DIA DOS PAIS: DIGNIDADE SEMPRE PRESENTE ENTRE O PASSADO E O FUTURO
- Alexandre Costa

- 10 de ago.
- 2 min de leitura
por Alexandre Costa, em homenagem ao meu pai Bruno Mendonça Costa

O tempo voa, mas alguns episódios deixam marcas profundas nas nossas vidas. Quando criança, eu montava nos ombros do meu pai, tal qual um cavaleiro, corajoso e destemido, diante de um mundo desconhecido e dos desafios que se colocavam à nossa frente. Ainda lembro da falta que senti do meu pai, quando em 1971 ele foi preso pela ditadura militar. Eu tinha apenas três anos de idade. Fiquei com meus avós. Quando o pai voltou, alguns meses depois, segui usando seus ombros para os meus imaginários confrontos quixotescos. Mas, assim como a nossa vida, o Brasil nunca mais foi o mesmo.
Ao longo dos anos, o que mais me deixa feliz são pequenos ensinamentos que talvez tenha passado desapercebido e que hoje tenho consciência do valor que têm e que foram construídos a partir de pequenos gestos. Seja no jeito de segurar a mão, na paciência ao ensinar, no olhar crítico, no abraço acolhedor na hora difícil ou no silêncio que conforta mais do que mil conselhos. No próximo dia 28 de agosto, meu pai receberá o Prêmio Rubens Paiva de Defesa dos Direitos Humanos, concedido pela Associação dos ex-Presos e Perseguidos Políticos do Rio Grande do Sul. É um reconhecimento à sua postura digna, durante a resistência à ditadura militar; e também uma homenagem a Rubens Paiva, deputado cassado, preso e assassinado pelos órgãos de repressão nos anos de chumbo.
No dia dos pais, minha memória volta a 1971. Naquele tempo, eu não entendia o que significava uma ditadura. Hoje, décadas depois, compreendo que, junto com ele, levaram também uma parte da nossa vida e da nossa infância (minha e da minha irmã).
Ao ler Feliz Ano Velho, o primeiro livro de Marcelo Paiva, passei a refletir sobre a dor que seria conviver com perguntas sem respostas. Por vezes, questionei sobre como teria sido nossas vidas se meu pai tivesse sido morto nas sessões de tortura comandadas por Pedro Sellig e Nilo Hervelha, no DOPS-RS, ou pelo coronel Brilhante Ustra, na OBAN em SP? Como teria sido crescer sem ele?
Este sentimento pelo medo do que poderia ter acontecido se meu pai não tivesse sobrevivido ao cárcere se misturaram com algumas coincidências: assim como Marcelo, também sou jornalista, além das nossas mães terem o mesmo nome (Eunice) e ambas enfrentaram ou enfrentam o Alzheimer — uma doença que apaga memórias, mas não o amor. Meu pai sobreviveu à máquina de moer gente da ditadura e ainda hoje carrega na alma as marcas da violência.
Todos os dias, desde que foi diagnosticada com a perda da memória, vejo a dignidade do meu pai, nos cuidados com a minha mãe.
Feliz dia dos pais, Bruno Mendonça Costa. Parabéns pelo prêmio Rubens Paiva de Defesa dos Direitos Humanos e obrigado pelos ensinamentos, entre eles o mais importante: de que a vida se constrói com pequenos gestos, tal qual o carinho e a dedicação que demonstra diuturnamente nos cuidados com a tua Eunice, que “ainda está aqui”! 📲 CURTA, COMPARTILHE, COLABORE E CONTRIBUA
WWW.ESQUINADEMOCRATICA.COM.BR
jornalismo livre e independente







