SUBSTITUTO DE BOLSONARO CONSEGUIRÁ POLARIZAR A ELEIÇÃO COM LULA?, POR CARLOS WAGNER*
- Alexandre Costa
- há 8 horas
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Se a disputa pela Presidência da República, em 2026, fosse entre o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 70, a polarização entre ambos não daria espaço para o crescimento de uma candidatura da chamada terceira via. As eleições de 2022 foram uma das mais polarizadas da história política do Brasil. Naquele ano, o primeiro turno da corrida presidencial teve 11 candidatos. Sendo que 91,63% dos votos válidos foram repartidos entre Bolsonaro (43,20%) e Lula (48,43%). Atualmente, mesmo tendo sido declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente tem dito em público que será candidato. Mas, nas entrelinhas, tem acenado com a possibilidade de indicar como seu substituto ou um dos seus três filhos parlamentares ou sua mulher, a ex-primeira-dama Michelle, 43 anos. E ainda tem cogitado a possibilidade escolher um dos sete postulantes que almejam a sua indicação, entre eles o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 49 anos. Por acreditarem que o ex-presidente não conseguirá derrubar a sentença do TSE e que o indicado para substituí-lo não terá força política para polarizar com Lula, os caciques dos Progressistas (PP) e do União Brasil anunciaram, na terça-feira (29), a criação de uma federação partidária, chamada de União Progressista, que deverá ser registrada nos próximos meses e que funcionará em 2026.
A concretização da federação está enfrentando alguns sérios problemas devido a disputa entre os seus caciques regionais e nacionais. Especialmente o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), 75 anos. Antes de nascer a ideia da federação, Caiado já tinha lançado a sua candidatura a presidente da República nas eleições do próximo ano. Além disso, o acordo para que o ex-presidente da Câmara dos Deputados (2021 a 2025), Arthur Lira (PP-AL), 55 anos, fosse o primeiro presidente da federação foi desfeito e no seu lugar deve assumir o presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda. A troca, que foi costurada pelos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), enfureceu Lira. Se a federação for confirmada, terá uma bancada de 109 dos 513 deputados e 14 dos 81 senadores e acesso a uma fatia considerável do fundo partidário. Toda essa história vem sendo acompanhada com riquezas de detalhes, como se dizia nos tempos das máquinas de escrever nas redações, diariamente pela imprensa. Digo que o cimento usado para consolidar a federação está sendo fornecido por Bolsonaro. A começar pela sua insistência com o PL da Anistia, como foi apelidado o Projeto de Lei 2858/2022. O projeto anistia todos os envolvidos na organização criminosa que tentou dar um golpe de estado, incluindo o ex-presidente, vários dos seus ministros, entre eles o general Walter Braga Netto, 68 anos, e os bolsonaristas que estavam acampados na frente dos quartéis e que, em 8 de janeiro de 2023, destruíram tudo que encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo uma pesquisa publicada no início de abril pela Quaest, 56% dos brasileiros são contra a anistia. O atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), 35 anos, colocou o PL da Anistia na geladeira – matérias na internet.
No dia 12 de abril, o jornal O Estado de São Paulo, o Estadão, publicou o editorial Bolsonaro atrapalha o Brasil, assim resumido: “As forças políticas deveriam se preocupar com a crise global, e não com a ‘anistia’ a Bolsonaro. Está na hora de deixar a Justiça cuidar do ex-presidente. O Brasil tem mais o que fazer”. A encrenca do ex-presidente com a Justiça é pesada. Ela é contada nas 884 páginas do relatório final da Polícia Federal (PF) que investigou e indiciou Bolsonaro e mais 33 pessoas pela formação de uma organização criminosa para dar um golpe de estado. E pela denúncia de 272 páginas da Procuradoria-Geral da República (PGR) feita ao STF, que decidiu processar o ex-presidente. Em março, escrevi o post A tecnologia ajudou a tornar Bolsonaro réu no caso da tentativa de golpe. Lembro que o ex-presidente foi, por mais de três décadas, deputado do chamado baixo clero da Câmara, como a imprensa apelidou os parlamentares sem brilho. Por uma série de fatores somados a uma grande dose de sorte, ele se elegeu presidente em 2018. Apostando que poderiam transformar Bolsonaro em uma espécie de “rainha da Inglaterra”, como se chama quem governa, mas não manda, empresários, generais, tecnocratas e oportunistas de todos os calibres tentaram tomar conta da administração federal. Cometeram um erro. Bolsonaro demitiu a maioria, incluindo uma dezena de generais, e só ficaram aqueles que obedeciam às suas ordens. Várias vezes escrevi que o ex-presidente não era um gênio na articulação política. Mas tinha um sofisticado senso de sobrevivência política. Daí vem a minha pergunta. Esta teimosia dele em não indicar logo que irá substituí-lo pode fazer parte de uma estratégia articulada com os seus apoiadores? O que aprendi durante os quatro anos de governo do ex-presidente é que ele não planeja nada. Apenas levanta pela manhã e faz o que lhe dá na cabeça.
Lembrei-me deste ensinamento por conta de um vídeo que assisti do ex-presidente recebendo uma intimação de uma oficial de Justiça do STF na UTI do Hospital DF Star, em Brasília, onde se internou no dia 13 de abril para fazer uma cirurgia nos intestinos. Ele xingou a oficial e disse um monte de desaforos. Logo no seu primeiro ano de governo, em 2019, entre os jornalistas o então presidente da República era conhecido como “boca de conflito”, tal era o volume de brigas que comprava com as suas declarações. Atualmente, esta é a única maneira de conseguir espaço nos noticiários. Como réu, ele já ocupa um vasto espaço na imprensa. Logo que começou a bronca da tentativa de golpe eu escrevi que Bolsonaro estava migrando das páginas da política para as policiais. Para arrematar a nossa conversa. Em quatro décadas na lida de repórter, aprendi que o fator “acaso” nunca deve ser esquecido na disputa política. Muitas vezes um acontecimento muda tudo. É exatamente nisto que os bolsonaristas estão apostando, porque sabem que, seja lá quem for o indicado pelo ex-presidente, não conseguirá polarizar as eleições com Lula. Sem a polarização são reais as chances de crescer um candidato da chamada direita civilizada. O que seria o fim dos bolsonaristas da extrema direita.
