GAZA: A GUERRA QUE DEIXA UM LEGADO DE VERGONHA PARA A HUMANIDADE – 1ª PARTE

Alexandre Costa
10 de out.
3 min de leitura

Atualizado: 11 de out.

CESSAR-FOGO, FOME E O SILÊNCIO DOS “GUARDIÕES DA VERDADE”

por Alexandre Costa | ESQUINADEMOCRATICA.COM.BR

O anúncio de cessar-fogo feito por Israel e pelo Hamas, com a libertação de reféns, retirada parcial das tropas israelenses e o início da reconstrução dos escombros, com apoio internacional, é apenas o começo (Reuters). No entanto, o silêncio das armas não apaga o rastro de devastação. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza e relatórios da ONU, mais de 67 mil palestinos foram mortos e cerca de 170 mil ficaram feridos, entre eles milhares de crianças e civis não combatentes (UN OCHA). Em Israel, os ataques iniciais e retaliatórios deixaram cerca de 1.200 mortos (BBC).

O conflito também se tornou o mais letal para jornalistas desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O Committee to Protect Journalists (CPJ) confirma 179 jornalistas e profissionais de mídia mortos até fevereiro de 2025 — sendo 171 palestinos, 2 israelenses e 6 libaneses (CPJ). Relatórios independentes do Costs of War / Watson Institute elevam o número a 232 jornalistas mortos (Al Jazeera). Em Gaza, morreram mais jornalistas do que em todas as guerras combinadas desde o Vietnã até o Afeganistão (HuffPost Espanha).

Em termos comparativos, a Guerra do Vietnã matou cerca de 47.434 soldados norte-americanos em dez anos de conflito (Wikipedia / U.S. Military Casualties of War). Na guerra entre Rússia e Ucrânia, estima-se entre 60.000 e 100.000 militares ucranianos mortos e mais de 120.000 russos desde 2022 (The Kyiv Independent, Russia Matters). Gaza, em dois anos, matou proporcionalmente mais civis do que qualquer outro conflito recente, considerando o tamanho e a densidade do território.

A destruição é quase total: 90% das escolas foram destruídas, 80% dos hospitais estão danificados e 2,2 milhões de pessoas — a totalidade da população — foram deslocadas repetidas vezes (WHO, UNICEF). O Programa Mundial de Alimentos (WFP) alerta que mais de 500 mil palestinos enfrentam fome catastrófica (fase 5 do IPC, o pior nível da classificação internacional) (WFP / IPC). A escassez de água potável e energia elétrica agrava a tragédia e ameaça causar novas ondas de mortes por doenças infecciosas (FAO).

O Banco Mundial e a ONU estimam que o custo de reconstrução de Gaza ultrapasse US$ 53 bilhões e possa chegar a US$ 80 bilhões, levando em conta danos ambientais e sociais (World Bank). A operação incluirá a remoção de milhões de toneladas de escombros e a reabilitação de hospitais, escolas e sistemas de saneamento.

Por trás da catástrofe humanitária, a geopolítica permanece. Israel mantém seu poderio graças ao apoio militar anual dos EUA de US$ 3,8 bilhões, reforçado por um pacote adicional de US$ 26 bilhões aprovado em 2024 (Washington Post). Empresas como Elbit, Rafael e Israel Aerospace Industries lucram com contratos bilionários de armamentos utilizados na ofensiva (Reuters). Os interesses sobre os campos de gás Leviatã e Gaza Marine, e sobre as rotas comerciais do Mediterrâneo e do Mar Vermelho, continuam a moldar as decisões de guerra e paz na região (The Guardian).

O cessar-fogo de 2025, portanto, não é o fim da guerra — apenas a pausa antes de uma nova disputa. E quando até os jornalistas se tornam alvos, não há mais zona neutra. Até mesmo a verdade está sob ataque.