As eleições para deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente estão aí. Preocupada com as centenas de candidatos e candidatas, a Startup Be a Winner vem colaborar com a campanha para que tudo dê certo como acreditam que dará, com fé no que planejaram, com a conservação e brilho da pele de cordeiro que disfarça o lobo. Esse manual conta com algoritmos terceirizados especializados em fabricar mentiras e confeitos para as eleições. Se Dom Pedro I proclamou a independência montado em uma mula, em seguidinha de uma crise intestinal que empestou as águas do Ipiranga, e é a tela de Pedro Américo, pintada em Florença, muitos anos depois, o registro oficial, a imagem em que a pátria acredita, o que diferencia o mito da realidade, a fé da ciência, a mentira da verdade? A mentira não deixa de ser uma verdade. O paradoxo: todo mundo mente. Que mais dá? Nosso manual vai tentar esclarecer tudo isso de maneira leve e divertida. De antemão, prevenimos candidatos e candidatas: fujam da verdade, tergiversem, enterrem-na sob cinzas e fuzis, cubram-na com doces e fantasias, gritem nos palanques virtuais e nas carreatas, mostrem convicção no horário eleitoral, mostrem firmeza e crença em Deus, mas jamais, nunquinha, a verdade, a própria cara, a alma suja, o remorso. A mentira é boa-praça e tem vantagens: se propaga na velocidade da luz. Depois do estrago feito, azar do mané. Usem da fé que é muito mais digerível que a ciência. Além do que, não exige conhecimento, nada de sabedoria e sensibilidade. Para a fé, basta a fé. Entre o mito e a realidade, sempre o mito porque comove e reúne multidões: fascínio e asnice. Fé, mito e mentira são armas imbatíveis para emplacar uma eleição. Vamos colocar Jesus e a família na parada e será show. Nossos algoritmos irão prestar esse socorro em cambio de alguns favores. Coisa bem corriqueira. Por exemplo: quem tiver apoio dos criadores de elefantes, fará um projeto que obrigue cada cidade a ter um elefante em algum lugar, preferentemente branco; quem tiver apoio da Frog Princes Corporation fará projeto que obrigue as mulheres a beijar príncipes que vão tornando-se sapos que as forçarão a voltar à cozinha; quem tiver apoio da International War Company, liberará a compra de armas e fuzilamentos diários, especialmente em escolas, festas de 50 anos, estádios de futebol, comunidades de pretos e pobres. Recreação pública em massa. Quem tiver apoio da Give Me Money, irá ressuscitar o CPMF e desviar verbas para interesses privados em nome da pátria; quem obtiver apoio da Internationale Gesellschaft aus Büchern Verbrannt, fará projeto que feche as bibliotecas, obrigue as famílias a queimarem livros e a baterem em professoras feministinhas; quem tiver apoio da Church Corporation, irá impor uma única religião, tipo Talibã, bem divertida para os machos. A Be a Winner sabe que poucos são os eleitos e o resto que se dane. Inaugurem templos e shoppings, disparem metralhadoras, participem de procissões, rezem, afaguem crianças e pets, defendam a família. Não adianta vir com essas bobagens de arte, feminismo, ciclovia, racismo, meio ambiente, lazer, direitos... Não dá voto e os algoritmos endoidecem! É preciso atitude: superficialidade, ornamento, tumulto e arrogância. Nossos algoritmos oferecem os bordões da campanha: segurança, saúde, educação e família. Vêm acompanhados de mudança, política diferente, democracia, emprego e outras expressões que seduzem o povo. Que lindo isso, né? Enganar a gentalha! Tem candidato que promete saúde e educação, mas o partido aprovou a reforma da previdência e a redução de investimentos em educação e saúde. Outro fala em democracia, mas é a favor da ditadura. Nossos algoritmos vão tratar de separar o joio do joio. O trigo que queime. Como no quadro do Pedro Américo, vamos pintar algo bonito, positivo, pra cima, desconexo de qualquer realidade e verdade. A propósito, os jingles são de matar. Isso mesmo: música ruim pega. Como a mentira. Fé! (*) Paulo Gaiger é Artista professor do Centro de Artes – UFPel.
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