
Depois de dois anos de quarentena, em função pandemia, obrigados a festejar os aniversários em petit comitê, finalmente, pudemos celebrar os 17 anos do meu filho, Aramis, entre amigos e familiares. Com grande parte dos brasileiros vacinados com as duas doses e, muitos com as doses de reforço, o panorama da saúde no Brasil começa a melhorar. As taxas de contágio, internação e morte diminuíram, consideravelmente, mostrando que a covid 19 arrefeceu, embora ainda inspire muitos cuidados. Alívio para quem, como nós quatro, adoramos festa e receber os amigos em nossa casa. Alegria em dobro, já que estamos na casa nova, com jardim e quintal amplos para receber amigos em reuniões maiores. Com espaço e arejamento suficientes para aproveitar os encontros em grupo. Foi o que aconteceu neste sábado.
Aramis não via a hora desse dia chegar. Preparamos tudo com muito cuidado. Confeccionamos os convites personalizados para os seus colegas de turma, no capricho, fizemos a lista de convidados com os familiares e amigos, decidimos sobre as comidas e bebidas e fizemos a produção. Sim, porque festa exige planejamento e organização. Dá trabalho. Encomendei a torta fria, o bolo e os pãezinhos para o cachorro-quente. Minha mãe fez as três pastinhas para passar nas torradinhas e eu fiz brigadeiros, como sempre. Comparamos bebidas e os ingredientes para o molho de tomate feito só com tomates. Convidamos os amigos e familiares. Busquei mais cadeiras de plástico na casa da minha mãe, emprestadas. Na sexta-feira fiz os brigadeiros e no sábado enrolei e coloquei nas forminhas. Busquei os pãezinhos na padaria, as pastinhas na casa da minha mãe e a torta fria e o bolo na doceira. Gabriel já tinha cortado toda a grama do jardim e aparado a hera do muro. Ele varreu a casa e decorou o jardim com os bonecos de super-heróis que o Aramis adora. Tudo pronto para a tão aguardada festa.
Todos banhados e arrumados e os convidados começando a chegar. E com eles, vieram muitos presentes que foram colorindo a cama do meu filho. Minha filha, Valentina, convidou alguns amigos e providenciou o som para animar a festa. A mesa foi posta no quintal, debaixo das árvores, com as pastinhas, torradinhas, bebidas, copos, pratinhos e talheres. Minhas amigas e eu montamos os cachorros-quentes que distribuímos para os convivas. Mais convidados chegando e a festa tomando conta da casa. Os jovens na maior algazarra. Alguns dançavam, outros conversavam, riam, uns jogavam “resta um”, bilboquê, montavam quebra-cabeças e se divertiam bem entrosados.
Nós, os adultos, também nos divertíamos, contando as novidades, fazendo piadas, registrando o reencontro pelas selfies, bebendo champagne e vinho, comendo e servindo a garotada. Os jovens, claro, só no suco e nos refrigerantes. Tudo na maior alegria e descontração. Aramis e sua turma também se fotografaram dançado Tik tok, fazendo palhaçadas e vivendo a sua juventude plenamente. Lá pelas tantas, o Aramis me pediu que o ajudasse a encontrar o seu caderninho de poemas para declamar alguns para os seus amigos. Uma grande roda se formou ao seu redor e ele leu algumas de suas frases poéticas e alguns de seus poemas. Recebeu palmas e foi o centro das atenções.
Ele tinha dito isso no início da festa e repetiu em alto e bom som para os seus amigos: “Quando estou com os meus amigos a vida fica muito melhor!” Verbalizando o seu prazer de ser acolhido pelo seu grupo de colegas e amigos. Ser reconhecido pelos seus pares de geração com quem pode trocar impressões sobre a vida e se sentir amado. Com quem pode aprender e ensinar. Sim, essa máxima é tão verdadeira quanto essencial para nos tornarmos cidadãos plenos e com sentido na vida. Os amigos são faróis para iluminar o nosso caminho, bússola para nos orientar em meio as tempestades e nevoeiros, olhos e ouvidos para perceber e escutar, ombros para chorar e consolar, corações abertos para rir e repartir o bom da vida. Quem tem amigos tem tudo! Não é à toa que essa outra máxima revela o poder da amizade. No caso das pessoas especiais, como é o caso do Aramis, isso é ainda mais necessário, pois alivia o desamparo de ser estruturalmente diferente, ainda que semelhante em muita coisa. E o Aramis é uma pessoa extremamente sociável, curiosa e interessada pelos outros, naturalmente afeito a alteridade e diversidade da vida. Percebo o quanto ele precisa desse suporte que só os amigos são capazes de dar. Ele estava radiante! Num determinado momento ele veio pertinho de mim e disse: “Mãe, obrigada por me dar esta festa!” Me abraçou e me beijou. Quase morri! Sim, sua sensibilidade é espantosa. Ainda que tenha limitações motoras leves e cognitivas, mais severas, ele possui um bom humor, um poder de síntese e uma veia poética admiráveis. Sua generosidade e alegria de viver produzem entusiasmo e leveza ao seu redor. Sim, nosso Mosqueteiro tem muitos talentos e habilidades que tornam a vida muito melhor. Sorte de quem convive com ele para poder desfrutar da sua amorosa e gentil companhia.

Que os seus amigos possam seguir ao seu lado formando essa teia de renda que oferece sustentação e conforto. Cabe a nós incentivar e cultivar essas amizades promovendo encontros e oportunidades para que esses laços se estreitem. Pois somo seres humanos, frágeis, vulneráveis, imperfeitos e carentes, ainda que, igualmente, tenhamos tanta força, coragem e poder de adaptação. Assim como precisamos de estabilidade e conforto material, necessitamos de abrigo e conforto emocional e psíquico. Aramis recebeu de presente chocolates e ovos de Páscoa, perfumes, camisetas, pulôver, boné, livros e um mascote do Homem Aranha. Fotografamos a sua cama som todos esses lindo presentes. Mas o que ele leva de mais precioso deste lindo dia é um coração mais aquecido pelo afeto e fortalecido pelo carinho de receber na sua casa os seus amigos. Que venham muitas mais primaveras! Feliz Aniversário meu filho!
Porto Alegre, 10 de abril de 2022.
(*) Nora Prado é atriz, poeta, professora de interpretação para Teatro e Cinema, atuou na Escola das Artes do Palco - SP.