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AGRADECIMENTO DO EX-PRESO POLÍTICO BRUNO MENDONÇA COSTA PELO PRÊMIO RUBENS PAIVA DE DIREITOS HUMANOS DA AEPPP-RS

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BRUNO MENDONÇA COSTA pretende publicar algumas “MEMÓRIAS E REFLEXÕES” relacionadas ao período em que esteve preso. O objetivo é contar detalhes sobre a sua prisão, reunindo alguns aspectos biográficos, para compreender a trajetória de vida e o surgimento de suas ideias políticas.


Porto Alegre, Plenarinho da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (28/8/2025).

Médico, turma de 1.963 da UFRGS, 88 anos, nascido em Cachoeira do Sul/RS, em

12/06/1.937, casado com Eunice Costa, especialista em psiquiatria pela UFCSPA, Mestre em

Psiquiatria pela UFCSPA, Doutor em Psiquiatria pela UFRJ, professor adjunto aposentado da

disciplina de psiquiatria da UFCSPA, fundador e decano do CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE

BARROS FALCÃO (CEJBF), instituição formadora de psiquiatras e de assistência à saúde

mental.

DISCURSO: Agradeço pelo prêmio que me é concedido e faço minha homenagem ao

Rubens Paiva, a sua companheira Eunice e a sua família.


E, de forma muito especial, ao seu neto, Chico Paiva, que nos dá a honra

de sua presença. Os ditadores matam as pessoas, mas jamais conseguirão

matar suas ideias. Mataram o teu avô, mas seu pensamento continua vivo

e tu és o continuador dele e de suas ideias.


Talvez um futuro deputado federal, ocupando a cadeira de Rubens Paiva.


Dedico este prêmio à Eunice, minha companheira, que enfrentou

valentemente meus carcereiros aqui e na OBAN, em S. Paulo, e mobilizou

pessoas e instituições na denúncia da minha prisão e na solidariedade que

se formou, salvando minha vida. Só não está aqui, porque é convalescente

de um AVC e não pode sair de casa. E também aos meus filhos, Rosangela

e Alexandre, que compreenderam a situação e transformaram a ausência


do pai em orgulho por participar da luta contra a ditadura, mesmo sendo

crianças.


Dedico este prêmio a todos os que sofreram durante os 21 anos de

ditadura e que continuam sofrendo até hoje, como a Sônia Haas que

procura o corpo de seu irmão João Carlos, desaparecido, e que foi

assassinado na guerrilha do Araguaia.


Estou recordando o Dr. João Carlos Haas Sobrinho, cuja sepultura continua

vazia em São Leopoldo/RS, negado a ele o sagrado direito de um enterro

com a dignidade e com as homenagens que merece.


Penso, Senhor Presidente, que uma ditadura produz três males principais:

Um dano de natureza social e geral - produzido em todos os indivíduos de

uma sociedade. Pessoas de todas as classes sociais. Males de caráter

social, econômico, cultural, ideológico e político.


É um retorno à barbárie, tanto naqueles que produzem a ação, como o

torturador, e naqueles que sofrem a ação, como o torturado.


Um dano de natureza física em cada indivíduo que é torturado – algo que

desaparece só na aparência. Não se sabe o quanto os choques provocam

de danos no cérebro e de prejuízos em outras partes do corpo.


Um dano de natureza psicológica irreversível, proveniente dos prejuízos

físicos e das marcas produzidas para toda a vida. Em psiquiatria chamam a

isso de Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT).


A ditadura transforma um indivíduo, que já é alienado, em alguém muito

mais alienado – fabrica um ser embrutecido que acaba considerando

natural a violência social e individual.


Um robô, obediente e sem crítica aos mandos do ditador e de seus

agentes.


Portanto, um estado que é comandado por uma ditadura, equivale a uma

regressão civilizatória.


Só a imaginação deste cenário já seria o suficiente para nossa recusa

absoluta.


Temos, assim, duas situações bem nítidas, que tornam ridícula a ideia de

“anistia recíproca”:


Há os que produzem a ação, os ditadores com diferentes graus de poder,

que vivem tensos, ansiosos e com muito medo de serem atacados.


Há os que sofrem a ação, os que são perseguidos, presos e torturados e

também vivem tensos, deprimidos, ansiosos e com medo.


Podíamos recordar o Mussolini. Mas vamos recordar brevemente apenas

um exemplo ainda maior de fascismo e de nazismo – o de Hitler.


Ele tinha insônia, ia dormir às 3 horas da madrugada. Com um medo

permanente, só comia ou bebia alguma coisa, depois do alimento ser


provado antes por seu médico de confiança. Cercado de seus seguranças

em ambiente fechado, temia que algum gás venenoso entrasse pela

chaminé da lareira para provocar sua morte.


Imaginando que ele estava trabalhando em seu gabinete até altas horas

da madrugada, o povo alemão admirava o seu “führer”.


Alienado, o povo se iludia, tornando-se ainda mais alienado. Conivente

assim, de modo consciente ou não, com os crimes que eram cometidos,

em que o holocausto foi o exemplo mais terrível.


Na história do Brasil, há poucos períodos democráticos. E, ao contrário, há

muitos períodos de ditaduras de diversos tipos.


E a nossa frágil democracia, foi e continuará sempre ameaçada pelas

mentiras e criações fantásticas dos donos do poder. A ameaça só estará

ausente quando o Brasil for de fato uma nação soberana, livre e

independente.


Todos nós, senhor presidente e queridos companheiros, a quem agradeço

pela paciência de me ouvir, estamos atualmente debaixo destas ameaças.


A última delas foi o ensaio de golpe produzido no dia 8 de janeiro, com

plano de estourar o aeroporto de Brasília, com os danos produzidos nos

prédios que simbolizam o poder da república e - mais incrível - com

planos de assassinato do próprio presidente da república, do vice-

presidente e de um ministro do STF.


E isso tudo sob a vigência de um período de democracia, que

denominamos Estado Democrático de Direito.


Desde jovem universitário como estudante de medicina, desde meu

tempo de presidente da Casa do Estudante Universitário Aparício Cora de

Almeida (CEUACA) e da FEURGS, que foi substituída pelo DCE, luto de

forma consciente contra o estado ditatorial.


E, como vocês estão testemunhando, os ditadores não nos calaram e não

nos calarão jamais.


Por isso, gostaria de pedir a este plenário que se faça uma homenagem

aos desaparecidos, como o Rubens Paiva e tantos outros, cujas famílias

merecem os devidos esclarecimentos sobre o que foi feito com seus

corpos, e a todos os que sofreram com as ditaduras em nosso país, até

mesmo para aqueles alienados que pensavam que não sofriam, e que se

faça uma homenagem agora, de pé – um repúdio às ditaduras – e em

respeito aos torturados, aos perseguidos, aos desaparecidos, aos

assassinados, e que se diga bem alto, com o punho erguido,


Ditadura nunca mais

Ditadura nunca mais

Ditadura nunca mais.

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