YANOMAMI MORTO POR GARIMPEIROS SÁBADO ENGROSSA AS ESTATÍSTICAS DOS CRIMES CONTRA INDÍGENAS NO BRASIL
- Alexandre Costa
- 1 de mai. de 2023
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O ataque de garimpeiros à comunidade Uxiú, localizada na Terra Indígena Yanomami, na tarde do último sábado (29/4), resultou na morte de um indígena e em outros dois baleados, que foram transportados para o Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista. De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Yanomami, Júnior Hekurari, o indígena assassinado trabalhava como agente de saúde na comunidade. Os dois baleados estão internados no pronto-socorro e seus quadros clínicos foram considerados estáveis.
Júnior Hekurari, que é preside a Urihi Associação Yanomami, usou as redes sociais para denunciar o ataque criminoso e comunicar que outras informações vão ser repassadas às autoridades públicas responsáveis por proteger os indígenas e seus territórios. No início do ano, ele ficou conhecido em todo Brasil por denunciar a grave crise humanitária que o povo yanomami enfrentava, com a investida de garimpeiros e madeireiros contra seus territórios. Homologada há 31 anos, a Terra Yanomami abrange uma extensa área de Roraima, além de uma parte do estado do Amazonas, totalizando cerca de 9,6 milhões de hectares, onde vivem mais de 30,4 mil habitantes. Cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas de um campo oficial de futebol.
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, anunciou, nas redes sociais, que já pediu ao Ministério da Justiça e Segurança Pública que determine à Polícia Federal (PF) a investigação do caso. Guajajara informou que uma comitiva interministerial foi a Roraima para reforçar ainda mais retirada dos criminosos da reserva indígena. Sônia também destacou que, embora tenha se agravado nos últimos anos, a invasão criminosa da Terra Indígena Yanomami é um problema histórico. “A situação de invasores na TI Yanomami vem de muitos anos e, mesmo com todos os esforços que estão sendo realizados pelo governo federal, ainda faltam muitas ações coordenadas até a retirada de todos os invasores do território”, escreveu a ministra.
A partir da segunda quinzena de janeiro, o governo implementou uma série de ações para socorrer comunidades locais e retirar os não-indígenas de áreas exclusivas. O anúncio de medidas ocorreu após a divulgação de imagens de crianças e adultos yanomami desnutridos. Também foi divulgada a informação do Ministério da Saúde, de que, nos últimos anos, ao menos 570 crianças indígenas morreram por desnutrição e outras causas evitáveis. Além disso, só em 2022, foram confirmados 11.530 casos de malária na reserva.

Entre as medidas anunciadas pelo governo, está a declaração de emergência em saúde pública de Importância Nacional para combater à “falta de assistência sanitária” aos yanomami. Militares das Forças Armadas foram mobilizados para distribuir alimentos e prestar atendimento médico aos moradores de comunidades de difícil acesso. A Aeronáutica passou a restringir o acesso aéreo, visando impedir a chegada de novos garimpeiros e, principalmente, o abastecimento dos que já estavam ilegalmente na área. Além disso, as forças de segurança terrestres foram reforçadas para retirar os não-indígenas da reserva.
VIOLÊNCIA CONTRA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL
A violência contra indígenas aumenta a cada ano. Em agosto do ano passado, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) lançou mais uma edição de seu relatório “Violência contra os Povos Indígenas no Brasil”. O estudo é publicado todos os anos e apresenta dados sobre violações aos direitos dos povos originários do país. Desta vez, o documento trouxe dados de 2021 e revelou que o terceiro ano do governo de Jair Bolsonaro representou o agravamento de um cenário que já era muito difícil e violento para os indígenas brasileiros.
O relatório registrou aumento em 15 dos 19 tipos de violência mapeados pelos técnicos do CIMI. Foram registrados 176 assassinatos de indígenas em 2021 – apenas seis a menos que em 2020, o ano com o maior número de registros deste tipo de crime. Entre 2015 e 2019, a média era de 123 indígenas assassinados por ano. Em 2021 registrou-se também o maior número de suicídios indígenas dos últimos oito anos, com 148 ocorrências. De acordo com o relatório, na época, 62% das Terras Indígenas reclamadas pelos povos ainda não foram demarcadas.
Foram reunidos no relatório dados sobre “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio”. Em 2021, foram registrados 305 casos do tipo – quase três vezes o que foi verificado em 2018. Este é o sexto ano consecutivo de aumento deste tipo de violência. Ano passado, 226 Terras Indígenas, em 22 estados diferentes, registraram invasões e exploração ilegal. Em 2020, foram registrados 263 casos.
Casos como o dos povos Yanomami, em Roraima, e Munduruku, no Pará, mostram bem o aumento da truculência perpetrada por garimpeiros, madeireiros e grileiros dentro dos territórios. Na aldeia Yanomami Palimiú, integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC envolvidos com o garimpo desferiram tiros contra comunidades, instaurando um clima de terror. Houve pelo menos 16 ataques do tipo na região.
Duas crianças morreram afogadas após serem arrastadas pela correnteza de uma draga que operava em frente a uma comunidade. O povo Munduruku, por sua vez, teve a sede de sua associação de mulheres atacada, lideranças recebendo ameaças de morte e uma delas, Maria Leusa, chegou a ter sua casa incendiada. Nos dois territórios, o aumento da atividade garimpeira foi aterrador e implacável – foram ao menos 44 territórios originários que registraram danos causados pelo garimpo, apenas em 2021.