JOVENS REPÓRTERES REGISTRAM UM MOMENTO INÉDITO DA HISTÓRIA POLÍTICA DO BRASIL, POR CARLOS WAGNER
- Alexandre Costa
- há 12 horas
- 5 min de leitura

A imprensa tradicional está conseguindo ser mais eficiente que a indústria da fake news. Há uma pergunta circulando pelas redações dos jornais no Brasil. O que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 79 anos, fará nos minutos seguintes à conclusão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 70 anos, pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF)? A pergunta se faz necessária porque Trump tarifou os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos em 50% e colocou como condição para negociar a taxação a anistia de Bolsonaro. Por considerá-la uma intromissão estrangeira na soberania nacional, o governo brasileiro recusou-se a apreciar a oferta e o tarifaço entrou em vigor, causando desemprego em vários setores da economia nacional. Trump ainda retaliou oito ministros do STF com o cancelamento dos seus vistos americanos. E o relator do processo contra Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes, 56 anos, além de ter o visto cancelado, foi enquadrado na Lei Magnitsky, que pune violadores dos direitos humanos.
Antes de seguir, vamos contextualizar a nossa conversa, como manda o manual do bom jornalismo. Bolsonaro e outros sete réus, que são ex-ministros e funcionários do alto escalão do seu governo, fazem parte de um grupo de 34 pessoas, das quais 27 são militares (ativa, reserva e reformados), que estão sendo julgadas pela Primeira Turma por cinco crimes, entre eles o de terem montado uma organização criminosa para dar um golpe de estado. A Procuradoria-Geral da República (PGR) dividiu os acusados em quatro núcleos. Os primeiros sentenciados serão Bolsonaro e outros sete do chamado Núcleo Crucial, incluindo o general reformado Walter Braga Netto, 68 anos, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa do ex-presidente que concorreu à reeleição, em 2022. Ainda não há data marcada para a sentença dos outros três núcleos. A previsão é que acontecerá até o final do ano. Terminada a contextualização, vamos a nossa conversa. Tudo indica que Bolsonaro e os demais integrantes do Núcleo Crucial serão condenados. Como Trump irá reagir? Além dos serviços de inteligência, o presidente americano está sendo informado pelo filho do ex-presidente, o deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro (PL), 46 anos, que se mudou no início do ano para os Estados Unidos, onde montou um núcleo de lobby que trabalha pela anistia do pai. Existe um leque de opções que o presidente americano poderá acionar em caso de condenação de Bolsonaro. Vou citar três das mais debatidas na imprensa brasileira. A primeira é não fazer nada. A justificativa para esta hipótese é que os serviços de inteligência americanos sabem que o deputado está mentindo sobre a história da tentativa de golpe e outros assuntos. A segunda hipótese é aumentar a taxação dos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. E, por último, não reconhecer o resultado da próxima eleição presidencial no Brasil, caso seja reeleito o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos. Seja qual for a sentença que será dada a Bolsonaro, vamos conhecê-la na primeira semana de setembro. O assunto vem sendo acompanhado online pela imprensa diária.
Respondida à pergunta sobre como Trump poderá reagir caso o ex-presidente seja condenado, vou destacar um assunto nesta história que merece ser observado pelos jornalistas. Trata-se da qualidade das informações que os jornais e outros noticiários estão produzindo e distribuindo para leitores, ouvintes e telespectadores. Estou acompanhando tudo que temos publicado no Brasil. Os nossos conteúdos são de boa qualidade, diversificados e facilmente entendidos por quem não tem a rotina de assistir aos noticiários diários. O que estou afirmando é com base no meu currículo de repórter. Tenho 75 anos, fiquei três décadas e alguns anos em redação e atualmente ando pelas estradas em busca de boas histórias. Sempre lidei com assuntos descritos como “pesados”: conflitos agrários, migrações internas e crime organizado na fronteira. Com base no meu currículo, digo que é fundamental para a qualidade do jornalismo a liberdade de imprensa. Não estou dizendo uma novidade. Mas lembro que minha geração de repórteres foi vítima da censura prévia imposta nas redações pelo golpe de estado (1964 a 1985) dado pelas Forças Armadas, auxiliadas pelos americanos, capitalistas, que na época estavam envolvidos na Guerra Fria (1947 a 1991) com a então União Soviética, comunista. A censura à imprensa foi fundamental para os militares golpistas de 1964 consolidarem o seu poder no Brasil. Em 2022, a liberdade de imprensa foi fundamental para ter falhado a tentativa de golpe de estado organizada e colocada em ação pelo ex-presidente Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército e defensor dos golpistas de 64. Há um ponto que pode ser melhorado na cobertura da imprensa brasileira sobre a conexão entre o deputado Eduardo Bolsonaro e o tarifaço de Trump: os bastidores dos acontecimentos. O que temos publicado são basicamente as informações dos relatórios da Polícia Federal (PF), sentenças de juízes e outras informações oficiais. O trabalho do repórter em campo é escasso, principalmente na garimpagem de testemunhas. Por qual motivo? Não é por falta de treinamento do profissional, as técnicas do jornalismo investigativo são ensinadas nas faculdades. O problema é que a estrutura das redações mudou. Atualmente, elas operam com o número mínimo de profissionais. Na minha época, eu fazia a investigação e redigia a matéria para ser publicada no jornal. Nos dias atuais, o repórter faz a apuração, escreve o texto, faz as fotos e grava os vídeos e as sonoras (como são chamados os áudios para o rádio). E ainda publica o material em todas as plataformas de comunicação da empresa. Além da enorme carga de trabalho, o salário atual da categoria é um dos mais baixos da história da profissão.
Apesar de todas estas dificuldades, os jovens repórteres estão fazendo um bom trabalho. Produzem um material que consegue competir com as poderosas e eficientes máquinas de fake news. Não é uma tarefa fácil. Porque, como se diz nas redações, a mentira corre mais rápida que a verdade. Olha, vivemos um momento inédito na história política do Brasil. É a primeira vez que são julgados e serão sentenciados os envolvidos em uma tentativa de golpe de estado. Também é a primeira vez que um deputado federal, no caso um dos filhos do ex-presidente Bolsonaro, monta um esquema de lobby junto a um governo estrangeiro para prejudicar a economia nacional. Portanto, todo o trabalho que estamos fazendo, com textos, fotos, vídeos e sonoras, vai contar como tudo aconteceu para as próximas gerações. Uma baita responsabilidade, como se diz no Rio Grande do Sul.
Link para o artigo original: Carlos Wagner – Blog
https://x.gd/QKn5Y
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