As bombas em frente ao STF e o atentado do Riocentro nos obrigam a refletir sobre anistia, por Alexandre Costa*
- Alexandre Costa
- 17 de nov. de 2024
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As bombas que explodiram em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, na noite de quarta-feira (13/11), parecem uma continuação do 8 de janeiro. Mais que um alerta aos riscos que os seguidores de Jair Bolsonaro representam para o Brasil, o atentado que resultou na morte do Tiu França nos remete à noite de 30 de abril de 1981, episódio que entrou para a história como o atentado do Riocentro.
Durante o show de MPB em comemoração do Dia do Trabalhador, com um público de mais de 20 mil pessoas, agentes do DOI-Codi do 1° Exército foram designados para uma operação que tinha como objetivo incriminar grupos que se opunham ao regime. O atentado serviria para justificar a continuidade dos militares no poder, retardando a abertura política que estava em andamento. No entanto, os artefatos explodiram acidentalmente, causando a morte do sargento Guilherme Pereira do Rosário e deixando o capitão Wilson Dias Machado gravemente ferido.
Além de aumentar o período dos militares no poder, se tudo tivesse ocorrido como planejado, o atentado teria entrado para história como uma tragédia de grandes proporções. No entanto, as trapalhadas cometidas pelos militares no show de MPB do Riocentro só aceleraram o processo de democratização do país.
A morte de Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, mais conhecido por Tiu França, candidato a vereador pelo município de Rio do Sul, em Santa Catarina (SC), lembra o atentado do Riocentro. No início, o caso foi abafado pelos militares. Porém, em 1999, as investigações foram reabertas, com a responsabilização do sargento Rosário, do capitão Wilson (naquela altura promovido a coronel), do ex-chefe da Agência Central do SNI, general Newton Cruz (pelo crime de prevaricação) e do ex-chefe da agência do SNI no Rio, coronel Freddie Perdigão. O coronel Perdigão, um dos mais notórios torturadores do período, foi apontado como mentor do crime. O Superior Tribunal Militar considerou que o caso do Riocentro estava coberto pela Lei de Anistia. As explosões em frente ao STF não devem ser analisadas como fato isolado e sim como uma ação planejada com objetivo de fazer pressão para anistiar os golpistas de 8 de janeiro. O Brasil não pode cometer o mesmo erro que impediu o país de levar à Justiça os assassinos e torturadores que estiveram a serviço dos governos militares durante 21 longos anos.