top of page

Conto do escritor e jornalista Paulo de Tarso Riccordi conquista o 1º lugar no Prêmio Internacional Pena de Ouro

O escritor e jornalista Paulo de Tarso Riccordi recebeu nesta semana a comunicação de que ficou em primeiro lugar no 4º Prémio Internacional Pena de Ouro, promovido pela Casa Brasileira de Livros. Em 2023, pela primeira vez em sua história, os premiados recebem um troféu especialmente concebido para esta edição pelo artista plástico Guilherme Marques, com cerca de 25 centímetros de altura, feito de aço cortado a laser e com detalhes banhados a ouro.


Confira abaixo a mensagem recebida por Riccordi:

"Prezado Paulo, receba os nossos mais sinceros parabéns! O seu conto "O coche" foi o 1° colocado da categoria no 4° Prémio Internacional Pena de Ouro!

Foram 1137 contos inscritos de diversos países diferentes. É um feito memorável!

O júri foi composto por convidados de nove países. São eles: Arménio Vieira (Cabo Verde), Yao Feng (Macau), Ricardo Movits (Brasil), Tony Tcheka (Guiné-Bissau), Orlando Piedade (São Tomé e Príncipe), Alvaro Taruma (Moçambique), Sebastião Burnay (Portugal), Lucas M. Carvalho (Brasil), Rosa Soares (Angola), Lukeno Alkatiri (Timor-Leste) e Gabriel Figueiraes (Brasil)".


Para conferir o resultado completo, basta clicar no link abaixo:


confira o conto: O COCHE

 Paulo de Tarso Riccordi

 

"A utopia cria o

homem superior"

 

Antônio Cândido

 

 

I

 

Nos últimos dias de novembro ele terminou de construir um coche de seis lugares, além da boléia. Ao final de dois meses olhava sua melhor criação. Teve certeza que esse era o melhor produto. Cada madeira ali tinha o registro de sua arte. Sentira facilidade, integração, alegria ao trabalhá-las.

Os beirais da carruagem pareciam bordados. A serra fina os moldara com cuidado e precisão. Não desperdiçou uma única tábua. Não perdeu um único corte. Com a grosa abrandou as quinas. Com as lixas terminou de dar forma e delicadeza ao desenho. Os varais estavam macios para acariciar as ancas dos cavalos que os puxariam. As molas transformavam os bancos em poltronas, capazes de abrandar mesmo viagens mais longas. A escada dobrável era puro engenho, elogiável e imitada depois pelos carpinteiros de 50 quilômetros ao redor. Não rangia. Não havia vãos nem desníveis. As juntas e os encaixes não apareciam. Os buracos dos pregos estavam cobertos por parafina. Era um coche para burgueses. Bastava olhá-lo para saber que não era coisa nem para gerente de banco. Mas não o planejara para isso. Trabalhara menos para o lucro e mais para o prazer da obra perfeita e para ouvir dizerem:

- É obra do Teodoro Albero.

Um especialista, reconhecia-se, orgulhoso. Dia a dia extraíra aquelas formas da cabeça, trabalhando a madeira segundo sua vontade. Absolutamente nada ali fora agrupado sem um plano longamente premeditado. Nada fora feito por simples reflexo ou improviso, mas sim prefigurado, determinado pela certeza antecipada. Cada junta, cada encaixe fora decidido antes que a madeira fosse cortada, segundo a imposição do desenho dos veios. O próprio objeto se impõe à sensibilidade da mente superior do artista que com ele interage. Não havia ali um único prego que não fora examinado antes de ser cravado, a ver se correspondia à qualidade da madeira a que estaria unido até não serem mais reconhecíveis. Geração da vontade. O homem pensa. Eis seu poder. Ali estava a materialização da crença de que entre o mundo das idéias e o mundo dos objetos há pontes que passam pelas mãos. Ele as esfregava, sentindo os calos e cheirando o perfume da madeira nelas entranhado.

 

Quando chegou em casa ainda não eram cinco horas. Chegou transbordando excitação. Encontrou a mulher gerenciando o banho da criançada.

- Vem ver uma coisa.

- Agora tô ocupada com o banho...

- Vem.

Ela foi, empurrada por ele. À porta do galpão estancou, surpresa. Era, de fato, o coche mais lindo que já vira.

- É perfeito!

Teodoro ria, os olhos cheios dágua, orgulho e emoção.

- Vamos dar uma volta.

- Mas olha como eu estou!

- Vem.

Agora não importava que para construir aquela carruagem tivesse empatado tudo o que faltara em casa por dois meses. O lucro de sua venda lhes daria pelo menos cinco meses de vida boa.

Mas Teodoro Albero não pensava nisso. Não pensava em mais nada que não exibir, o mais amplamente, o mais demoradamente, a evidência de seu talento. Há dois meses, no suor do esforço de então, antevira-se como agora, descendo a avenida com toda a família aboletada no mais lindo coche que a cidade viria a conhecer.

Desceu a rua até o fim, passando devagar diante dos palacetes dos donos do lugar.

- Não há dinheiro nesta cidade para comprar meu carro.

Juntou as rédeas na mão esquerda e baixou a outra para a coxa da mulher. Logo estavam voltando para casa, no vagar dos poderosos.

 

II

 

Ainda naquela semana Teodoro recusou a primeira oferta que lhe fizeram pelo coche. Um plantador de arroz no Brasil e no Uruguai apareceu na carpintaria cheio de si, com uma bolsa de dinheiro. Assistira à exibição na avenida. Não confessaria, mas estava encantado. Vinha disposto a pagar até dez, talvez quinze por cento a mais do que julgava ser o valor justo.

- Bonito seu carro, seu Teodoro.

- Nem é bonito, nem é carro, doutor. Este é o mais perfeito coche que o senhor verá em vida. A beleza é apenas a forma adequada para sua alma: minha carpintaria a serviço de meu talento.

Era verdade.

- Já vi coisa tão boa como esta em Coimbra e no Porto, onde estive em férias no inverno. - Havia que impor limites a esse operário pretensioso.

- Talvez quase tão boa, doutor. Para se medir com este teria que ser trabalho de algum raro mestre castelhano. Mas estão eu desempataria com minhas caleças, ou com as seges.

- Eu levo o coche por 1.500 contos.

- Aqui não há comprador para essa qualidade de trabalho - respondeu Teodoro, para surpresa do velho, acostumado a dobrar homens e mulheres pelo temor ou pelo dinheiro.

 

- Reflita. Quanto quer por ele? Posso oferecer algo entre 1.800 e 2 mil contos.

- O senhor não perceberia a diferença entre um coche de 1.800 e um de 2 mil. - Caminhou para o portão, sinalizando que a conversa terminara. - Este é um carro para apreciadores da arte em carpintaria. E isso é muito difícil medir em quantidades.

 

O coronel se foi. Teodoro era um orgulhoso construtor de carroças, capaz de mergulhar na merda para recusar-se a vender a quem não soubesse apreciar sua obra. Aumentou sua fama e conquistou mais um inimigo. Na verdade quase dois, porque a esposa deu-lhe as costas na cama quando soube. Aquela dinheirama pagaria todas a dívidas acumuladas e ainda lhes sustentaria por cinco ou seis meses.

 

 

Teodoro atravessou a fronteira, mas tampouco lá encontrou quem merecesse comprar o coche.

Semanas depois o embarcou num vagão da Viação Férrea rumo a Pelotas, em busca da burguesia ilustrada.

Fez ponto na praça Pedro Osório, diante do teatro. Nos finais da manhã e da tarde saía para o desfile-exibição. Em três dias se transformou no assunto do momento. Recusou uma quantidade de propostas sem sequer ouvir o valor ofertado. Antes que se pronunciassem, detinha-se a observar a pessoa desde sua aproximação. Eram descartadas ainda mudas, por antecipação. Não se equivocava jamais. Sequer roupas bem cortadas em tecidos importados eram capazes de esconder-lhe tipos superficiais ou arrivistas. Nem em pesadelo admitiria o desgosto de ter sua arte submetida a quem a quisesse como moldura de si próprio.

Essa formosura seria entregue somente a quem soubesse estar na presença de algo nunca visto; a quem extraísse prazer simplesmente por estar diante de uma manufatura superior.

 

 

Um longo mês após sua chegada e dois dias antes da exaustão, Teodoro conheceu àquele a quem desejaria vender seu coche. Um empregado doméstico foi à praça convidá-lo à casa. Ex-embaixador do país em Buenos Aires e Caracas.

 

O coche foi levado para o pátio interno do palacete, onde o homem o examinou por bem vinte minutos - e Teodoro a ele. O silêncio do embaixador gritava de admiração. Seu olhar era surpresa, sua boca, eloqüente alegria, suas mãos, prazer do toque. As deslizou pelas madeiras, pelos tecidos, pressionou os estofados, acercou a mirada, aproximou o olfato.

- É perfeito - declarou, enfim e somente.

Levou esse silêncio de assombro até à biblioteca, onde beberam, calados, um licor, os olhos do embaixador percorrendo Teodoro. A solenidade proporcionada pelas paredes de livros sublinhou cada frase ali pronunciada.

- Não há preço que pague essa obra, senhor Teodoro.

- Sugira algo.

- Qualquer valor que se cogite, por alto que seja, será uma ofensa a seu trabalho. Eu nunca vou esquecer o prazer e a honra de ter estado diante dessa obra.

Teodoro ergueu-se, aturdido. Para esse cavalheiro ele entregaria o coche por qualquer coisa que cobrisse o material e algo mais!

- Eu... - O Artista não tinha como contornar a situação. O embaixador o abraçou, comovido, e ele não tinha nem os 2 mil do arrozeiro nem os 800 que cobririam o investimento! Nem o prazer espiritual, nem a satisfação de sua miséria material.

- Eu...

- Dom Teodoro, este foi o dia mais feliz de minha vida.

Levou para casa uma fotografia, ele na boléia do coche, mandada fazer pelo embaixador, o muy sensível.

 

III

 

Voltou com o coche para casa quando sobrara somente o dinheiro para o transporte pela ferrovia. Chegou de estômago vazio.

 

Transcorreram os dias e as semanas. As contas nos armazéns, as dívidas com parentes e amigos e as novas necessidades se somavam às anteriores angustiantemente. E o magnífico coche, potencial redentor de toda essa miséria, estacionado na carpintaria sob lonas. Teodoro tremia à idéia de a desgraça material o arrastar ao bolso de qualquer um. Uma obra tão magnífica acabar trocada por conta de armazém...! Antes os cavalos que o coche. Vendeu os cinco para renovar empréstimos. Quando vendesse o carro sairiam definitivamente do buraco e ainda teria reservas para fabricar algo elegante e de saída rápida.

Duro era ouvir a prudência da mulher:

- O que investiste nesse carro daria pra fabricar seis carroças.

- Mas o coche vale muito mais que dez, doze carroças, mulher.

- Vale pra quem?! Cadê o dinheiro que ele vale? As carroças já estariam todas vendidas, nós estaríamos comendo e tu já estaria produzindo outras tantas.

- Vale pra mim. Valeu pra demonstrar que eu sou o melhor carpinteiro de toda a região, de todo o estado! Todos me admiram. Dizem: "esse é dom Teodoro!" A burguesada me cumprimenta na rua. Vem gente de longe conhecer o coche. Isso não vale nada?

- Pára, louco, pára! Teu orgulho não cura nossa fome. Não nos serve de nada se tu és o melhor ou o pior. De nada! O mais matão construtor de carroças não tem o bispo à porta mas come todos os dias. Já a família do artista aqui tem que escolher quando almoça e quando janta. Nunca no mesmo dia. O coche é lindo, sim. Tu és o maior. Se tu vendesses quatro deles por ano nós seríamos ricos. Mas é necessário apenas uma simples carroça por mês para nos manter vivos e comendo.

 

 

Micaela acordou chorando na madrugada. Ardia em febre. Chovia forte. Com a filha fervendo contra seu peito sob o poncho, Teodoro saiu em busca do médico. Já não havia cavalos. Caminhou no barro gelado, em choque com o suor que lhes empapava os corpos, a cara lavada pela chuva e pela vergonha da miséria. Teria que pedir ao médico que saísse da cama àquela hora para os atender de favor e ainda que desse amostra grátis.

E o coche parado na carpintaria.

 

Acordou somente no final da tarde. Dormira como quem morre. Morrera. Havia tomado a decisão: fabricaria carroças. Carroças comuns. Das que toda gente precisa e compra. Trabalho para todos os dias, dinheiro para todos os meses. Poderia produzir duas, talvez três carroças por mês. Teria pouco, mas teria sempre. Conseguiria viver sem pressões, sem dívidas, sem medo que faltasse para os filhos.

Assim fez Teodoro Albero. Em ano e meio estava livre das dívidas fabricando veículos úteis e baratos. Criara duas versões de carroças para um cavalo, com boléia aberta, baú fechado e calafetado. Uma para entrega de pão. Outra, revestida de folhas de zinco e compartimento para barras de gelo, para entrega de leite. O pão sem poeira e o leite conservado por muito tempo transformaram esses modelos em sucesso absoluto.

- O senhor é um gênio, dom Teodoro!

Lhe ardia no peito esse sucesso que o impedia de parar. Dia após dia as fabricava, com competência e amargura.

Uma manhã a esposa vai à carpintaria. Ainda à porta o vê, sem ser vista, discutindo o preço de uma carroça com o dono de um tambo. Arrogante, o homem argumenta que já comprou seis geladeiras e que portanto tem direito ao desconto que quer impor. É pouco mais que o custo de fabricação.

- Se não fosse eu te comprar tanta carroça e fazer teu cartaz, tu ainda andarias aí devendo em cada esquina.

Ao invés da explosão, o marido cedeu, subalterno, sem orgulho. Anita se ocultou, para que ele não soubesse que o vira morto. Ela temia os efeitos da vitalidade dele. Antes tê-lo assim.

 

IV

 

Num final de tarde surgiu na carpintaria o novo Juiz da Comarca. Desinformado, perguntou se Teodoro saberia construir um carro de viagens tão resistente e engenhoso quanto suas carroças, "embora mais sofisticado e sóbrio, naturalmente". Encomendou-lhe um tílburi para as viagens de trabalho.

 

 

O que o meritíssimo recebeu meses depois foi muito mais do que pudera sonhar. Com as mãos às costas andou lentamente em torno da charrete, inclinando-se para melhor observar isso e aquilo. Madeiras, metais, couros, lonas, tecidos, tudo submeteu a seus olhos, dedos, nariz.

- Senhor! - surpreendeu-se, procurando sem sucesso o ponto onde as tábuas se uniriam, tornado invisível por uma massa de pó de madeira com cola. Parafina cobria os buracos de pregos, impedindo a passagem de água, mas permitindo a visão da cabeça de cobre.

Finalmente voltou-se para Teodoro. Examinou-o também detidamente.

- Que rara excitação o senhor me proporciona! Este seu trabalho lembra-me de um formoso coche que andou por Pelotas há anos. Era magnífico, mas este seu tílburi...!

- Não, doutor. O coche é mais perfeito.

- Ah, o senhor o conheceu? Era lindo, mas este...

Este, aquele, este, aquele, Teodoro dirigiu-se ao fundo da carpintaria, agarrou as lonas que cobriam um grande volume e puxou-as, desvelando o coche que dormia.

Entre lâminas de poeira suspensa pelo sol filtrado pelas frestas da parede, ali estava ele, majestoso, luzindo na penumbra, impondo silêncio reverente.

Os dois estavam hipnotizados pela beleza.

O juiz tomou as mãos de Teodoro entre as suas. As beijaria, se ele permitisse.

- Nunca imaginei que um dia pudesse... Pensei que fora vendido!

- Este coche, por diferentes razões, se tornou incomprável. Passou a não ter preço e depois a não ter valor.

Nunca, nunca Teodoro havia admitido o que sentira desde que extraíra o coche de si.

- O que ele me custou deixou de ter correspondência monetária. Me tornei o empecilho entre ele e o hipotético homem mais rico e mais sensível do mundo. Provavelmente será meu carro fúnebre. Dará às minhas exéquias o valor que não tive em vida. Ele me matou, ele me levará ao túmulo.

Jogou a lona de volta sobre o coche e voltou ao juiz.

- Nosso assunto era o seu tílburi.

Os sentidos do juiz estavam todos expostos. Não conseguia afastar a visão do coche. Aquele galpão transfigurara-se e ele tomara consciência de sua própria pequenez.

- Seu tílburi, doutor.

- Eu... eu não tenho como pagar o que esse veículo vale. Não há dinheiro à altura.

 

- É um presente, doutor.

- Não posso. Eu sou um juiz e não posso aceitar presentes desse valor.

- Então me pague o valor do material.

- Qualquer quantia será uma ofensa à sua arte!

- Essa não!

Teodoro sentiu a morte rir-se dele outra vez. Previu o medo, a humilhação. Aproximou seu nariz ao do homem e gritou:

- Eu não sou artista porra nenhuma! Eu sou um comerciante! Eu faço bons carros unicamente para atrair compradores. Não me interessa o que sentem. Eu como desse dinheiro. Produzo para vender e vendo para satisfazer necessidades materiais. Compre meu tílburi! Eu sou um vendedor!

 

V

 

O juiz pagou mais do que Teodoro pretendia. Cobriu os gastos com material, remunerou o trabalho e garantiu o sobrelucro que agora fazia pesar o bolso e flutuar a alma. Poderia até mesmo destravar seu "pequeno desejo de delírio"(*).

Depois de tantos anos fora pago não por uma certa quantidade de madeira, metal e couro agrupados segundo uma função prática, mas sim por seu talento em combinar aqueles materiais para proporcionar prazer, antes de utilidade. Enfim aparecera mais alguém, além do artesão e do cocheiro, capaz de obter satisfação de uma carroça não necessariamente fazendo-a rodar. Além de um veículo pensado e produzido para levar e trazer, aquele era um objeto em si mesmo, com valores independentes de sua função. Existir alguém capaz de olhar de muitos modos um mesmo objeto já o justifica. E isso justifica o artesão.

Parado diante do portão, Teodoro sentia seu interior turbilhonar. Restaurava-se o campo do prazer sobre o mundo das utilidades. A possibilidade de ventura. Não é possível que o fracasso e a dor sejam o inevitável resultado da busca do gozo imotivado. Trabalhar não apenas para ter e dar de comer, vestir e morar. Trabalhar para provar o poder de tudo transformar. E nisso encontrar minha singularidade. Reconhecer nesse produto minha humanidade. Trabalhar para conservar minha razão.

 

 

Quando chegou o próximo (no caso, a próxima) cliente para encomendar um carro de passeio, Teodoro já a esperava. Sabia o que iria construir.

- Com a senhora, combina uma caleça com capota.


(*)  Augusto Roa Bastos.

JORNALISMO LIVRE E INDEPENDENTE_edited_e
  • Twitter
  • Facebook
  • Youtube
bottom of page