Se eu pudesse fazer uma lista das palavras
que eu amo e que são como alimento
fragrância aquática em minha cabeça.
Vertigem, plâncton, anéis, tangíveis
empertigados como num colar de pérolas
Deleite, âmago triunfante e oblíquo
a me acenar por entre as folhagens
líquens rarefeitos, espectros difusos.
Azuis febris e carmins flamejantes
cada estrela antiga de tonalidade violácea
num alumbramento entre o dia e a noite.
Porções de palavras cálidas, reluzentes
capazes de abrir fendas e oratórios
inaugurar destinos e calendários
mudar o rumo da minha história.
Palavras foice como coice e ciúme
dolorosamente feitas para ferir num
estampido de revólver e a carne exposta
prontas para sangrar ou exaurir rubis.
Mas também as regenerativas, como pólen
na pétala, esfíncter, acalanto para dormir
se entregar ao regaço do corpo amado.
Palavras para florir, descobrir, reunir
toalha sobre a mesa, lareira acesa
casa com as janelas abertas
pai e mãe, assovio em dia de festa.
A lista é tão comprida, cabe capim e alfafa
quindim e gelatina, odores transparentes
latitudes, limites, fronteiras, refúgios
amálgama e anátema, todas as proparoxítonas.
São bem-vindos túneis, pôneis, alambrados
fantasias e tripulantes, imaginação e aquarela
satélite, lanças e raízes, sóis e mares, corais.
Por minha íris entram elipses, escafandristas
tesouros, carneiros, bailarinas e o espírito
das coisas secretas, desejos, rosas e margaridas
paisagens e objetos diversos, profusão de cores.
Ontem alvoroço, hoje carta, selo, jasmim
Espelho, floresta, seios, poço, miragem
Palavra-chave, promessa oculta, perdão.
Abro palavras como quem
estoura champanhe
libertando o sentido íntimo
de cada uma delas.
Saúde!
Porto Alegre, 08 de janeiro de 2024.
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