Apesar das variantes Delta e Ômicron, que seguem levando a pandemia da Covid adiante e nos impondo o retorno às antigas restrições, como lockdown, distanciamento físico e uso de máscara em espaços abertos, os altos índices de vacinados com as duas doses, mais o reforço, apontam para uma queda no número de internações graves e óbitos. Isso porque a vacina tem feito a sua parte, nos protegendo dos sintomas mais severos e nos imunizando para as novas variações perversas do vírus. Apesar de todas as evidências científicas mostrarem os benefícios da vacinação em massa para conter a pandemia e diminuir drasticamente o número de infectados e de mortos, ainda é grande a quantidade de negacionistas que insistem em recusar a vacina.
Casos como o da cantora Hana Horka, que se infectou voluntariamente acreditando que assim se livraria da doença e do comprovante de vacina, mas terminou morrendo, são emblemáticos de como o negacionismo persiste entre nós. Importante que não baixemos a guarda e mostremos ao mundo que o caminho da ciência é o caminho pela cura, pela vida e pela democracia. Foi o que aconteceu com Novak Djokovic, o tenista número 1 do mundo, que não se vacinou e acabou sem participar do torneio mundial de Tênis na Austrália e foi deportado para Sérvia, por colocar em risco os seus colegas.
No Brasil acabo de ler que a atriz Elisângela, defensora ferrenha do movimento antivacina, está em estado grave por conta de sequelas da Covid e precisou ser entubada. Ela é mais uma que se negou a tomar as duas doses do imunizante afirmando que esta é uma decisão particular. Ora, esse é um dos argumentos mais estúpidos que esse povo desinformado e arrogante usa para justificar sua recusa em se vacinar. Está provado que as internações mais graves nas UTIS e as mortes, no mundo inteiro, tem atingido as pessoas que não receberam nenhuma dose da vacina.
Há muitos casos de mulheres internadas nas UTIS ou morrendo que culpam os maridos autoritários e ignorantes por não permitirem que ela nem os filhos se vacinassem. Infelizmente o arrependimento chega tarde demais, e muitos antivacinas só de dão conta do próprio erro quando estão prestes a serem entubados. Percebo, constrangida, que tenho um conhecido que se recusou se vacinar alegando não saber o que tem dentro da vacina. Ele e todos que negam as evidências científicas da vacinação em massa como medida eficaz de interromper a contaminação e a mortandade pela Covid, tem mais medo da vacina que do vírus. Seria cômico se não fosse trágico.
Agora, há pouco, estava tentando argumentar com a minha cunhada que vive na França e, eu soube ontem, que ela não tinha se vacinado nem as minhas duas sobrinhas. Sem qualquer argumento plausível para uma decisão que coloca em risco a sua vida, a das suas filhas e de muitos outros, ela simplesmente me pediu que respeitasse a sua decisão. Ora, mas não se trata de respeitar uma decisão particular, quando essa decisão impacta no coletivo e diz respeito a imunidade de toda a sociedade. Sinceramente, é muita infantilidade e egoísmo seguir nesta linha de raciocínio. Confundir liberdade com irresponsabilidade é vergonhoso e dá a medida de insensatez com que essas pessoas tratam a doença. Além de triste, estou chocada, pois nunca imaginei que minha cunhada, supostamente esclarecida, inteligente, sensível e morando no primeiro mundo teria aderido a uma visão tão atrasada e deturpada sobre um tema tão importante.
Fico imaginando o que elas farão quando quiserem viajar mais adiante, ou se desejarem ir a um concerto, cinema, ou espetáculo teatral sem passaporte vacinal? Ficarão devidamente isoladas. Evidente que se elas consideram que a decisão de não se vacinar é um direito seu, terão que aceitar que é um direito da sociedade evitar que não vacinados adentrem em locais públicos e coloquem em risco a saúde alheia.
A liberdade de um termina quando começa a liberdade do outro. Esse ditado nunca me pareceu tão oportuno quanto agora. Em tempos nos quais o negacionismo parte do próprio governo brasileiro, que tem feito de tudo para desmontar e atrasar ao máximo o esquema vacinal, não admira que tenhamos tantos adeptos do movimento antivacina. Por isso, sinto um grande alívio a ver os depoimentos lúcidos, emocionados e emocionantes das crianças de 5 a 11 anos ao receberem a sua primeira dose.
Fico chateada pelo meu amigo e pelas minha familiares, mas devo exaltar em alto e bom som: negacionistas não passarão!
Porto Alegre, 21 de janeiro de 2022.
(*) Nora Prado é atriz, poeta, professora de interpretação para Teatro e Cinema, atuou na Escola das Artes do Palco - SP.
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