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Palavras preferidas, por Nora Prado (*)

Se eu pudesse fazer uma lista das palavras

que eu amo e que são como alimento

fragrância aquática em minha cabeça.


Vertigem, plâncton, anéis, tangíveis

empertigados como num colar de pérolas

Deleite, âmago triunfante e oblíquo

a me acenar por entre as folhagens

líquens rarefeitos, espectros difusos.


Azuis febris e carmins flamejantes

cada estrela antiga de tonalidade violácea

num alumbramento entre o dia e a noite.


Porções de palavras cálidas, reluzentes

capazes de abrir fendas e oratórios

inaugurar destinos e calendários

mudar o rumo da minha história.


Palavras foice como coice e ciúme

dolorosamente feitas para ferir num

estampido de revólver e a carne exposta

prontas para sangrar ou exaurir rubis.


Mas também as regenerativas, como pólen

na pétala, esfíncter, acalanto para dormir

se entregar ao regaço do corpo amado.


Palavras para florir, descobrir, reunir

toalha sobre a mesa, lareira acesa

casa com as janelas abertas

pai e mãe, assovio em dia de festa.


A lista é tão comprida, cabe capim e alfafa

quindim e gelatina, odores transparentes

latitudes, limites, fronteiras, refúgios

amálgama e anátema, todas as proparoxítonas.


São bem-vindos túneis, pôneis, alambrados

fantasias e tripulantes, imaginação e aquarela

satélite, lanças e raízes, sóis e mares, corais.


Por minha íris entram elipses, escafandristas

tesouros, carneiros, bailarinas e o espírito

das coisas secretas, desejos, rosas e margaridas

paisagens e objetos diversos, profusão de cores.


Ontem alvoroço, hoje carta, selo, jasmim

Espelho, floresta, seios, poço, miragem

Palavra-chave, promessa oculta, perdão.


Abro palavras como quem

estoura champanhe

libertando o sentido íntimo

de cada uma delas.


Saúde!


Porto Alegre, 08 de janeiro de 2024.



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