Na segunda-feira, dia 27 de julho, a ex-vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL, Marielle Franco, estaria completando 41 anos. Assassinada a tiros no dia 14 de março de 2018, juntamente com o motorista Anderson Pedro Gomes, Marielle Franco virou um símbolo internacional. As investigações da morte da ex-vereadora foram conturbadas e repletas de falhas "inexplicáveis". As imagens gravadas por uma câmera de um estabelecimento comercial da Tijuca, que possibilitariam a identificação dos assassinos, foram recolhidas por policiai. No entanto, as imagens sumiram, conforme declaração dos próprios encarregados da busca do material. Este foi apenas um entre tantos erros grosseiros cometidos ao longo das investigações.
Dias antes de ser executada, Marielle Franco denunciou o assassinato de três homens, todos jovens e de periferia. A ex-vereadora também denunciava a atuação das milícias nas favelas do Rio. As investigações sobre o assassinato da ex-vereadora chegaram ao policial militar reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-policial militar Elcio Vieira de Queiroz, de 46 anos. Segundo os investigadores, Lessa efetuou os disparos contra Marielle e Anderson, enquanto Queiroz dirigiu o veículo de modelo Cobalt usado durante o ataque. Lessa foi preso em sua casa, no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca - mesmo local onde o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem casa. Segundo os investigadores, o fato não foi relevante para esta etapa da investigação. De acordo com a promotora Simone Sibilo, a operação foi adiantada porque havia o boato de que os acusados teriam sido avisados. De acordo com ela, os dois foram presos por volta das 4h da manhã deixando suas casas, e Lessa reconheceu que sabia da operação quando foi detido.
Durante uma coletiva de imprensa, Giniton Lages, chefe da Delegacia de Homicídios da Capital, responsável pela investigação, afirmou que os autores dos assassinatos cometeram "um crime perfeito", o que fez os investigadores concentrarem sua atenção em pessoas que teriam a capacidade técnica de cometê-lo. "Esses crimes foram planejados e executados por pessoas que tinham conhecimento do sistema de investigação e de justiça", diz uma das promotoras responsáveis pelo caso, Leticia Emile Alquebres Petriz. Lessa, acusado de efetuar os disparos, é policial reformado. Também trabalhou na Polícia Civil e foi membro do Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope), segundo Lages. Por sua experiência, avalia o delegado, era capaz de cometer um crime sofisticado.
Durante a investigação, diz Lages, observou-se que Lessa tem "obsessão por personalidades que militam à esquerda". "Numa análise do perfil dele, você percebe ódio e desejo de morte, você percebe alguém capaz de resolver diferenças dessa forma (matando)", diz o delegado. Ainda que a Polícia Civil não tenha afirmado categoricamente qual foi a razão para o crime, o delegado a descreve, segundo o delegado, como "motivo torpe", como também o descreve a denúncia do Ministério Público.
A investigação foi feita com a quebra de dados do celular de Lessa. Segundo o delegado, ele fazia buscas por informações ligadas a Marcelo Freixo e também ao general Richard Nunes, então secretário de Segurança Pública do Rio. Segundo o delegado, a confirmação de que de fato era Lessa no carro foi possível por métodos que não serão divulgados. A promotora Elise Fraga, da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do MPRJ, apontou um dos elementos. Disse que imagens do braço direito do atirador são compatíveis com as do braço de Lessa - ambas mostram uma tatuagem.
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Os ex-PMs Ronnie Lessa (à esq.) e Elcio Vieira de Queiroz foram denunciados como executores do crime contra Marielle e Anderson.
O sargento reformado Lessa ingressou na Polícia Militar em 1991 e, a partir de janeiro de 2003, passou a atuar na Polícia Civil como adido, cargo no qual permaneceu até 2010, quando sofreu um atentado que o afastou definitivamente da atividade policial. Segundo o MP, não há provas contundentes de seu envolvimento com milícias, mas isso ainda está sendo investigado. O órgão afirma, no entanto, que ele é suspeito de ter cometido homicídios ligados à contravenção (jogo do bicho). Segundo a Polícia Militar, o ex- sargento Queiroz, que seria o motorista do carro, foi expulso dos quadros da corporação em 2015, após conclusão do Conselho de Disciplina instaurado pela Corregedoria. O Conselho foi instaurado em função do envolvimento do ex-policial em atividade ilegal de exploração de jogos de azar. De acordo com o MP, ele é amigo de Lessa. "A empreitada criminosa (contra Marielle e Anderson) foi meticulosamente planejada durante os três meses que antecederam o atentado", diz nota do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ).
Especial de Aniversário Marielle Franco
A cantora Elza Soares e o rapper Flávio Renegado participaram do show realizado neste domingo (26), em homenagem ao aniversário da ex-vereadora. O evento foi transmitido pelo canal do Instituto Marielle Franco, fundado pela sua família.
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