Conforme o jornalista Felipe Vieira, o ex-delegado de Polícia Pedro Seelig morreu nesta quarta-feira (9/3), vítima de infarto. Chamado de “Fleury dos Pampas", durante a ditadura militar Seelig chefiou o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de Porto Alegre. O ex-delegado foi acusado inúmeras vezes de ser responsável pelas barbáries cometidas nos porões do DOPS e também de ter, ele próprio, torturado presos políticos nos anos de chumbo, período em que o país foi comandado pelos sucessivos governos militares.
O ex-delegado foi acusado pelos militantes uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz de ser o responsável pela operação clandestina que os sequestrou em Porto Alegre, em 12 de novembro de 1978. O sequestro foi uma das cooperações entre os serviços secretos das ditaduras do Cone Sul, na chamada Operação Condor. Seelig, porém, foi absolvido da acusação em 1980, por falta de provas.
“O sequestro dos uruguaios", como o caso ficou conhecido, após uma série de matérias publicadas pelos jornalistas brasileiros Luiz Cláudio Cunha e J.B. Scalco (Revista Veja). Após receberem ligação anônima, os jornalistas revelaram e denunciaram o sequestro clandestino dos uruguaios Lilián Celiberti e Universindo Díaz, além de duas crianças (filhos de Lilián), com auxílio e a participação de policiais brasileiros, em Porto Alegre.
SEELIG TORTUROU NILCE Nilce Azevedo Cardoso, uma militante histórica que resistiu às torturas da ditadura militar e era anistiada política do Brasil, faleceu aos 77 anos, no dia 21 de fevereiro deste ano. Natural de Orlândia, na região de Ribeirão Preto, no interior paulista. Estudou física na USP e participou da Juventude Universitária Católica e depois da Ação Popular. Incluída numa lista de procurados pela ditadura, Nilce chegou à capital gaúcha em 1969 e viveu na clandestinidade. Em 1972, foi sequestrada em uma parada de ônibus e foi brutalmente torturada no Dops, por cinco meses e meio, sob a chefia do delegado Pedro Seelig. A tortura levou-a a ficar em coma por oito dias no Hospital da Brigada Militar. Dali foi levada para São Paulo pela Operação Oban, quando foi submetida às sofisticadas torturas comandadas pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
MEMÓRIAS DA DITADURA O texto a seguir foi publicado no site https://resistenciaemarquivo.wordpress.com/. Por conta de sua localização geográfica o Rio Grande do Sul foi um local chave para a atuação da repressão e para o trânsito de militantes perseguidos. Na semana passada pudemos ter contato com a história de Frei Beto, da perseguição ao exílio. Esta semana você poderá conhecer a história de Claudio Gutierrez e um pouco mais sobre as “Conexões Repressivas” que com o golpe se estabeleceram entre os países do Cone Sul.
O Governo que foi implantado na Ditadura estabeleceu estreitas relações com setores conservadores dos Estados Unidos. O interesse estadunidense na América era manter os governos alinhados com a proposta de “livre mercado” e de economia de capital aberto além de “limpar” o país da ameaça comunista. Essa intervenção na economia, na política através de forças policiais ou repressão clandestina ficou conhecida como “Operação Condor”. Os Estados Unidos tem evitado tornar público os documentos sobre ações repressivas conjuntas entre a Casa Branca o Itamarati e outros grupos da América Latina.
O Centro de Informações do Exterior (CIEX) foi um dos principais órgãos ligados ao Itamarati que operou entre 1966 e 1985 com o fim de monitorar os opositores do regime militar até mesmo fora do país. O criador deste órgão Pio Correa, conhecido pelos militantes exilados como “troglodita reacionário”, já atuava como chefe do Departamento Político do Itamaraty desde 1959. Com o golpe de 1964 Pio Correa foi nomeado pelo General (presidente) Castelo Branco como embaixador do Brasil em Montevidéu, capital do Uruguai, garantindo assim o braço repressivo do Brasil naquele país. O diplomata juntamente ao aparelho de informações e repressão passa a articular uma rede de contatos que incluía políticos, militares, juízes, delegados de polícia, fazendeiros e até comerciantes. Os contatos foram travados em seguidas viagens pelo país, e o Uruguai acabou servindo de experiência piloto para a criação do Ciex. Pio Correa é tido ainda como informante da CIA no território da America do Sul.
Pio Corrêa – Cabeça da repressão internacional “O troglodita Reacionário”
Inicialmente o Ciex atuava de forma clandestina ou informal, posteriormente com o fortalecimento de relações entre a política e a polícia o centro de informações da diplomacia passa a funcionar como um órgão oficial do Estado. O Ciex ajudou a localizar, identificar e capturar pessoas no estrangeiro e no Brasil. O amplo registro das atividades políticas desses asilados municiou as demais agências da repressão com dados para as sessões de interrogatórios, reconhecidamente marcadas por torturas. Dos 380 brasileiros mortos ou desaparecidos durante o regime, descobriu-se 64 deles no arquivo secreto do Ciex.
Como vimos na postagem anterior sobre Claudio Gutierrez, a repressão se instala a partir do estreitamento das relações políticas e policiais entre o Brasil e o Uruguai. Neste ponto os delegados e oficiais de polícia do Rio Grande do Sul foram a principal influência já que o estado faz parte de um sistema de tríplice fronteira, Uruguai, Argentina e Brasil.
Niemeyer retrata repressão na America Latina em monumento
Procurando concluir o texto trazemos a afirmação de uma Jornalista Chilena, que através da analise de documentos chilenos e brasileiros, também com a ajuda da Comissão da Verdade do Brasil fica evidente que a repressão agiu, procurando perseguir e executar as oposições dentro de outros países. Segundo Mónica Gonzalez, autora do livro La Conjura – Os Mil e Um Dias do Golpe: “O Brasil […] desempenhou um papel central na gestação dos golpes militares na região, com […] financiamento externo para a desestabilização e, em seguida, para o treinamento dos serviços secretos dos países do Plano Condor, em solo brasileiro”
A Operação Condor se oficializa, em uma reunião convocada por Augusto Pinochet (arquiteto do golpe de estado Chileno) em parceria com o representante do Itamaraty e da CIA Pio Correa, é realizada em Santiago, entre novembro e dezembro de 1975. Nessa reunião, estavam presentes representantes dos governos da Bolívia, Paraguai, Chile, Uruguai e Brasil. Essa união desencadeou a repressão conjunta, trazendo uma profunda marca para a América Latina que teve essa tão violenta intervenção na política.
“Não se sabe o que aconteceu exatamente com a estrutura da Operação Condor após o fim dos regimes militares. Os brasileiros eram mestres em não deixar digitais. Sabe-se que o aparato de informações da Operação Condor continua existindo; isto está numa ata de uma das últimas reuniões dos exércitos americanos, ocorrida em Mar del Plata” Afirma o veterano na luta contra o terrorismo de Estado na América do Sul, Jair Lima Krischke que atualmente preside o Movimento de Justiça e Diretos Humanos (MJDH) sediado em Porto Alegre.