DIA INTERNACIONAL DA DEMOCRACIA DIANTE DAS CONDENAÇÕES DOS GOLPISTAS NO BRASIL E DO NÚMERO DE JORNALISTAS MORTOS EM GAZA
- Alexandre Costa
- há 4 dias
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POR ALEXANDRE COSTA | ESQUINADEMOCRATICA.COM.BR

O Dia Internacional da Democracia, celebrado em 15 de setembro, escancara a encruzilhada entre avanços e retrocessos. No Brasil, a condenação de Jair Bolsonaro e de seus aliados pelo STF é uma vitória contra a tentativa de golpe. A democracia resiste, mas revela também sua fragilidade diante da intolerância e do autoritarismo. Ao olhar para o Oriente Médio, Israel mostra ao mundo a dimensão desumana, cruel e impiedosa do massacre do povo palestino.
O julgamento e a condenação dos golpistas é uma vitória emblemática, principalmente diante dos riscos do Brasil voltar no tempo e reviver velhos novos anos de chumbo. Durante os 21 anos de ditadura militar no Brasil, jornalistas foram perseguidos, torturados e mortos. Vladimir Herzog foi torturado até a morte nas dependências do Destacamento de Operações Internas - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo, no dia 25 de outubro de 1975. Sua morte, ocorrida durante a ditadura militar no Brasil, tornou-se um símbolo da luta por justiça e redemocratização.
O massacre no Oriente Médio faz lembrar holocausto. Além do genocídio contra o povo palestino, nunca tantos jornalistas foram mortos em tão pouco tempo. A morte de mais de 200 jornalistas é uma forma de enterrar a verdade, confirmando uma máxima que diz: a disputa pela versão dos fatos faz parte da luta pela hegemonia das informações.
GENOCÍDIO DAS NOTÍCIAS
Em Gaza, a escalada da violência transformou a imprensa em alvo preferencial. Organizações como o CPJ, a RSF, a IFJ e a própria ONU já classificaram o conflito como o mais letal da história para jornalistas, com números que variam entre 189 e mais de 270 mortos desde 2023. A Al Jazeera mantém uma lista nominal que expõe a dimensão da tragédia.
Trata-se de um verdadeiro genocídio das notícias: ao eliminar jornalistas, elimina-se também a possibilidade de testemunho, multiplicam-se versões únicas e cala-se a pluralidade.
JORNALISTAS E A DITADURA
No Brasil, a memória da ditadura mostra que a lógica é a mesma: Herzog e tantos outros foram mortos para que a verdade não circulasse. Em diferentes geografias e tempos, atacar jornalistas é atacar a própria democracia.
A Comissão da Verdade dos Jornalistas (FENAJ) identificou 27 jornalistas mortos ou desaparecidos, enquanto o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo resgatou 25 biografias. Relatórios apontam ainda 150 casos de perseguição, entre prisões, torturas e exílios. Em uma amostra de 50 casos analisados, a FENAJ documentou 16 episódios de tortura e 30 de prisão.
MORTOS E DESAPARECIDOS (1964–1985)
1964
João Paulo de Araújo — jornalista, morto após perseguição inicial ao golpe.
1965
Luiz Maranhão Filho — jornalista, dirigente do PCB, desaparecido político.
1969
Edson Luís de Lima Souto — estudante secundarista, colaborador de jornais estudantis, morto em manifestação no Rio de Janeiro.
1970
João Batista Franco Drummond — jornalista e militante, morto após sessões de tortura em Brasília.
José Montenegro de Lima — repórter, desaparecido em ação repressiva.
1971
Luiz Eduardo da Rocha Merlino — repórter da Folha da Tarde, morto em 19/07/1971 após tortura no DOI-CODI/SP.
João Bosco Burnier — jornalista e padre jesuíta, assassinado em Cuiabá.
1972
Pery de Andrade — escritor e jornalista, morto sob custódia.
José Ferreira de Almeida — jornalista e militante, assassinado em 1972.
1973
Paulo Stuart Wright — ex-deputado, jornalista e professor, desaparecido político.
Honório de Freitas Guimarães — jornalista do PCB, morto em 1973.
Alexandre Vannucchi Leme — estudante de geologia, colaborador de jornais estudantis, morto em 1973.
1974
Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira — jornalista e funcionário público, desaparecido em 1974.
João Leonardo da Silva Rocha — jornalista e militante, assassinado.
1975
Vladimir Herzog — diretor de jornalismo da TV Cultura, morto em 25/10/1975 sob tortura no DOI-CODI/SP.
Nestor Vera — jornalista e professor, desaparecido em 1975.
Orlando Bonfim Júnior — repórter, militante, assassinado em 1975.
José Montenegro de Lima — jornalista, desaparecido em 1975.
1976
Manoel Fiel Filho — operário gráfico e colaborador de imprensa sindical, morto em 17/01/1976 após tortura no DOI-CODI/SP.
1977
José Duarte Pereira — jornalista e militante, morto em 1977.
1978
Heleno Fragoso — advogado e jornalista, morto em circunstâncias ligadas à repressão.
1979
Eduardo Collier Filho — jornalista e militante, morto em 1979.
1980
Nicarágua Nunes Leite — jornalista, assassinado em 1980.
1981–1985
Diversos jornalistas perseguidos e mortos em contextos regionais (Nordeste, Rio, São Paulo), registrados pela FENAJ como desaparecidos.
OBSERVAÇÃO METODOLÓGICA
A FENAJ lista 27 nomes confirmados entre mortos e desaparecidos da categoria.
O SJSP trabalha com 25 biografias, diferença explicada por critérios de inclusão (colaboradores estudantis, sindicalistas e jornalistas-professores).
A Comissão da Verdade dos Jornalistas documentou ainda 150 casos de violações (prisões, tortura, censura, exílio).

LINKS PARA CHECAGEM
— ONU: International Day of Democracy (origem da data). ONU Brasil
— IPU: Universal Declaration on Democracy (1997). ipu.org
— STF: condenação de Jair Bolsonaro (11/9/2025). Reuters
— Atribuição da frase “a primeira vítima é a verdade”. Quote Investigator
— CPJ: levantamento sobre mortes em Gaza. CPJ/Guardian
— RSF: relatório de 31/8/2025. RSF
— IFJ: atualização com ao menos 244 jornalistas mortos. IFJ
— ONU (peritos): relatório de 4/9/2025. ONU
— Al Jazeera: lista nominal de jornalistas mortos em Gaza. Al Jazeera
— Intercept Brasil: ataques a jornalistas e cobertura da Global Sumud Flotilha. Intercept Brasil— FENAJ/Comissão da Verdade: 27 mortos e desaparecidos. Fenaj
— SJSP: biografias de jornalistas mortos. Sindicato dos Jornalistas de SP
— Comissão de Anistia/FENAJ: levantamento de 50 casos (tortura e prisão). Comissão de Anistia
— Memórias Reveladas (Arquivo Nacional): Vladimir Herzog. Arquivo Nacional
— Senado: PL 6103/2023, que propõe 25/10 como Dia Nacional da Defesa da Democracia. Senado
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