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Foto do escritorAlexandre Costa

IMAGINAR O PIOR CHAMA-SE PESADELO

por Jorge Branco (*)

As barbaridades expressas pelo bolsonarismo, tanto o do governo quanto o fora dele, não poderiam restar impunes. A política genocida do governo sobre a pandemia da Covid-19, exposta pelos primeiros depoimentos da CPI e pelo absurdo número de mortos, a devastação do meio ambiente e da Amazônia em particular, o forte desemprego e a precarização dos empregos existentes, a sucessão de bravatas e assertivas desconexas fizeram por despencar a aprovação de Bolsonaro junto à opinião pública, com vários aliados que lhe deram vitória no segundo turno agora passando a lhe fazer oposição.

"A organização de grupos de ação entre a base das Forças Armadas e das polícias estaduais, com base na adesão ideológica e não na hierarquia funcional como vimos no caso da repressão ao ato do dia 29 em Pernambuco, prepara um terreno de batalha pouco democrático" - Agência JCMazella - SINTEPE


A comparação entre as últimas fracas manifestações bolsonaristas e os grandes atos políticos acontecidos no dia 29 de maio demonstram que o apoio a Bolsonaro recuou das ruas para os grupos reacionários nas redes sociais. Seu apoio no Congresso Nacional diminui e o STF decidiu impor limite ao acossamento à Constituição Federal.


As recentes pesquisas de opinião demonstram uma diminuição da aprovação ao governo Bolsonaro, e quando medem o quadro eleitoral projetado para 2022, indicam certo favoritismo da candidatura do ex-presidente Lula, seu maior e efetivo adversário. Mas essas mesmas pesquisas demostram que Bolsonaro ainda possui relevante parcela de apoio na opinião pública. Seu governo ainda é apreciado por 1/3 dos entrevistados e esta mesma fração votaria nele novamente. Condição suficiente para, no contexto atual, o colocar na disputa do segundo turno das eleições presidenciais de 2022.


Portanto, a dramática possibilidade de um segundo governo de Bolsonaro é real e concreta. Seu aparato paramilitar de confrontação está intacto e na ativa. Mais do que isto, este aparato foi reforçado por estruturas estatais utilizadas sem qualquer cerimônia republicana.


A agressividade do reacionarismo no Brasil tem se expressado em vários episódios, como as agressões às vereadoras Cáren Castêncio, de Bagé e Thaís Dalssasso, de Quaraí e a tentativa de intimidação, através de crimes contra a infância, dirigida à Manuela D’Avila, candidata a vice-presidenta nas eleições de 2018, todas postas em prática por grupos reacionários que parecem aumentar o frenesi de suas atividades violentas na medida em que percebem diminuir seu apelo e o apoio ao Bolsonaro.


Mas para além disto, matérias do Brasil de Fato e The Intercept Brasil relatam mais de 150 casos onde opositores de Bolsonaro foram enquadrados na obsoleta Lei de Segurança Nacional (LSN) e sobre órgãos repressivos de Estado agindo como aparelhos da ditadura. Um entulho autoritário, ainda ativo, nas mãos de agentes de Estado reacionários como pudemos ver nos episódios das prisões de ativistas em Brasília e Goiânia e na detenção do vereador em Curitiba.


A reeleição de Bolsonaro significaria um aprofundamento da organização efetiva deste bloco reacionário, com legitimação renovada para avançar na desconstituição dos freios constitucionais ao autoritarismo. O governo já implementa um conjunto de modificações no Marco Civil da Internet, com o objetivo de proteger a capacidade das redes bolsonaristas e dos “gabinetes do ódio” montados em diversas agências do Estado brasileiro. A organização de grupos de ação entre a base das Forças Armadas e das polícias estaduais, com base na adesão ideológica e não na hierarquia funcional como vimos no caso da repressão ao ato do dia 29 em Pernambuco, prepara um terreno de batalha pouco democrático.


Ao mesmo tempo incentiva o aniquilamento da política ambiental e dos direitos indígenas, avança na tendência reprimarizadora da economia, na implosão das alianças sulamericanas e na desregulamentação e precarização absoluta do trabalho, aprofundando seu vínculo com a lúmpen burguesia brasileira.


Estes elementos nos indicam que um segundo governo Bolsonaro tenderia a ser uma opção ampliada pela construção de situação autoritária generalizada no país com a desconstituição de direitos e garantias políticas e, também, sociais. Um terrível pesadelo, efetivamente.


(*) Jorge Branco é Sociólogo, Mestre em Ciência Política. Diretor Executivo do Democracia e Direitos Fundamentais


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