top of page

O CLIMA ENTRANDO EM COLAPSO

por Nora Prado (*)


Sou muito suspeita para falar mal do inverno, uma vez que adoro a estação que nos obriga a usar roupas de lã, casacos, botas, luvas e cachecóis. Sempre gostei dos rituais de acender a lareira, tomar sopa quentinha e comidas mais calóricas, além de dormir bem agasalhada e embaixo das cobertas de lã. Nosso inverno costuma ser bem rigoroso e confesso que nunca entendi como aqui, no Rio Grande do Sul, não dispomos da mesma infraestrutura de aquecimento doméstico com calefação em espaços públicos como acontece com os nossos vizinhos Uruguay e Argentina? Gosto do frio, mas não de passar frio. Por isso, também, não entendo como em muitas escolas aboliram o uso de tábuas de madeira, que aquecem o ambiente isolando o frio do solo, substituindo por pisos cerâmicos frios que só pioram a sensação térmica dentro das salas de aula? Não tem a mínima lógica.


Deve ser por conta da ignorância atávica que sempre atravancou o progresso brasileiro, no caso o sulista. A mesma falta de visão está presente nos restaurantes e hotéis, ônibus e todos os prédios públicos, absolutamente despreparados para receberem os clientes e usuários numa estação que castiga com um frio úmido que entra pelos ossos. Não fossem os splits, mais em alta dos últimos anos, que aliviam um pouco e dão uma trégua para o frio e a umidade, seguiríamos atrasados como sempre.


Neste ano o inverno já foi dando o ar da graça no outono e chegou com força total, agora, no final de junho e início de julho. A massa polar que passa pela região sul também se dirige ao centro do país baixando as temperaturas de modo mais radical que o de costume.


Por outro lado, as temperaturas na Europa e Estados Unidos sobem igualmente de maneira assustadora. Quarenta e nove graus é algo realmente tórrido e anormal. Muitas pessoas têm morrido neste calor abrasador e fulminante, o que significa reconhecer que o clima no planeta Terra está “de pernas pro ar”. Essa anomalia climática tem sido alertada há anos por cientistas em todo o mundo e estamos começando a sentir na pele o significado real dos seus alertas. Vale dizer que o efeito estufa, com os gases poluentes que despejamos na atmosfera, diariamente, neste extrativismo ecocida, além das queimadas e a devastação das florestas, estão precipitando que essas alterações climáticas passem a se tornar mais violentas e letais. Ainda não sabemos quantas pessoas já morreram de frio no Brasil, nestes dias de frio congelante. Mas em breve saberemos, uma vez que as populações de rua, em grande vulnerabilidade, serão contabilizadas.


A crise climática está dando as caras e a tendência é piorar caso continuemos ignorando os avisos da própria Natureza que não precisa nem mais de emissários especializados, como antigamente. Qualquer criança ou pessoa, minimamente informada e lúcida, é capaz de perceber que esse desequilíbrio pode ser um caminho sem volta caso medidas efetivas e práticas não sejam tomadas com rigor pelos governantes das maiores potências da terra.


Os desastres naturais têm sido mais frequentes e em proporções colossais para que ignoremos suas manifestações. Assunto que deveria estar em primeiro lugar na pauta das agendas de todos os países, o colapso põe em risco a espécie humana como nunca até então. Razão pela qual devemos nos engajar com maior seriedade e persistência em nossas manifestações regulares para tirarmos o genocida do poder, no caso brasileiro.


Sugiro que nos cartazes da próxima passeata também voltemos a incluir a preservação da Amazônia e a demarcação das terras indígenas já como modo de protesto e denúncia contra os madeireiros, grileiros e governistas do agronegócio que abusam da derrubada da floresta e corroboram com o desastre ambiental.


O colapso da natureza não poupará ninguém, como atestam os termômetros, que nunca foram tão contundentes como agora. É importante acreditarmos que juntos podemos fazer a diferença para melhor.


Porto Alegre, 30 de junho de 2021.


(*) Nora Prado é atriz, poeta, professora de interpretação para Teatro e Cinema, atuou na Escola das Artes do Palco - SP.

Comments


JORNALISMO LIVRE E INDEPENDENTE_edited_e
  • Twitter
  • Facebook
  • Youtube
bottom of page