UM VAGAMUNDO: DE PARNAÍBA A PORTO ALEGRE
- Alexandre Costa

- 31 de ago. de 2022
- 4 min de leitura

A imagem acima é uma Intervenção Visual a partir da obra "Nuvem Branca. Chefe dos Iowas" - 1845, de George Catlin. A colagem intitulada O céu vermelho dos povos ancestrais faz parte da série O sangue ainda sangra, de Gabriel Guimard. O diretor de teatro, professor, mímico, ator, palhaço e colagista passa a integrar a equipe de colaboradores do www.esquinademocratica.com. Conheça a história deste andarilho que nasceu no Piauí, girou pelos palcos do mundo e retornou ao Brasil, onde conheceu uma gauchinha "faca na bota", como ele mesmo diz. Gabriel e Nora Prado se apaixonaram e têm dois filhos. Movido pelo sopro dos ventos do amor, o vagamundo veio parar em Porto Alegre, onde anda cavalgando pelas obras de Vasco Prado e passeando no mundo das gravuras de Zoravia Bettiol.
Gabriel Guimard, ou melhor, Vinicius Oliveira, nasceu na cidade de Parnaíba, no litoral do Piauí, cidade onde deságua o gigante Parnaíba. Existem controvérsias, mas em algumas fontes, o Rio Parnaíba, no seu abraço com o morno oceano Atlântico, forma o segundo maior delta do planeta, ficando atrás apenas do delta do Nilo. Uma maravilha da natureza, para turista nenhum botar defeito, porém muito pouco conhecido dos brasileiros. O Brasil não conhece o Brasil, já falava a música...
Antes de migrar com a família, aos 5 anos de idade para a cidade de Santo André, no grande ABCD, em São Paulo, Gabriel morou na cidade de Crateús no Ceará, no sertão do estado. Sina de viajante, itinerante, vaga mundo, andarilho, multivago, nômade, errante... Não poupou esforços para morar em 38 casas, neste átimo de 61 anos sobre a crosta terrestre.
Em 1983, já morando na capital paulista, o destino quis, que em um dia de outubro, fosse assistir o espetáculo solo do mímico alemão Nemo, no Instituto Goethe. Um espetáculo clássico de pantomima. Figurino com roupas negras, cara branca, nada no palco, nenhum adereço, e aquele artista com seu corpo e expressão ocupando toda cena e toda plateia. O garoto, que já era um rapaz, transbordou-se naquele momento, e a partir daquele instante, nada mais seria igual.
Disse para si mesmo, que com aquela arte, viajaria pelo mundo. Um sonho que acalentava há muito tempo...viajar, viajar, perder de vista o passado e o futuro, ser apenas estrada e caminho. Já tinha até tentado no porto de Santos entrar de gaiato num navio, descascando batata, mas o destino não quis que fosse desta maneira que cruzasse os oceanos.
Logo após o espetáculo de pantomima, saiu procurando imitar aquilo que tinha visto em cena. Começou a lembrar das situações, cenas, expressões do mimo Nemo, e foi desta forma autodidata que começou a trilhar o caminho da arte da mímica. Criou um repertório e na maior cara de pau, começou a propor apresentações em aniversários, festas e outros eventos. Um curso mesmo só veio aparecer quase um ano depois com a atriz e mímica Denise Stoklos. Foi outra iniciação, desvendar e descobrir segredos daquela arte. Outro salto para um galho mais alto da árvore.
Já estabelecendo-se no mercado cultural de São Paulo, Vinicius, aquele Vinicius de Parnaíba, Crateús, Santo André, resolveu que queria usar um nome artístico. Influenciado pela profunda paixão, eternas leituras de Fernando Pessoa, e toda sua heteronímia, se deu inicialmente quatro nomes, mas logo, percebendo a impossibilidade cênica de tal situação, resolveu ficar apenas com Gabriel. Mas qual sobrenome? Na época, seu irmão era casado com uma filha de franceses – Kátia Sanson e um dia, sentado na mesa com ela, resolveu fazer um levantamento de nomes. Ela lembrou de uns parentes na França que tinham o sobrenome Guimard. Foi amor à primeira vista. Nasce Gabriel Guimard, o GG.
Depois de estabelecido um pseudônimo francês ou melhor, um heterônimo, parecia que a França estava mais perto. Berço dos mímicos, dos estudiosos do teatro gestual que mudaram para sempre a história do teatro. Estamos falando de Jacques Coupeau, Etienne Decroux, Marcel Marceau, Jacques Lecoq e Jean Louis Barrault.
Entre trabalhos e oficinas aqui e acolá, foi escolhido, em 1988, para participar de uma oficina ministrada pelos artistas franceses Philippe Genty e Mary Underwood, na cidade de Trujilo, no Peru. Uma oficina onde participariam artistas de toda América do Sul. Um curso de marionetes e formas animadas. No final do curso, Philippe Genty convidou Guimard para participar da companhia Philippe Genty. Que alegria, que susto, que medo...
E lá se foi Vinicius, ou melhor Guimard, em 1989 em pleno bicentenário da revolução francesa, morar em Paris, cidade onde fica a sede da companhia Philippe Genty. Dentro daquilo que se denomina teatro visual, a companhia é uma das mais respeitadas e conceituadas companhias do mundo. E lá se foi o pequeno Vinicius conhecer um teco do mundo, através das várias turnês que a companhia realizou nos seis anos em que ele ficou em Paris. Realizar aquele sonho de conhecer o mundo, lavando porões, ou melhor, construindo navios, mares e mundos no palco. Viajou para mais de 50 países, deu a volta ao mundo por três vezes.
Em 1995 volta para o Brasil, e foi morar em São Paulo. Naquele mesmo ano ministrando um curso de palhaço de teatro, conheceu e se apaixonou por Nora Prado, gauchinha faca na bota. E aí foi outro episódio...ou melhor outro livro. Fundaram a companhia Megamini, com a qual fizeram vários espetáculos, ganharam prêmios, viajaram, tiveram dois filhos, construíram uma casa. Em 2016, resolvem voltar para Porto Alegre, quer dizer ela volta para Porto Alegre, e lá se vai mais uma vez Vinicius pelo mundo, navegando em Guaíbas e Pampas, cavalgando nos cavalos de Vasco Prado e passeando pelas gravuras de Zoravia Bettiol.
Veio a pandemia, e nasce GG, que é desta maneira como assina suas colagens. Com a indústria do entretenimento e cultural totalmente fora de “orbita”, GG voltou-se para uma paixão platônica antiga, as artes visuais e mergulhou no aprendizado da colagem digital. Sua forma de continuar dando vazão a sua expressão artística. Desta forma começa a cultivar, pavimentar e agregar um novo ofício à sua lista de expressões: mímico, palhaço, professor de artes cênicas, produtor cultural, astrólogo e colagista. Atualmente tem criado várias colagens personalizadas a partir da demanda das pessoas e da venda de colagens que se encontram na sua lista de produtos. Colagens que abordam temáticas como o meio ambiente, questões raciais e de gênero e outros temas sociais, além de abordar algumas divagações existências e poéticas, para não esquecer Fernando Pessoa.
Para solicitar informações sobre colagens, entrar em contato pelo email: gabrielguimard@gmail.com.



















