Exército Gustavo Henrique Dutra, durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro. Dutra é ex-comandante do Comando Militar do Planalto. Foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e está sendo investigado por sua participação nos atos terroristas de 8 de janeiro. O senador sabe de toda a história. Por que atacou o general que está sendo investigado por supostamente ter apoiado os bolsonaristas? Não se trata de um racha. É apenas uma estratégia do senador para ganhar espaço nas redes sociais. Nas últimas semanas tenho acompanhado manifestações de seguidores do ex-presidente contra oficiais das Forças Armadas, acusando-os de terem traído a tentativa de golpe.
Essa tentativa de mobilizar as bases feita pelo senador Seif é uma gota de água em um oceano perante a imensa repercussão que vem tendo na opinião pública o julgamento dos quatro primeiros réus dos atentados de 8 de janeiro contra a democracia, que começou no dia 13 de setembro no Supremo Tribunal Federal (STF).
Esses são os réus e suas sentenças: Aécio Lúcio Costa Pereira, 51 anos, condenado a 17 anos de prisão, sendo 15 em regime fechado; Thiago de Assis Mathar, 43, sentenciado a 14 anos; Matheus Lima de Carvalho Lázaro, 24, condenado a 17 anos; e Moacir José dos Santos, 52, que deverá ter a data do julgamento marcada durante esta semana – há matéria na internet. Além desses quatro existem outros 1.395 que serão julgados. O resultado do julgamento ocupou todo o espaço nobre da imprensa brasileira e repercutiu em vários cantos do planeta, em especial nos Estados Unidos, onde seguidores do ex-presidente Trump invadiram o Capitólio (prédio do Congresso americano) em 6 de janeiro de 2021 para impedir que Joe Biden (democrata) fosse declarado vencedor das eleições presidenciais – matérias na internet. A avaliação de especialistas é que o resultado do julgamento aumentou a hemorragia do prestígio político do ex-presidente. Costa Neto aposta que o prestígio político de Bolsonaro vai eleger muitos prefeitos e vereadores de grandes, médias e pequenas cidades nas eleições municipais do ano que vem. O julgamento dos envolvidos nos atos terroristas de 8 de janeiro somado com o caso das joias (venda ilegal de presentes recebidos por Bolsonaro de autoridades estrangeiras) estão encurralando o ex-presidente.
Os bastidores desses dois casos foram contados para a Polícia Federal (PF) na delação premiada feita pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Como disse na nossa conversa: as coisas na política acontecem muito rapidamente. Até a delação de Cid nenhuma das pessoas usadas pelo ex-presidente para fazer o serviço sujo tinha aberto a boca e contado a sua versão dos fatos. Seja lá qual for o calibre das revelações feitas pelo tenente-coronel (que precisam ser confirmadas pela investigação policial) a situação do ex-presidente perante a Justiça em nenhum momento da sua carreira política, que soma mais de três décadas, esteve tão complicada como no atual. Como sempre digo, ele é um cara esperto e sabe disso. Também sabe que tudo é possível na disputa política. Até uma situação que parece ser um milagre.
(*) Carlos Wagner é jornalista, repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, em São Paulo. Atualmente, Carlos Wagner é responsável pelo site Histórias Mal Contadas.