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“PAPO RETO” ENTRE ANCELOTTI E OS JOGADORES COLOCA O BRASIL COM A MÃO NA TAÇA?, POR CARLOS WAGNER

Logo que terminou a novela sobre a vinda, ou não, do técnico italiano Carlos Ancelotti, 66 anos, para treinar a Seleção Brasileira, com o seu desembarque no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de domingo, 25 de maio, eu liguei para um colega repórter que conheci nos anos 80. Na época, ele fazia reportagens sobre o futebol brasileiro para as agências internacionais de notícias. Por ter trabalhado nestas agências, ele tem contatos com colegas em vários cantos do mundo. Por conta disso, a minha intenção era ouvir a sua opinião sobre a inédita contratação de um estrangeiro para treinar a Canarinho, como a Seleção é carinhosamente chamada pelo povo. Ele não retornou as minhas ligações nem as mensagens que lhe enviei pelo WhatsApp. Acabei me envolvendo com outros assuntos e esqueci a história do técnico da Seleção. No frio anoitecer do último domingo (15/06) de Porto Alegre, o celular tocou. Era o meu colega finalmente retornando à ligação que lhe fiz no mês passado. Deu uma desculpa esfarrapada justificando a demora, eu fingi que acreditei e começamos a nossa conversa sobre a contratação do novo técnico. Para muitos colegas que fazem a cobertura de futebol, ainda não dá para arriscar uma opinião sobre o destino de Ancelotti no comando da Seleção. Perguntei a opinião dele sobre a contratação. Ele respondeu: “Já achei que seria um fracasso. Depois de conversar com muita gente, estou pensando diferente. Ele pode dar certo”.


Pedi que explicasse melhor a sua tese. Assim explicou: “Todos os craques brasileiros estão jogando na Europa, na Ásia, no Oriente Médio e até nos Estados Unidos. Os seus interesses profissionais e econômicos estão fora do país. Portanto, que influência tem na sua vida um elogio ou xingamento recebido do técnico da Seleção Brasileira? Pouco ou nada. Mas se o elogio ou xingamento for do Ancelotti é diferente, porque o jogador sabe que ele pertence à elite do futebol da Europa. O que ele fala é importante para as direções dos grandes times europeus, que em última análise são os grandes empregadores de jogadores”. Respondi ao colega que a observação tem lógica. Acrescentei que, independentemente do sucesso ou fracasso de Ancelotti na Seleção, o certo é que no final do seu contrato ele terá uma visão bem apurada sobre a organização e a eficiência dos times brasileiros. Claro, editei a conversa que tive com o meu colega e amigo. Por isso considero importante reforçar o seguinte. Nós não comparamos os conhecimentos sobre futebol dos técnicos brasileiros com os do italiano. Falamos que ele será ouvido com mais atenção pelos jogadores pela posição que ocupa no mercado internacional do futebol. Seguindo a nossa conversa, o colega lembrou que o futebol nos dias atuais é uma tremenda “máquina de fazer dinheiro”. E a paixão pelo time fica por conta do torcedor. Resolvi puxar o assunto para outro lado. Para um papo que eu sei que sempre o irritou quando aparecia na mesa do boteco. É sobre a maneira como é feita a cobertura jornalística do dia a dia de jogadores, cartolas (dirigentes) e técnicos de futebol. Lembrei ao meu amigo que nos últimos anos a imprensa brasileira tem focado a sua cobertura no desempenho físico e técnico dos atletas. E nas estratégias dos técnicos. Para ler e entender o que um jornalista escreve sobre uma partida é preciso ter no mínimo os conhecimentos básicos da organização de um time no campo. Claro, os torcedores de carteirinha têm este conhecimento. Mas eles não são os únicos que gostam de futebol. A maioria do público sabe apenas o básico sobre os aspectos táticos e estratégicos do jogo. Estes torcedores não vão ao estádio ou se sentam na frente da televisão para discutir o desempenho técnico dos atletas e do treinador. Estão ali para se divertir. Portanto, é necessário seguir a lei maior do jornalismo: escrever a matéria de modo que todos possam entendê-la. Ele ouviu a minha explicação sem interromper e no final disse o seguinte: “Algumas coisas não mudam com o tempo.”


Pelo que ele disse, entendi que deu razão aos meus argumentos. Nos despedimos, mas antes perguntei por onde andava um amigo comum que temos. Disse que ele estava bem e agora vivia na Austrália. O nosso amigo comum é um jornalista inglês que trabalhava para as agências de notícias e nos anos 80 fazia a cobertura de conflitos agrários no Brasil. Na época, era um assíduo frequentador das manchetes dos jornais. Eu era referência para os colegas, especialmente os estrangeiros, na questão agrária, no povoamento das fronteiras agrícolas e no crime organizado nas fronteiras. Conheci o jornalista inglês durante uma ocupação de terra em Cruz Alta, no interior gaúcho, e ficamos amigos. Foi ele que me apresentou, durante um jantar em São Paulo, ao colega para quem liguei para saber o que achava do novo técnico da Seleção. Sou um torcendo comum, que pouco entende de futebol. Mas adoro ver uma boa partida. Lembro que quando comecei a trabalhar em redação de jornal, em 1979, era muito comum virar a manchete de capa sempre que um jogador, que estava em licença médica ou algo assim, era encontrado em um bar enchendo a cara. Inclusive, “os boleiros festeiros”, como eram apelidos os atletas que gostavam de festas, tinham os seus locais secretos para se encontrar. Entre os torcedores era muito comum ouvir a seguinte frase: “É festeiro, mas faz gol”. Este tipo de matéria desapareceu das coberturas. O futebol no Brasil é um assunto muito sério. Daí que, sempre que surge uma oportunidade, defendo que a cobertura do dia a dia dos times não pode ficar exclusivamente na mão dos jornalistas esportivos. Para manter o leitor bem informado é necessário atenção de quem escreve sobre economia e outros assuntos que fazem parte do cotidiano da comunidade. Os repórteres investigativos, por exemplo, deveriam se ocupar mais em desvendar as organizações criminosas que se infiltram entre as torcidas organizadas. Já participei de uma matéria sobre o assunto.


Para arrematar a nossa conversa. Ancelotti classificou a Seleção. Considero que o fato dos jogadores do Brasil saberem que estão lidando com um técnico cuja palavra é ouvida nos grandes mercados do futebol pode somar no desempenho em campo. A Copa do Mundo acontece de 11 a junho a 19 de julho de 2026. E o primeiro turno das eleições gerais em 4 de outubro. Na teoria, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Como disse, na teoria. Na prática, sabe-se que o resultado do Mundial pode influenciar aquele eleitor, que é a maioria, que decide em quem vai votar a caminho da urna. Vai ser um ano muito interessante.



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