Há algumas semanas, o Roger Machado, treinador profissional de futebol, foi vítima de racismo. Sua família, incluindo sua filha, foi alvo de injúrias de teor racista. Roger afirma, com propriedade, que a ideia de democracia racial é apenas um mito. A segregação e a intolerância são materiais no Brasil. Avança ainda para dizer que os racistas estavam contidos e escondidos, mas a postura e visão de mundo do presidente do país autorizou o exercício livre do racismo. Roger diz, textualmente “Os indivíduos (racistas) que estavam escondidos (porque a sociedade os reprimia) se sentem autorizados a se manifestar segundo as posturas e pontos de vista do líder da nação, (porque estes) são convergentes.”
A reação da extrema direita foi imediata e previsível. Roger Machado foi criticado por fazer tal afirmação, mas não a embasar em fatos. As tradicionais vozes da direita correram a dizer que ele não poderia afirmar que o presidente neofascista estaria diretamente envolvido com o aumento da violência e do racismo no país. Estaria, portanto, “fazendo política”. Como se seus detratores não o fizessem. Como se a hierarquia social e racial fosse natural e a tentativa de subvertê-la, pura e repugnante política.
Em outra tragédia do mundo neoliberal, vieram as evidências de que Bolsonaro espalha, consente, legitima e organiza a maldade. Em Sergipe, um homem foi executado por policiais rodoviários federais que o submeteram a uma “câmara de gás” até a morte.
Em um consistente artigo, Benedito Mariano torna evidente a relação que há entre racismo, supremacismo, exploração do trabalho, dominação e política. Benedito Mariano relembra a iniciativa do governo Bolsonaro, com o ex-juiz Sergio Moro à frente do Ministério da Justiça, de ampliar o instituto do “excludente de ilicitude” para conceder uma verdadeira licença para matar à polícia que mais mata no mundo, em especial trabalhadores negros. Como denuncia a imprensa internacional e a anistia internacional, após mais uma chacina inexplicada ocorrida no país.
Mesmo rechaçada pelo Congresso Nacional, essa iniciativa política do governo da extrema direita resultou por indução em efetividade informal de seu cumprimento. Quando os policiais eliminam aquele homem negro, o estão fazendo porque receberam a legitimação política para exercer o racismo, para a eliminação do diferente, para a segregação dos pobres, para aplicar a violência sem pudores, mas discricionariamente, contra as classes trabalhadoras.
A relação que Mariano nos apresenta em seu artigo, entre a violência e uma iniciativa política do governo Bolsonaro, torna cabal a conclusão de que o governo Bolsonaro armou uma milícia, paramilitar, para subordinar a sociedade à sua visão de mundo e efetivar sua política destrutiva, antidireitos sociais.
Cada um de sua posição, mas ambos a partir da mesma visão humanista, Roger e Benedito foram certeiros: Bolsonaro é o legitimador e seu governo o organizador do mal, agora liberto, que aflige a maioria da população brasileira. (*) Jorge Branco é Sociólogo, Mestre e doutorando em Ciência Política. Diretor Executivo da Democracia e Direitos Fundamentais.