Em meio a tantas desgraças, a distopia no Rio Grande do Sul também apresenta faces divertidas e comoventes como a do feliz reencontro de um menino com a sua galinha de estimação em um abrigo de Porto Alegre. Cenas como esta, nos enchem de esperança e trazem alento para dias cinzentos e aflitivos. Realmente um bálsamo para quem perdeu tudo nesta enchente.
Situações semelhantes tem se repetido nos abrigos de animais onde tutores e gatos ou tutores e cães se reencontram com seus pets depois de quase duas semanas de intenso sofrimento e orfandade. E isso só é possível graças ao trabalho intermitente e incansável das inúmeras equipes de busca e resgate que tem trabalhado desde o início da tragédia.
Muitos destes resgates aparecem através das redes sociais e mostram como essa gente tem se arriscado em meio ao caos para realizar centenas de salvamentos animais. Barcos carregados deles nos lembram a história bíblica de Noé, que salvou as espécies de animais terrestres dentro de uma grande arca que permaneceu a deriva ao longo do dilúvio por quarenta dias. Além de cães e gatos, foram regatados porcos, galinhas, perus, e até cavalos foram puxados pelas embarcações. Numa clara demonstração de amor e empatia pelos seres mais vulneráveis.
Chegamos ao décimo quinto dia desta calamidade e estamos todos fisicamente exaustos e psicologicamente devastados. A pressão emocional vivida por todos, uns com mais intensidade que outros, mas todos abalados pelo desastre que destruiu 445 cidades do Estado, foi algo de proporções inigualáveis. O saldo disso já começa a aparecer nas crianças, adultos e idosos que foram resgatados das enchentes em forma de pesadelos recorrentes, insônia, crises de pânico e ansiedade generalizada. Trabalho para os profissionais da saúde que atendem na acolhida, logo após o resgate, e nos abrigos espalhados por todo o Rio Grande do Sul.
Sintomas de ansiedade são observados em cachorros que continuam nadando em terra seca, movimentando as patinhas como se ainda estivem dentro da água. Sequelas aparecem em humanos e em animais, mostrando o tamanho da catástrofe e o tempo que levará para voltara ao normal. Normal? Também não tenho certeza do que isso realmente significa.
Tamanha destruição talvez jamais volte ao normal, mas à um novo patamar de normalidade.
Até lá, precisaremos de muita resiliência e solidariedade, auxílio e apoio médico especializado, fé na vida e reinvenção da própria. Serão dias desafiadores para todos, mas quero crer que sairemos fortalecidos dessa experiência tão traumática.
Enquanto isso sigamos buscando encontrar sentido no caos, alegria na tristeza e esperança na melancolia. Como a imagem de contentamento absoluto do menino junto a sua galinha de estimação. Se você puder, adote um cachorrinho ou um gatinho, as ongs animais agradecem.