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FAKES NEFASTAS

por Nora Prado (*)

Esta semana terminei de ler o livro “Woody Allen, a Autobiografia”, de autoria do próprio artista e confesso que além de ter adorado conhecer os pormenores de sua infância e juventude, o início de carreira com todos os percalços, sucessos e aprendizados até tornar-se o grande diretor de cinema que é, passando pelos seus romances e casamentos, fiquei revoltada com a injustiça e perseguição sumária promovida pela mídia e por grande parte dos atores, mesmo que ele tenha provado a sua inocência no caso do suposto abuso à sua filha menor, Dylan.

Ele dedica um capítulo inteiro para narrar com detalhes, sórdidos, toda a trama, nefasta, armada pelo sua ex-mulher, Mia Farrow, ao descobrir o romance dele com a sua filha adotiva Soon – Yi Previn, embora o seu casamento já tivesse chegado ao fim e sua relação com a moça tenha sido um caso consentido. Soon -Yi era uma jovem adulta de 21 anos e ambos estavam apaixonados um pelo outro. Além disso, Soon- Yi fazia a faculdade e não morava mais com a mãe, para o seu alívio.


Por trás do aparente verniz de bondade que sempre foi divulgado sobre o caráter altruísta de Mia, em relação aos filhos, o que os seus filhos adotivos relatam é uma rotina de dois pesos e duas medidas em relação ao tratamento dispensado aos filhos adotivos e aos filhos biológicos. Com direito a surras e maus tratos, além de ofensas pessoais, principalmente em relação à Soon- Yi a quem ela se dirigia como a “retardada” e com quem Woody só foi se aproximar anos mais tarde, ao contrário de Moses e Dylan, de quem cuidou e se relacionou como um pai presente e amoroso. Mesmo que durante todo o relacionamento de doze anos com Mia cada um morasse em casas separadas. Aliás, esse é um aspecto que, naturalmente, contou para essa percepção equivocada dele em relação ao real tratamento abusivo de Mia para com as crianças.


Uma série de provas robustas de toda a manipulação feita por Mia em relação à Dylan, incluindo encenações com texto decorado e tudo, suas estratégias foram desmascaradas pela babá e empregada que trabalhavam na casa e presenciaram esses ensaios patéticos, bem como pela própria Dylan, uma criança de sete anos na época, que se desmentiu. Além disso, foi feita uma exaustiva investigação para apurar todas as acusações, que resultaram na conclusão de que não houve crime algum por parte do acusado. Woody Allen se submeteu inclusive a passar pelo detector de mentiras ao que Mia se esquivou, mais uma vez, dando provas de sua fragilidade e inconsistência das suas supostas provas.


Mesmo assim a mídia não foi capaz de se desculpar nem pedir perdão ao principal prejudicado, além de Dylan, naturalmente. Proibido por Mia de se aproximar da filha e do filho, Woody, foi forçado a uma interrupção absurda no seu relacionamento com os filhos. Moses, teve maturidade e discernimento e o procurou, anos mais tarde, e puderam reatar os laços, mas o mesmo, infelizmente, não aconteceu com Dylan. Provavelmente envenenada, por anos a fio, pela própria mãe ela passou a acreditar nas mentiras inventadas por Mia. Nunca mais se aproximou do pai e na idade adulta voltou à carga publicando um depoimento jornalístico sobre o suposto abuso. Desta vez, esmiuçando os detalhes, ficou ainda mais evidente que a farsa não tinha pé nem cabeça, pois Dylan menciona que foi abusada pelo pai enquanto eles brincavam com um trenzinho elétrico no sótão da casa de campo. Detalhe: o sótão sempre foi um local entulhado de coisas sem luz suficiente e jamais qualquer membro da família utilizou o ambiente para lazer. Enfim, numa última tentativa de denegrir a imagem do seu pai, os jornais e parte da imprensa comprou a velha história e reascendeu a polêmica, prejudicando mais uma vez o cineasta.


O interessante de tudo isso é que apesar de provar a falsidade de todas as acusações com farta documentação, eximindo-se de julgamento, parte da mídia o seguiu condenando, assim como muitos dos seus pares, para seu desgosto e nossa decepção.


Abordo esse fato, especificamente, para alertar sobre o perigo das fake news, pois se num país de primeiro mundo, já é um inferno reestabelecer a verdade dos fatos, imaginem o que isso significa para o Brasil, país atrasado com um campo propício a esta prática deplorável. Lembrando de que somos vítimas de um golpe de Estado ocorrido em 2016 que depôs uma presidente legitimamente eleita no qual a mídia oficial, salvo algumas exceções, até hoje não corrigiu essa aberração. A maioria se refere à deposição de Dilma Roussef como impeachment, sem que tenham a decência de dar nome aos bois.


Com todo o arsenal de fake news diárias, recentemente comprovadas pela Vaza Jato, a farsa da Lava Jato impediu que o principal líder de oposição concorresse as eleições de 2018 e ainda por cima fez com que o juiz ladrão ganhasse o cargo de ministro da justiça no governo Bolsonaro pelos serviços prestados ao mesmo. As fakes da “mamadeira de piroca” amplamente disseminadas por robôs e gente mal intencionada foi uma das mais bem sucedidas fakes, e um dos exemplos dessa prática vergonhosa para enganar grande parcela do eleitorado mais ignorante e refém desse tipo de notícia. Infelizmente a grande mídia não teve o menor interesse em desmenti-las.


Apesar de “o escritório do ódio” ter sido denunciado por espalhar as fakes, bem como o uso de disparos em massa através do whatapp e mídias sociais, essa prática segue sendo utilizada por políticos criminosos e espalhadas como rastilho de pólvora através da internet. Apesar do competente e sério trabalho feito por várias agências de investigação de fatos, a maioria do povo não costuma averiguar a fonte ou a veracidade da informação e a passa adiante indiscriminadamente.


Podemos atestar isso pela quantidade de informação falsa circulando sobre as vacinas para citar apenas mais um triste exemplo desse triste fenômeno. Dentre tantas notícias estapafúrdias, algumas são até engraçadas, quando não absurdas.


Espalham que a vacina chinesa é capaz de mudar o sexo e algumas vem com um implante para monitorar quem a recebe. A mais tosca veio de um pastor evangélico que tem espalhado o infeliz boato de que a vacina transmite AIDS, uma barbaridade!

É preciso levar em conta que diante do retrocesso e ignorância no qual este governo se impõe, a miséria física e intelectual de grande parte da população aceita essas notícias como verdadeiras e as disseminam como vento. Logo, não é de admirar que haja um movimento anti-vacina no país em pleno 2020.


Oxalá nos salve das fake news e que a ciência seja vencedora! Que em 2021, finalmente, tenhamos a vacina e um calendário de vacinação em massa para o nosso Brasil tão fragilizado diante da incompetência e má fé de seus governantes.


Apesar de tudo, sigamos de mãos dadas respeitando todos os protocolos de higiene e distanciamento social, mascarados. Feliz 2021 para todos!


Porto Alegre, 30 de dezembro de 2020.


SOBRE A IMAGEM O artista inglês Slinkachu criou um projeto incrível que engloba instalações de arte e fotografia. Tendo como palco as grandes cidades ele monta diversas situações, e todas elas estrelando miniaturas. Aonde os cidadãos menos esperam, são surpreendidos por pequenos bonecos e cenários sensacionais. O artista afirma que, com o trabalho, quer encorajar as pessoas a prestarem mais atenção ao mundo a sua volta. As intervenções tem predominantemente um tom humorístico, mas também retratam questões sérias como o meio ambiente, os impactos da globalização, solidão e melancolia nas cidade grandes.


* Nora Prado é atriz, professora de interpretação para Teatro e Cinema, atuou na Escola das Artes do Palco - SP.

 
 
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