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Foto do escritorAlexandre Costa

E NO ENTANTO ELA SE MOVE, POR JORGE BRANCO (*)


“Conta-se que, depois de Galileu fazer seu juramento ajoelhado com as mãos na bíblia, rejeitando a teoria de que a Terra se move ao redor do Sol, ele teria resmungado as célebres palavras: e por si muove, no entanto ela se move”.[1]


Neste domingo, dia 23 de outubro de 2022, oito dias antes da eleição que escolherá o presidente da República, o Brasil foi sacudido por uma resistência armada contra policiais federais que cumpriam ordem judicial de prisão, proferida pela Suprema Corte brasileira. Em verdade, um atentado terrorista contra o já questionado Estado Democrático de Direito.


Longe de um ato irracional, é a continuidade de uma sequência ascendente de tentativas de estabelecimento do terror como instrumento político. O assassinato do militante petista em Foz do Iguaçu (PR), a convocação para atos armados e uma série de relatos de violência se somam ao impressionante fogo de barragem de notícias falsas e a aposta nos medos medievais, preconceitos e valores ultrarreacionários.


A criação de uma situação de pavor, sustentada por um exército disposto a espalhar o medo, é a estratégia eleitoral essencial do bolsonarismo. Trata-se de uma tática eleitoral que aposta nos mitos conservadores da sociedade brasileira para virar o jogo eleitoral, neste segundo turno. Porém, seu alcance vai além da eleição, na hipótese indesejada da vitória de Bolsonaro. Esta onda de terror, tal e qual na Alemanha da década de 1930, tem o objetivo de preparar o ambiente político para um governo de terror. O conteúdo já está anunciado: aprofundamento da reforma trabalhista e previdenciária, a perseguição aos movimentos sociais, o empobrecimento acelerado, fim do Estado laico, molestamento e asfixiamento da ciência e das universidades, violência estatal e paraestatal.


Mas, no entanto, a Terra se move assim como se movem as forças democráticas, a resistência ao fascismo nestas eleições. Lula reúne as maiores possibilidades de vencer este segundo turno, não por acaso. A candidatura de Lula é a expressão da resiliência das forças populares brasileiras. Acantonadas por uma crise econômica e uma operação política de caráter golpista, as forças democráticas e populares resistiram e reagiram à essa ascensão consentida da extrema direita.


Diferente das forças democráticas, a centro-direita está pagando seus pecados por ter sido corresponsável pela ascensão do neofascismo e reacionarismo no país. Mal votada, diminuída, tem imensas dificuldades em aglutinar suas bases eleitorais e seus partidos em defesa da democracia. Enquanto Simone Tebet ou Fernando Henrique Cardoso tentam salvar parte de seu espólio, grande parte de seus partidos aderiram ao candidato da extrema direita e abandonaram a defesa da democracia.


A hora é agora! O esforço para evitar o pior tem que ser feito nesta semana, neste domingo! As consequências de um desastre - a vitória do candidato reacionário - seriam muito maiores de que um simples governo. Se fariam sentir sob a onda de um imenso retrocesso das conquistas sociais e civilizatórias alcançadas com o fim da ditadura civil-militar de 1964.


Ainda que a desigualdade no Brasil seja das maiores do mundo, a luta democrática e dos movimentos populares fez com que essa desigualdade tenha diminuído]. Precisamos negar o governo ao fascismo para que possamos frear essa regressão. Temos muitas imprecisões acerca de como retomaremos o caminho da evolução, mas isto veremos depois. O que importa agora é impedir que a Terra pare de se mover!


[1] TONELO, Iuri. No entanto ela se move: a crise de 2008 e a nova dinâmica do capitalismo. São Paulo: Boitempo/Iskra, 2021, página 261

[2] ARRETCHE, Marta (org.). Trajetórias das desigualdades: como o Brasil mudou nestes últimos cinquenta anos. São Paulo: Editora Unesp, 2015.


(*) Jorge Branco é Sociólogo, Mestre e doutorando em Ciência Política. Diretor Executivo da Democracia e Direitos Fundamentais.

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