O nazismo, o fascismo em alemão, se fez espalhando o terror e acalentando o medo. De sua fundação ao controle do governo alemão em 1933, o Partido Nazista utilizou-se do terror industrial para moldar a conjuntura a seu favor. Sua principal estratégia era espalhar a peste para depois apresentar a cura. Seu principal instrumento de convencimento político e angariação de apoio eram as tropas paramilitares do próprio partido, conhecidas na língua portuguesa por SA. Em bandos uniformizados, armados e em conluio com as polícias e as forças armadas quebraram, machucaram, reprimiram, violentaram. Investiram contra as manifestações políticas defensoras da democracia, as comunidades Cigana e Judaica, estrangeiros e quaisquer alemães que lhes interessasse ou lhes aprouvesse.
Na Itália da atualidade Matteo Salvini, o grande líder do neofascismo e vice primeiro-ministro, repete a mesma estratégia. Espalha terror entre os italianos incautos e desesperados por emprego, saúde e segurança que seu governo não é capaz de oferecer. Sua fórmula é espalhar o ódio contra não italianos, em especial contra imigrantes. Dizer que são esses, e não os vinte anos de desastrosos governos de direita e neoliberais que destroçaram e desorganizaram a economia a partir de eliminação dos sistemas de proteção social, é a maior de suas mentiras. O grande ódio que dissemina.
Bolsonaro é a versão densamente povoada desta reciclagem fascista. Em um país continental convergiu com cultura construída pelo medo. Da chibata, da escravidão, da tortura, da monarquia, da ditadura. No governo, Bolsonaro mobilizou a metade dos brasileiros contra a outra metade nas mesmas bases de Salvini, responsabilizando a vítima pelo cometimento do crime. Espalhou mentiras, desinformações, favoreceu os muito ricos, impôs o pânico da morte. Como profilaxia ofereceu vermífugo, obscurantismo, porte de armas, fantasmas medievais enquanto a agro burguesia e lúmpen burguesia amealhavam terras, ouro e isenções fiscais.
Essa internacional fascista tem sua liderança em Portugal, André Ventura, líder do partido neofascista. Sem pudor, utilizou-se das comemorações da Revolução de 25 de abril de 1974 - que pôs fim à ditadura fascista para por luzes sobre o partido neofascista. Um paradoxo que a política permite. Ventura, líder de um pequeno partido, aproveitou-se da cobertura de imprensa mundial sobra visita do presidente Lula à sessão solene da Assembleia da República, em homenagem à Revolução, para obter protagonismo. Neste caso o terror está em sua aparição. Cinco décadas depois do fim da ditadura, da extinção da polícia secreta, da libertação dos povos africanos, da condenação dos torturadores deparar-nos com existência de quem defenda a restauração do passado autoritário e colonial, é o próprio terror.
Esses três neofascistas se encontrarão em uma reunião de cúpula da extrema direita que se realizará dias 13 e 14 de maio, em Lisboa. Objetivamente, pouco terão a oferecer à humanidade, mas a capacidade destes em se articular, movimentar e mobilizar setores da sociedade coloca em alerta todo campo democrático no mundo. O fantasma do colonialismo, da guerra de extermínio se materializa e moderniza na guerra aos imigrantes, na defesa dos privilégios classistas e na extinção dos direitos sociais.
Nem mesmo as vitórias eleitoras de Boric, Petro ou Lula ou os governos social democratas de António Costa ou Olaf Scholz são suficientes para considerar o perigo fascista superado. O terror como método político tem sua eficiência ampliada em períodos de crise. Exatamente o que vivemos no mundo hegemonizado pelo neoliberalismo. Bolsonaro, Trump e Meloni estão aí para horrorizar o mundo moderno.
(*) Jorge Branco é Sociólogo, Mestre e doutorando em Ciência Política. Diretor Executivo da Democracia e Direitos Fundamentais.