Neste segundo volume, vamos compartilhar estratégias para campanhas eleitorais para que cada um, uma e ume de vocês possa conseguir uma boa fonte bancária de entusiasmo, um cartel de empresários, uma bela mordida no fundo eleitoral, uma coligação e tempo de TV, um costa quente, um padrinho, um traficante, uma igreja, um exército de milicianos voluntários, um pé de goiabeira nesses tempos de isso ou aquilo, vacina ou 680 mil mortes de maricas, Ibama ou queimada, Brasil ou Venezuela, democracia ou ditadura, Anitta ou Zé Neto, o velho ou o mar, que é sempre bom citar um livro. A Startup Be a Winner lembra os candidatos e candidatas de que este manual é inteiramente gratuito. Portanto, se flagrarem um desenvergonhado, um bandido vendendo, alugando ou usando de qualquer blábláblá para lucrar com produção alheia, não chamem a polícia, não façam B.O., nem denunciem: se juntem ao salafrário e tragam a família. Antes mal acompanhado do que só, diz o ditado eleitoral. Em período de eleição, é isso daí. Vocês que dizem querer o bem da cidade, do país, do mundo, da via láctea sabem o quanto é difícil convencer os eleitores e as eleitoras de que as suas intenções são as melhores. Pelo menos em relação à via láctea é mais tranquilo. Usem fotos da família, da esposa ou do maridinho. É um recurso importante com a eminente aproximação do juízo final. Se questionados sobre a nepotismolândia, passem a responsabilidade a quem perguntou: “Você faria a mesma coisa, magnânimo eleitor, se não confiar na esposa e nos filhos, vais confiar em quem?”. A esposa murmura a seus botões: “Não te iluda, meu chuchu”. Os filhos, Marcus e Caio, afiam facas. Sabem daquela história? Toda a vez que passa um cavalo, uma mula, um burro ou um porco na frente da casa, a esposa corre à janela pra ver se não é o seu homem chegando. Obrigado, Molière. Citar autores franceses c’est très chic. Se não traz votos, traz admiração e um futuro cargo de assessor ou oportunidade de abrir uma consultoria. A dica é a de sempre culpar os outros, acusar ferozmente, latindo e cuspindo, um adversário, um grupo, uma etnia como responsáveis pela desgraceira. Os chineses comunistas? Inventaram o vírus, inventaram por aí, mas também não há nada que se compre que não tenha o selinho Made in China, né? É complicado mexer em hegemonias econômicas de importação e exportação. Então, acusem as mulheres, os LGBTs, os índios, as ONGs, os quilombolas, a onça, a jaguatirica, a capivara, o bicho-preguiça, a floresta amazônica, o Paulo Freire, a minissaia... Ai, candidatos e candidatas, vocês verão como é fácil, divertido e gostoso culpar os outros, especialmente quando são mentiras deslavadas ou total falta de conhecimento. Mas quem quer saber? A franqueza é virtude dos defuntos, escreveu o defunto e escritor, Brás Cubas. O senso comum mexe com a testosterona! Sejam muito rasos, mesmo, sem remorso. Até porque a Be a Winner sabe que parte de vocês não sabe coisa alguma, é só um bando de espertalhões e embusteiros. Falem o que a gentalha quer ouvir, não o que precisa. Um cavalo tem quatro patas e relincha. Um porco também tem quatro patas. Logo, por dedução, o porco também relincha: ihóó-inhóó. Pra que a ciência se tá tudo aí? Muita hipocrisia pela frente. A tarefa é tornar a ignorância uma virtude, o escárnio um valor. Funciona. Corruptos contra a corrupção, usuários da democracia contra a democracia, igrejas do amor pela exclusão, mulheres condenando meninas e mulheres, negros negando a escravidão, brasileiros cordiais pela xenofobia, um país cristão pela tortura e genocídio, a soberania rameira. Os algoritmos não falham! Os eleitores, sim! O babaca se elege! “Votem em mim, não sou nada disso do que vocês estão pensando, nem eu sei quem eu sou... ué, o tempo acabou?”. Que diferença faz? Be a Winner!
(*) Paulo Gaiger é Artista professor do Centro de Artes – UFPel.