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CAPÍTULO 1 — O RS QUE O BRASIL NÃO CONTA: A UNIVERSIDADE, A PERIFERIA E A HISTÓRIA NEGRA ESQUECIDA

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por Alexandre Costa | jornalista* No dia da Consciência Negra, o www.esquinademocratica.com.br oferece aos leitores uma reportagem especial sobre a presença, a história e a luta do povo negro no Brasil. Uma narrativa que começou há quase 500 anos, com a chegada dos primeiros africanos escravizados. Durante mais de 320 anos de escravidão oficial, homens, mulheres e crianças foram tratados como mercadoria. Carregaram na pele as marcas da chibata, nos ombros o peso do trabalho forçado e na alma a violência que atravessa gerações.


Com a abolição, os castigos mudaram de nome, mas não de lógica. O tronco foi substituído pelo racismo, pela invisibilidade, pela exclusão econômica, pelo preconceito institucional e pela criminalização da sobrevivência. Mesmo livres, os negros continuaram presos a desigualdades que moldam o Brasil até hoje.


Escolhemos começar esta narrativa pelo Rio Grande do Sul. Não por acaso, mas por convicção. Porto Alegre — a capital que se imagina europeia — é o exemplo mais explícito do que o racismo estrutural pode fazer com um território. Nas zonas centrais e bairros nobres, negros quase não aparecem. Na zona norte, leste e extremo sul, são maioria. A geografia da cidade é o mapa da exclusão.


O estado mais branco do país — 78,4% da população — é também um dos mais desiguais. Apenas 21,4% dos gaúchos são negros, mas eles representam 70% da população encarcerada. Jovens negros têm risco de morte três a quatro vezes maior do que a média nacional. A renda média negra é 40% menor do que a renda branca. As mulheres negras são as maiores vítimas de mortalidade materna. A universidade só passou a receber estudantes negros em números significativos depois das cotas.


E é justamente neste solo que nasce o marco simbólico que abre este especial: a homenagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul ao rapper Emicida, que receberá o título de Doutor Honoris Causa. O Festival Ufrgs Negra, em sua terceira edição, celebra a arte, a memória e a ancestralidade. Antes dele, foram homenageados Oliveira Silveira, poeta que deu ao Brasil o Dia da Consciência Negra, e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, referência nacional no ensino das relações étnico-raciais.


A escolha da Ufrgs é mais do que uma honraria. É a primeira rachadura pública numa história que insistiu em apagar o protagonismo negro. E é essa rachadura que nos permite perguntar: como se constrói o futuro quando o passado ainda não terminou?

Esse questionamento atravessa não apenas o RS, mas todo o país. O Brasil viveu mais tempo como nação escravista do que como República. E as marcas desse período estão em todas as estruturas sociais. Nada mudou por completo porque, como diz a sabedoria ancestral, o tempo não anda em linha reta — ele retorna, dobra e cobra.

É por isso que, neste primeiro capítulo, olhamos para o Sul para entender o Brasil. E no próximo, abriremos a lente para todo o território. Alexandre Costa é responsável pelo www.esquinademocratica.com.br 

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