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GOVERNO TRUMP E A VERSÃO MODERNA DA OPERAÇÃO CONDOR: TAXAÇÃO, PRESSÕES, AMEAÇAS E SANÇÕES À ECONOMIA BRASILEIRA

POR ALEXANDRE COSTA | ESQUINADEMOCRATICA.COM.BR

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O governo dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, anunciou a aplicação de uma sobretaxa de 40% sobre os produtos brasileiros exportados ao país, que já estavam sujeitos a uma tarifa de 10%. O aumento das tarifas, as ameaças de sanções e a tentativa de violar a soberania brasileira, faz lembrar do aporte norte-americano em apoio às ditaduras que assombraram a América Latina nas décadas de 60 e 70. O alinhamento de Trump a Bolsonaro tornaram o atual cenário político uma espécie de versão moderna da Operação Condor. A comparação é apenas uma metáfora que traz à memória a barbárie dos anos de chumbo e o medo de que a história de repita.

A sobretaxa foi acompanhada por uma série de ações e declarações que colocam em xeque o respeito dos EUA à democracia do Brasil e ao Estado de Democrático de Direito e às suas leis. Entre elas, estão acusações infundadas de ataques à liberdade de expressão, usadas como pretexto para proteger os interesses das big techs norte-americanas; interferências no processo judicial contra Jair Bolsonaro pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023; e até suspeitas de ataque especulativo ao Real, que teria gerado lucros bilionários a grupos com acesso privilegiado a informações (U.S. Treasury – comunicado, OFAC – sanção a Moraes, Reuters – sanções e mercado).

Segundo comunicado da Casa Branca, a medida seria uma resposta a ações do governo brasileiro que, na avaliação dos EUA, representam uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional, à política externa e à economia norte-americana (White House).

Diante desse cenário, foram realizadas manifestações e atos em locais públicos e em frente a representações diplomáticas dos Estados Unidos (Reuters).


CENÁRIO GERAL: TARIFAS, SANÇÕES E EXIBIÇÃO DE FORÇA

O pacote anunciado no fim de julho incluiu a tarifa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros, com exceções (aeronaves civis, itens de energia, polpa de madeira, entre outros) e início em 6/8. Paralelamente, o governo americano sancionou Alexandre de Moraes com base na Global Magnitsky. Leia: White House – ordem e vigência, Reuters – resumo e setores poupados, OFAC – inclusão na SDN List, Comunicado do Tesouro.

BRASIL RESISTE: PIB, FOCUS E AJUSTES DE ROTA

Os impactos macroeconômicos vêm sendo amortecidos por exceções tarifárias e por diversificação de destinos (China é o principal parceiro comercial). Análise da Reuters indica que a economia “aguenta o tranco” justamente por essa combinação. O Boletim Focus (BCB) segue apontando crescimento em 2025 e inflação em torno de 5% (mediana), com revisões semanais. Leia: Reuters – economia brasileira “pronta para suportar”, BCB – página do Focus.

Reorganização setorial. Caso emblemático é o sebo bovino: com a tarifa, a exportação aos EUA ficou antieconômica, e a demanda doméstica para biodiesel tende a subir, absorvendo parte da oferta. Leia: Reuters – sebo para biodiesel deve ganhar espaço.

TRUMP, BOLSONARISMO E A DISPUTA PELA NARRATIVA

A estratégia de Washington politizou a pauta comercial ao atrelar tarifas e sanções a processos internos no Brasil — algo explicitado no press release do Tesouro ao sancionar Moraes. No Brasil, bancos e empresas pediram segurança jurídica para não aplicarem sanções estrangeiras sem base legal doméstica.Leia: Tesouro dos EUA – nota sobre Moraes, Reuters – debate regulatório no Brasil.

PRÁTICAS DE AMEAÇA: O CARIBE E A VENEZUELA (2025)

Em agosto, os EUA enviaram três destróieres (USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson) para o entorno do Caribe/Venezuela, sob a justificativa de operação antinarcóticos. Caracas reagiu denunciando provocação e mobilizando milicianos; a movimentação reavivou discussões regionais sobre soberania e dissuasão.Leia: AP News – destróieres e reação de Maduro.

MECANISMOS DE LEGITIMAÇÃO: DO IRAQUE AO PRESENTE

Há um padrão histórico no uso de justificativas humanitárias ou de segurança para ações de força. O Relatório Chilcot (Reino Unido) concluiu que a decisão de invadir o Iraque (2003) foi tomada com falhas de inteligência e opções pacíficas não exauridas — alerta metodológico para checar versões oficiais.Leia: Relatório Chilcot – GOV.UK.

A INDÚSTRIA ARMAMENTISTA E O TETO DE VENDAS

A política externa dos EUA opera em sinergia com o complexo industrial-militar. Em 2024, as vendas americanas de equipamentos militares a governos estrangeiros atingiram US$ 318,7 bilhões (soma de FMS + DCS), recorde histórico. No período 2020–2024, os EUA responderam por 43% das exportações globais de armamentos. Leia: Departamento de Estado – balanço de vendas 2024, DSCA – dados de FMS, Reuters – recorde de 2024, SIPRI – participação 2020–24.

Isso não prova que cada crise é “fabricada” para vender armas, mas dimensiona o peso econômico e o efeito diplomático do setor de defesa na estratégia de Washington.

EFEITOS CONCRETOS NO COMÉRCIO BRASIL–EUA

O pacote não é monolítico: além do “piso” de 50%, há exclusões relevantes, o que ajuda a explicar por que não se projeta colapso do PIB. Exportadores têm redirecionado fluxos (ou intensificado consumo interno), enquanto o governo aciona a via diplomática e multilateral. Leia: Reuters – exceções e impacto menor que o previsto, Reuters – por que a economia “aguenta”, Reuters – retomada de petróleo após isenções, Reuters – sebo para biodiesel.

LINHA DO TEMPO (JUL–AGO/2025)

  • 30/7 — Sanções dos EUA a Alexandre de Moraes sob a Global Magnitsky.Fonte: OFAC/Tesouro | Comunicado do Tesouro

  • 31/7 — Ordem executiva formaliza o adicional de 40 p.p. (com exceções), efetivo em 6/8.Fonte: Casa Branca | Reuters

  • 5/8 — Análise: economia brasileira “aguenta o tranco” por isenções e por China.Fonte: Reuters

  • 26/8 — Venezuela reage a destróieres dos EUA no Caribe; tensão regional.Fonte: AP News

O QUE FICA PARA O BRASIL

Estratégia recomendada no curto e médio prazos:

  1. Diversificar clientes e rotas (Ásia, BRICS);

  2. Usar trilhas multilaterais (OMC) e diplomacia setorial para exceções;

  3. Garantir segurança jurídica interna para bancos/empresas (sanções estrangeiras ≠ aplicação automática);

  4. Política industrial verde, aproveitando realocações (ex.: biodiesel). Leituras: Reuters – economia e China, Reuters – debate regulatório, BCB – Focus.

FONTES-CHAVE (acesso rápido)

  • Tarifas & exceções (vigência 6/8): Casa Branca, Reuters.

  • Sanção a Moraes (GLOMAG): OFAC/SDN, Comunicado do Tesouro.

  • PIB/inflação – Focus: BCB.

  • Sebo/biodiesel: Reuters.

  • Destróieres e Venezuela: AP News.

  • Vendas de armas (recorde 2024) e liderança global: Departamento de Estado, DSCA, Reuters, SIPRI.

  • Iraque/Chilcot: GOV.UK. BREVE HISTÓRICO DO IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO América Latina

    • Guatemala (1954) — Operação PBSUCCESS derruba Jacobo Árbenz. Justificativa oficial: “ameaça comunista”. Documentos desclassificados mostram o papel da CIA e o contexto de pressões da United Fruit Company sobre Washington. arsof-history.orgnsarchive.gwu.edu

    • Brasil (1964) — Apoio logístico/político dos EUA ao golpe; “Operação Brother Sam”. Base em despachos e registros desclassificados. PHR

    • Chile (1970–73) — Campanhas secretas para bloquear Allende (Projeto FUBELT) e, depois, o golpe de 1973. Conjunto amplo de documentos desclassificados; depois, a Operação Condor teve conhecimento/gestão diplomática norte-americana (incluindo instruções de Kissinger posteriormente revertidas). nsarchive2.gwu.edu+3nsarchive2.gwu.edu+3nsarchive2.gwu.edu+3nsarchive.gwu.edu

    • República Dominicana (1965) — Desembarque de ~22 mil militares dos EUA; justificativas: proteger cidadãos dos EUA e impedir “ameaça comunista”. Base FRUS/Office of the Historian. 2001-2009.state.gov

    • Granada (1983) — Invasão (“Urgent Fury”) para depor governo alinhado a Cuba/URSS e “proteger estudantes”. Histórico do Exército dos EUA. nsarchive.gwu.edu

    • Panamá (1989) — “Just Cause” para deter Noriega, proteger cidadãos/Tratado do Canal. Registros militares e análises de direitos humanos sobre custos civis. nsarchive2.gwu.edu+1

    • Nicarágua (anos 1980) — Financiamento/treinamento dos Contras e escândalo Irã-Contras; manual de guerra psicológica da CIA. history.army.miljcs.mil

    • Operação Condor (Cone Sul, 1975–80) — Coordenação repressiva entre ditaduras; documentos dos EUA revelam ciência e interações diplomáticas de alto nível. nsarchive.gwu.edunsarchive2.gwu.edu+1

    Oriente Médio e Norte da África

    • Irã (1953) — CIA reconhece papel no golpe contra Mossadegh; justificativa da época: conter nacionalismo do petróleo “capturado” pelo comunismo. Wikipedia

    • Iraque (2003) — Justificativa: WMD/terrorismo. Pós-guerra, relatórios oficiais concluíram que a certeza sobre WMD foi injustificada e que opções pacíficas não haviam se esgotado (EUA/UK). Congress.govGoverno do Reino UnidoResearch Briefings

    • Líbia (2011) — Intervenção aérea da OTAN amparada na Resolução 1973 do CS-ONU (“proteger civis” / no-fly zone). main.un.org

    • Síria (2013–2017) — Programa covert da CIA para armar/treinar rebeldes anti-Assad (“Timber Sycamore”), encerrado em 2017. The Washington Post

    Ásia (Guerra Fria/Indochina)

    • Vietnã (1964–) — O incidente do Golfo de Tonkin foi mal interpretado/relatado; estudo histórico desclassificado da NSA corrige a narrativa. nsarchive.gwu.edu

    • Camboja (1969–73) — Bombardeios secretos (“Menu”) durante a guerra do Vietnã; documentação desclassificada. nsarchive.gwu.edu

    África

    Europa

    • Kosovo/OTAN (1999) — Operation Allied Force sem autorização explícita do CS-ONU; justificativa humanitária; vasto debate jurídico. OTANdigital-commons.usnwc.edu

    Padrões que aparecem nas justificativas oficiais

    Interesses estruturais frequentemente apontados por pesquisadores

    • Recursos e negócios: caso clássico é Guatemala/United Fruit; Irã/petróleo após nacionalização. (Leituras críticas baseadas em docs desclassificados.) nsarchive.gwu.eduWikipedia

    • Complexo industrial-militar e exportações de armas: os EUA foram o maior exportador global (43%) em 2020–24, segundo o SIPRI; o governo também reporta volumes recordes de Foreign Military Sales (FMS) em 2023–24. Isso não prova causalidade entre cada intervenção e vendas, mas mostra um pano de fundo econômico relevante. SIPRIDepartamento de Estadodsca.mil

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