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CAPƍTULO 3 - O MAPA DA DESIGUALDADE RACIAL: UM PAƍS PARTIDO PELA COR

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por Alexandre Costa | jornalista


O Brasil é a maior nação negra fora da África. Ainda assim, é também o país onde ser negro significa viver menos, ganhar menos, estudar menos, sofrer mais violência e ter menos acesso à justiça. As estatísticas não deixam margem para interpretações inocentes: a desigualdade brasileira tem nome, tem cor e tem endereço.

O que os dados mostram Ć© devastador, mas necessĆ”rio. Este capĆ­tulo revela o mapa da desigualdade racial no paĆ­s — e mostra por que o Rio Grande do Sul, apesar de ser o estado mais branco do Brasil, Ć© um dos territórios onde essa desigualdade se manifesta com mais forƧa.

BRASIL: A MAIOR POPULAƇƃO NEGRA FORA DA ƁFRICA

Segundo o Censo 2022, 55,5% dos brasileiros sĆ£o negrosĀ (pretos + pardos).Em nĆŗmeros absolutos, sĆ£o mais de 112 milhƵes de pessoas — maior que toda a população de muitos paĆ­ses. Mas esse protagonismo demogrĆ”fico Ć© acompanhado por uma exclusĆ£o sistemĆ”tica:

• negros morrem mais

• negros sĆ£o presos mais

• negros estudam menos

• negros ganham menos

• negros tĆŖm menos acesso Ć  saĆŗde

• negros vivem em territórios mais precĆ”rios


O Brasil vive sob o mito de que é uma democracia racial. Os números, porém, contam outra história.

RENDA: BRANCOS GANHAM 64% MAIS

A PNAD ContĆ­nua mostra que:

• um trabalhador branco ganha, em mĆ©dia, atĆ© 64% maisĀ que um trabalhador negro

• mulheres negras tĆŖm a menor renda do paĆ­s

• negros sĆ£o maioria em trabalhos informais, precĆ”rios e de baixa remuneração

O salÔrio é um espelho direto da herança escravocrata. O mercado de trabalho ainda organiza funções a partir da lógica colonial: quem comanda é branco; quem serve é negro.


EDUCAƇƃO: O ACESSO CHEGA, MAS A DESIGUALDADE RESISTE

Ensino Superior (Brasil)

• 25,8% dos brancos tĆŖm diploma universitĆ”rio

• apenas 12,3% dos pardos e 11,7% dos pretos chegam lĆ”

O avanço das cotas a partir de 2012 mudou o cenÔrio: pela primeira vez, negros passaram a ocupar metade das vagas nas universidades públicas.

Ensino Superior (RS — Ufrgs)

• antes das cotas: menos de 8% de estudantes negros

• depois das cotas: aproximadamente 27%

A diferenƧa Ć© gigantesca — e mostra a importĆ¢ncia das polĆ­ticas pĆŗblicas de reparação.


VIOLƊNCIA: O ESTADO MATA MAIS QUEM Ɖ NEGRO

O Atlas da ViolĆŖncia revela:

• 76,5% das vĆ­timas de homicĆ­dio no Brasil sĆ£o negras

• jovens negros tĆŖm quase 3 vezes mais chancesĀ de serem assassinados

• a letalidade policial atinge majoritariamente homens negros

No Brasil, a cor da pele define o risco de morte.


PRISƕES: O NEGRO Ɖ O ALVO PREFERENCIAL DO CARCERE

Segundo SENAPPEN:

• quase 70% da população carcerĆ”ria do Brasil Ć© negra

A criminalização do negro é um processo contínuo que começou com a abolição sem reparação. A escravidão terminou, mas a vigilância permanente continuou.


SAÚDE: A VIDA NEGRA VALE MENOS

• mulheres negras morrem atĆ© duas vezes maisĀ por causas relacionadas Ć  gravidez

• negros tĆŖm menos acesso a exames preventivos

• a mortalidade precoce Ć© maior entre jovens negros

O racismo também é um problema de saúde pública.

TERRITƓRIO: O CEP Ɖ UM DESTINO IMPOSTO

O Brasil é geograficamente segregado. E Porto Alegre é um dos exemplos mais explícitos dessa divisão:

Bairros brancos

• Moinhos de Vento• Bela Vista• Petrópolis• Mont’Serrat• TrĆŖs Figueiras

Bairros negros

• Restinga

• Bom Jesus

• Mario Quintana

Rubem Berta

• Lomba do Pinheiro

O mapa racial de Porto Alegre é o mapa de sua desigualdade. O mesmo padrão se repete no país inteiro: centros e zonas nobres brancos; periferias e favelas negras.


RIO GRANDE DO SUL: O ESTADO MAIS BRANCO E, AO MESMO TEMPO, UM DOS MAIS DESIGUAIS


Dados essenciais

• população negra: 21,4%

• brancos: 78,4%

• população prisional negra: entre 65% e 70%

• risco de morte de jovens negros: 3 a 4 vezes maior

• renda negra: 40% menor

• presenƧa negra na universidade: cresce apenas com cotas

A geografia da exclusĆ£o gaĆŗcha nĆ£o Ć© acidental. Ɖ o resultado de trĆŖs sĆ©culos de escravização e de mais de um sĆ©culo de polĆ­ticas de embranquecimento, apagamento cultural e segregação urbana.


O Sul nĆ£o estĆ” fora da história brasileira da desigualdade. O Sul é a história — apenas mais silenciada.


POR QUE OS NÚMEROS IMPORTAM

Os dados não estão aqui para explicar o óbvio. Estão para desmontar o mito que sustentou o país por décadas: a ideia de que somos um povo miscigenado, cordial, sem conflitos raciais profundos.


As planilhas mostram que:

• nĆ£o existe desigualdade sem raƧa

• nĆ£o existe violĆŖncia urbana sem raƧa

• nĆ£o existe pobreza sem raƧa

• nĆ£o existe exclusĆ£o educacional sem raƧa

E, ao mesmo tempo:

• cada polĆ­tica pĆŗblica que avanƧa reduz desigualdade racial

• cotas funcionam

• programas sociais funcionam

• presenƧa negra em universidades transforma o paĆ­s

• narrativas negras reescrevem a história

Os nĆŗmeros mostram o tamanho da ferida — mas tambĆ©m mostram onde comeƧa a cura.


ENTRE O PASSADO E O FUTURO

Quando olhamos para o mapa da desigualdade racial no Brasil, percebemos que nĆ£o Ć© apenas um mapa social. Ɖ um mapa histórico. A escravidĆ£o durou mais de 320 anos. A abolição sem reparação completa 137. O paĆ­s viveu muito mais tempo produzindo racismo do que combatendo suas consequĆŖncias.


E Ć© por isso que, para enfrentar o presente, Ć© preciso antes entender o passado e reconhecer quem sempre sustentou este paĆ­s: o povo negro.


No próximo capĆ­tulo, vamos ao coração da resistĆŖncia, das expressƵes culturais e da espiritualidade — os lugares onde o Brasil negro criou cura, sentido e sobrevivĆŖncia.

Alexandre Costa é responsÔvel pelo www.esquinademocratica.com.br 

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