Be a Winner! Querer é poder! Imbrochável, palavra testicular e expressão ridícula, mas que serve para dar um up na testosterona durante as eleições e para mostrar quem manda na casa. Imbrochável e a arminha na mão, bem coisa de gente do bem e perversa. A perversidade é uma dádiva para problemas de ereção e para aglomerar fiéis. Sobretudo, para descerebrados e pessoas muito ruins, cínicas, embusteiras. O que importa, é que funciona maravilhosamente entre chinelões, nosso público alvo que compõe boa parte do eleitorado. Então, prezados candidatos, prezadas candidatas e prezades candidates, coloquem atenção nas novidades passageiras e na ressureição de privilégios e de valores tão impregnados em nossa formação como nação: como era linda a escravidão, as mulheres na cozinha ou gostosinhas, a indiada corrida à bala, a comunidade LGBTs achincalhada nas ruas, a censura, a empregadinha sem carteira de trabalho, o nazismo e o fascismo, a devastação das matas, uma festa. É sempre um deleite prender, torturar e matar sem dar satisfações. Tudo isso está em alta e não pode passar despercebido. Nos discursos e inserções no programa eleitoral gratuito lembrem de dizer: bons tempos aqueles de poder total e impunidade! A segurança armada, sem pobretão nas ruas, nem mamadeira de piroca, imbrochável! E encerrem com força e lágrimas nos olhos: pela família! Cuidado, candidatos e candidatas: a resposta para qualquer pergunta embaraçosa que poderá relevar a cara de pau, o quanto de humanamente ruins vocês são, é, inclusive, um dos bordões da campanha que está no volume 2 deste manual: pela família, pela pátria, por Deus. Isso pega e comove. O sorriso no rosto, congelado mesmo, é fundamental para mostrar que estão de bem com a vida. Mais à noite, relaxem os zigomáticos e façam gargarejos com sal, limão e pimenta para ver se ainda merecem estar vivos depois de um dia de mentiras. A esse propósito, lembrem que devem ter atitude, palavra da moda: atitude. E o que ela significa para um candidato e para uma candidata? Nunca mostrem arrependimento, nenhum remorso, nem vergonha. Mostrem que estão seguros de si, que sabem o que querem e como chegar lá. Isso cria empatia e a chinelagem se identifica. Porque chinelões também não tem remorso. Não sofrem desse mal que revela certa sensibilidade e fraqueza. Imbrocháveis, sempre! Palavrinha que vai entrar no vocabulário de nossas crianças. Coisa mais mimosa: papai, você é imbrochável? Resposta: pela família, pela pátria, por Deus, sou imbrochável, minha filha! A esposa vira os olhos para baixo: tá falando de quem, mozão? Como tu é imbecil! Mulheres são sempre do contra, querem direitos, querem participar do espaço público, querem propor posições sexuais, querem casamento aberto... Evitem discutir com mulheres mesmo que você seja uma candidata mulher. Derrota na certa. Dá para entender: mulheres candidatas assumam o discurso dos imbrocháveis para terem sucesso. Falem sempre genericamente, imensidão, cosmos, deus, nada que coloque em risco sua campanha. Be a winner! Se forem eleitos, aproveitem a estadia e as regalias do poder. Votem contra os interesses da população porque isso é que traz o voto da população. Sabem né: quanto mais o cachorro apanha, mais lambe o dono. Aumentem seus próprios vencimentos, posem de arautos da justiça e da política diferente. Façam de tudo para nada acontecer, projetos para não mudar, sacos para puxar. Perversidade, cinismo e testosterona garantem o mandato e calam a imprensa, que no máximo vai achar exótico, engraçadinho. Be a winner imbrochável. Risos nos bastidores! (*) Paulo Gaiger é Artista professor do Centro de Artes – UFPel. LEIA TAMBÉM MANUAL PARA CANDIDATOS - VOLUME 1 MANUAL PARA CANDIDATOS - VOLUME 2
top of page
bottom of page
Comments