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BOLSONARO E O BOLSONARISMO, POR JORGE BRANCO*

"Mesmo com o afastamento de Jair Bolsonaro da liderança política e da disputa eleitoral, a extrema direita hoje tem bases sociais efetivas, baseadas em sua retórica reacionária da defesa da violência e do militarismo" - ANNA MONEYMAKER

Há uma batalha em defesa dos valores humanistas ainda inconclusa

Há um debate cada vez mais frequente no dia a dia do país. Poderia o que se passou a chamar de bolsonarismo sobreviver ao Bolsonaro? Ou de outro modo, se o movimento político que levou Jair Bolsonaro à presidência nas eleições de 2018 poderia existir sem sua liderança direta?

Esta questão tomou maior impulso diante das frequentes revelações de condutas de Jair Bolsonaro que serão, ou já estão submetidas ao sistema de justiça e à investigação criminal. Desde a condenação por crime eleitoral, em ação julgada pelo TSE, até seu envolvimento em tentativas de ruptura da ordem constitucional, passando pelo envolvimento no caso das joias sauditas, de relógios de luxo e das pedras preciosas sem origem declarada, Bolsonaro passou a ter sua liderança política afetada.

A decisão da justiça eleitoral pela sua inelegibilidade cria uma situação nova para a extrema direita. A perspectiva de novas condenações, seja no âmbito eleitoral ou criminal, joga um alerta para a extrema direita no país e no mundo. O próprio presidente do Partido de Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto, há algum tempo já vem enfraquecendo sua liderança, insinuando movimentos em relação à direita tradicional e centro-direita.

Do ponto de vista global, a extrema direita olha com mais atenção o crescimento de partidos reacionários na Europa, enquanto acompanha as suas duas principais apostas – Bolsonaro e Trump – serem fortemente acantonados pela reação de autodefesa do sistema democrático. Essa reação formou uma plataforma comum, neste aspecto estrito sustentada por uma ampla coalizão do centro para a esquerda, que colocou essas lideranças na defensiva.

Contudo, situação defensiva não significa diretamente desaparecimento ou extinção. Muito menos para um campo político que na última década experimentou um forte processo de ascensão e emergência na opinião pública. A extrema direita cresceu no período com base em um cenário global de crise econômica e de crescimento das políticas de regressão de direitos.

A emergência da extrema direita no Brasil não se tratou, contudo, de mero reflexo do quadro internacional. As condições e variáveis endógenas foram determinantes e suficientes para sua ascensão política. Passou a galvanizar comunicacionalmente um conjunto de valores e atitudes conservadoras, fundamentalistas e tradicionalistas presentes na cultura política do país, o que permitiu sair de uma situação de pouca relevância para a direção política do conservadorismo brasileiro. Fenômeno que se repetiu e ainda se repete em todos os continentes.

A base da força política da extrema direita não está circunscrita à liderança eleitoral de Jair Bolsonaro. É certo, por óbvio, que sua presença livre no cenário político, e eventualmente habilitada a disputar eleições, confere ao reacionarismo uma síntese, no campo do simbólico e da comunicação, muito prática para expressar seus posicionamentos e aglutinar apoios na opinião pública. A essa liderança e a esse efeito social mobilizatório podemos convencionar como bolsonarismo.

Mesmo com o afastamento de Jair Bolsonaro da liderança política e da disputa eleitoral, a extrema direita hoje tem bases sociais efetivas, baseadas em sua retórica reacionária da defesa da violência e do militarismo, de sua vinculação ao lúmpen empresariado – como por exemplo do garimpo ilegal e da grilagem de terra – e de sua adesão aos interesses do agronegócio e das políticas de mercado e de sua vasta base parlamentar. Continuará sendo um protagonista político relevante nas próximas disputas políticas e eleitorais. O que significa dizer que a agenda golpista e reacionária continuará ativa e os riscos decorrentes também.

Os desafios de defesa da democracia ainda perduram e a desídia no tratamento à extrema direita seria o pior dos erros da esquerda e do campo democrático brasileiro. Há uma batalha em defesa dos valores humanistas ainda inconclusa, como demonstram algumas manifestações de apoio aos crimes cometidos nas chacinas policiais da última semana.


Jorge Branco é sociólogo, mestre e doutorando em Ciência Política. Diretor Executivo da Democracia e Direitos Fundamentais.

 
 
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