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DISTÂNCIA ENTRE SUL E NORDESTE APROXIMA O QUE HÁ DE MAIS CRUEL NO BRASIL

Foto do escritor: Alexandre CostaAlexandre Costa

por Alexandre Costa

Pouco mais de 3.600 quilômetros separam as cidades de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, e Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. Apesar da distância entre o Sul e o Nordeste, as duas cidades protagonizaram, recentemente, casos brutais de violação de direitos humanos. Enquanto a cidade da serra gaúcha virou manchete em todo Brasil, em função do resgate de 150 trabalhadores em situação degradantes e análoga à escravidão, o município pernambucano virou notícia após um médico recém-formado desmaiar devido ao excesso de treinamentos físicos e às agressões sofridas no Exército. O médico, que foi identificado na reportagem publicada no site Marco Zero, apenas como F., estava há uma semana na formação do 14º Batalhão de Infantaria Motorizado em Jaboatão dos Guararapes, comandado pelo tenente-coronel Joel Cajazeira Filho, quando foi obrigado a fazer de 150 a 200 polichinelos, sequências de flexões e depois correr por três quilômetros. De acordo com relatos de colegas, ele chegou a cair por três vezes durante o percurso e foi obrigado pelos militares a seguir, sendo agredido por tapas. Da quarta vez, ele não se levantou. Era o terceiro dia de treinamentos físicos da formação quando F. passou mal, na quarta-feira, dia 8 de fevereiro. “Na série de polichinelos ele já começou a pedir para parar. Aí deram um tapa nele. Nenhum dos colegas médicos teve permissão para atendê-lo”, conta a mãe, que também é da área de saúde e pediu para não ser identificada na reportagem.


TORTURA Uma tia de F. fez um desabafo que circula nas redes sociais e ajudou a dar repercussão ao caso. Ela contou que os aspirantes são submetidos a torturas diárias, além de constrangimento moral e psicológico. "Em pleno 2023 ainda acontecendo esse tipo de coisa em treinamento das Forças Armadas. O que querem formar? Será que desejam formar cidadãos ou levar à exaustão, até a morte, seres humanos que escolheram salvar vidas?”, questionou a tia do rapaz.


TRABALHO ESCRAVO Na serra gaúcha, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) resgatou centenas de trabalhadores, na noite quarta-feira (22), em condições degradantes, notícia que teve grande impacto no Brasil e no mundo. O responsável pela empresa, que mantinha esses trabalhadores nessas condições, segundo a polícia, foi preso e encaminhado para a delegacia da Polícia Federal (PF) em Caxias do Sul e depois para um presídio em Bento Gonçalves. Ele tem 45 anos de idade e é natural de Valente (BA).


A empresa tem contrato com diversas vinícolas da região e os trabalhadores eram usados na colheita da uva. Após desembarcarem no estado, estes trabalhadores encontravam uma situação diferente das prometidas pelos recrutadores. Além de salários atrasados, existem relatos de violência física, jornadas longas e extenuantes e tratamento desumano com oferta de alimentos estragados. Também eram coagidos a permanecer no local sob a pena de pagamento de uma multa por quebra do contrato de trabalho.


A distância entre Bento Gonçalves e Jaboatão dos Guararapes apenas aproxima a crueldade que pulsa em todo Brasil e que faz vítimas entre ianomâmis, jovens negros das periferias, mulheres vítimas de feminicídio e outras dezenas de pessoas que estão fora dos padrões e à margem das convenções estipuladas pela sociedade arcaica, retrograda e conservadora do nosso país.

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