF | Três anos sem Dom e Bruno: proteção a jornalistas ambientais: rsf.org — Le Monde Diplomatique Brasil | Jornalistas comunistas e do PCB na ditadura: diplomatique.org.br — RSF | Quinta queixa ao TPI por crimes contra jornalistas em Gaza: rsf.org
— CPJ | Journalists killed in Israel-Gaza-Lebanon conflict: cpj.org — The Guardian | Missing in the Amazon (2025): theguardian.com — Corte Interamericana / Vladimir Herzog: oas.org
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