PESQUISAS APONTAM PARA ALTO PERCENTUAL DE INDECISOS E CENÁRIO ELEITORAL NO RS COMEÇA A SE DESENHAR
- Alexandre Costa

- 24 de ago.
- 6 min de leitura
POR ALEXANDRE COSTA | ESQUINADEMOCRATICA.COM.BR

As eleições de 2026 no Rio Grande do Sul (RS) apontam para um cenário contraditório e repleto de indefinições, como mostram as pesquisas. A mais recente é a da Genial/Quaest, publicada na sexta-feira (22/8), que registra Juliana Brizola e Luciano Zucco embolados com 21% e 20% respectivamente, enquanto Edegar Pretto aparece em terceiro com 11%. A pesquisa indica, ainda, Gabriel Souza (MDB), 5%; e Felipe Camozzato (Novo), 4%. Somados, indecisos (19%) e brancos/nulos/não vota (20%) chegam a 39%, um contingente capaz de redesenhar por completo o segundo turno.
O levantamento ouviu 1.104 eleitores gaúchos com 16 anos ou mais, entre 13 e 17 de agosto, com nível de confiança de 95%. Em paralelo, 54% dos entrevistados avaliam que Eduardo Leite “não merece eleger um sucessor” — dado que ajuda a explicar a dificuldade do vice, Gabriel Souza, em romper a barreira de um dígito e herdar o espólio do governo.
Faltando pouco mais de um ano para as eleições, a indefinição do eleitorado pode ser interpretada como algo normal. Porém, as estratégias políticas começam a ser desenhadas, entre outros fatores, a partir das tendências das pesquisas. Os resultados são prospectados e servem de combustível para rearranjos de candidaturas e alinhamentos entre partidos.
Ou seja: as pesquisas podem interferir nos rumos e na correlação de forças entre os partidos, com implicações na escolha dos candidatos, tanto nas coligações quanto nas federações.

A LUTA PELOS INDECISOS
Com 39% de eleitores entre indecisos e brancos/nulos, qualquer variação de agenda — segurança pública, reconstrução pós-enchentes, emprego e renda — pode redefinir preferências até 2026.
PT FORA DA DISPUTA? A fotografia de agora coloca o PT atrás de Juliana Brizola e Luciano Zucco e levanta a pergunta central: o partido corre risco de ficar fora do segundo turno? Com 11% e uma margem ampla de eleitores ainda não definidos, o caminho do petista depende de (1) capturar parte dos indecisos, (2) reduzir a rejeição em segmentos urbanos e (3) disputar votos hoje atraídos por Juliana Brizola — nome com recall em Porto Alegre e discurso de “serviço às pessoas” que tem dialogado com órfãos do governo Leite. A resposta, por enquanto, é que nada está decidido: a massa de 39% entre indecisos e brancos/nulos pode tanto consolidar uma polarização PL x PT quanto empurrar a eleição para um duelo PL x PDT.
PESQUISA COM RECORTE DA CLASSE MÉDIA Uma outra pesquisa, com um recorte complementar, ajuda a entender humores do eleitorado que costuma arbitrar disputas apertadas. A série “Vozes da Classe Média”, do Instituto Methodus, indica que medo, percepção de justiça/injustiça (notadamente diante de episódios como a prisão domiciliar do ex-presidente) e o desalento pós-cheias de maio de 2024 pesam hoje nas escolhas políticas desse grupo — cerca de 40% do eleitorado gaúcho. No estudo mais recente sobre o Senado, esse estrato concentra 75,7% das intenções de voto em quatro nomes (Pimenta 22,3%; Manuela 21,1%; Van Hattem 18,8%; Sanderson 13,5%), sugerindo um ambiente altamente mobilizado e sensível a eventos. Embora trate de outra eleição, o recorte é um termômetro do humor da classe média e pode irradiar efeitos na corrida ao Piratini.
LEITE NÃO TRANSFERE APOIO A mesma pesquisa Quaest mostra que, apesar de índices de aprovação competitivos, o governo Leite não transfere apoio de forma automática; isso embaralha o espaço do centro e amplia a disputa por eleitores que hoje oscilam entre uma “terceira via” (Juliana Brizola) e o voto de protesto (Zucco). Nesse cenário, o desempenho do PT dependerá da capacidade de falar para além da base, apresentar propostas concretas para a reconstrução do RS e reduzir resistências em segmentos críticos. Eduardo Leite segue como figura influente, mas não transfere seus votos: apenas 41% dos eleitores acreditam que ele deve indicar um sucessor, contra 54% que rejeitam essa possibilidade. Esse esvaziamento abre espaço para novas lideranças e pressiona os partidos tradicionais a reorganizarem suas estratégias.
METODOLOGIAS E LIMITES Enquanto a Quaest oferece uma amostra representativa do eleitorado geral, a Methodus trabalha com um recorte específico (entrevistas digitais, 600 respondentes, margem de ±4 p.p., 95% de confiança) voltado à classe média. São lentes diferentes sobre o mesmo fenômeno: uma mede o conjunto do eleitorado; a outra, o humor de um grupo-chave que costuma decidir eleições apertadas. Tomadas em conjunto, reforçam a mensagem: a disputa está aberta — e os indecisos podem ser o fiel da balança. NOME DE EDEGAR PRETTO Embora abaixo dos dois primeiros colocados, o petista mantém relevância no debate político e poderá herdar parte do eleitorado progressista que se mostra resistente a uma candidatura pedetista. O Partido dos Trabalhadores, que ainda discute alianças e nomes, continua sendo uma peça-chave na equação eleitoral gaúcha.
XADREZ POLÍTICO
No xadrez político da esquerda, o destino partidário de Manuela D’Ávila — hoje sem filiação — é uma incógnita. Fora das últimas disputas eleitorais, seu nome ainda pode ser gatilho de recomposição ou de nova fragmentação. Em outra pesquisa, feita apenas na classe média, o Instituto Methodus indica Edegar Pretto (38,1%) à frente de Luciano Zucco (31,6%), com Juliana Brizola (12,3%) se posicionando como via moderada diante da polarização. Em outra pesquisa, o Methodus coloca Paulo Pimenta na frente na disputa ao Senado, seguida por Manuela.
CONTRADIÇÃO
Porto Alegre deu maioria a Lula em 2022 e, dois anos depois, reelegeu Sebastião Melo com folga — um recado de voto cruzado que desafia os discursos prontos de esquerda e direita. A memória recente cobra seu preço: em 2022 o PT ficou fora do segundo turno por míseros 2,4 mil votos. O desafio para a esquerda em 2026, tendo PT, PSOL e PCdoB, será não repetir a história, como foi a reeleição de Eduardo Leite no estado e de Sebastião Melo em Porto Alegre.
O PESO DOS INDECISOS
Juliana Brizola busca consolidar-se como alternativa de centro-esquerda, apostando em sua trajetória política e no legado do trabalhismo. Zucco, por sua vez, aposta no discurso de segurança pública e no alinhamento com o bolsonarismo. Já Pretto tenta unificar setores da esquerda e ampliar sua presença entre movimentos sociais e sindicatos. Entretanto, a pesquisa revela um dado crucial: a soma dos indecisos e dos que pretendem votar nulo ou branco ultrapassa os 25%. Esse contingente poderá decidir a eleição no primeiro ou no segundo turno.
LULA ATRÁS DE LEITE NO RS
Outro dado que merece destaque é a pesquisa Quaest sobre cenários presidenciais de 2026 no Rio Grande do Sul. Segundo o levantamento, em um eventual segundo turno, Eduardo Leite (PSD) venceria o presidente Lula (PT) por 49% a 26%. Os indecisos somam 3% e os que pretendem votar em branco, nulo ou não votar chegam a 22%.
A pesquisa, encomendada pela Genial Investimentos, ouviu 1.104 pessoas entre 13 e 17 de agosto e tem margem de erro de três pontos percentuais.
O levantamento também simulou outros cenários: Lula perde para Tarcísio de Freitas (Republicanos) por 41% a 36%, empata com Bolsonaro (41% a 40%) e Michelle Bolsonaro (39% a 40%), e vence nomes como Eduardo Bolsonaro (40% a 37%), Romeu Zema (38% a 35%) e Ronaldo Caiado (38% a 32%).
Na eleição de 2022, Lula já havia perdido para Jair Bolsonaro no RS: o petista fez 43,65% contra 56,35% do ex-presidente.
OS DESAFIOS DO TRE-RS PARA 2026
O Tribunal Regional Eleitoral do RS já trabalha nos bastidores para garantir um pleito seguro e transparente. O presidente do TRE-RS, desembargador Mário Crespo Brum, participou em agosto de reuniões com o TSE para tratar da modernização da biometria e da ampliação da representatividade feminina nas cortes. Esses esforços reforçam a importância da organização eleitoral em um cenário de forte polarização política.
ELEIÇÃO DE 2022
Na última eleição para governador do Rio Grande do Sul, em 2022, o atual mandatário Eduardo Leite (à época no PSDB, hoje no PSD) venceu no segundo turno o então candidato Onyx Lorenzoni (PL). Leite obteve 57,12% dos votos válidos, contra 42,88% de Onyx.
O resultado consolidou Leite como um dos nomes de maior projeção nacional entre os governadores, ao mesmo tempo em que marcou a derrota do bolsonarismo no Estado. Onyx havia sido ministro de Jair Bolsonaro e representava diretamente a influência do então presidente.
MUDANÇAS POLÍTICAS DESDE 2022 Após a vitória, Leite buscou fortalecer sua base política e ampliar alianças, chegando a migrar para o PSD em 2023. Já Onyx perdeu espaço eleitoral, mas segue atuando como referência da direita gaúcha e poderá participar da construção de alianças em 2026.
Esse retrospecto mostra que, embora o atual governador tenha conquistado maioria expressiva há quatro anos, sua base de apoio não necessariamente se transferirá automaticamente para um sucessor.
O eleitorado gaúcho tem histórico de alternância e mantém elevado grau de independência em suas escolhas.
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