UMA REFLEXÃO SOBRE A VIDA, OS SONHOS E O RESPEITO AO TRABALHO DOS CATADORES DE MATERIAS RECICLÁVEIS
- Alexandre Costa
- 2 de jul. de 2021
- 2 min de leitura

Alex Cardoso é catador de materiais recicláveis das ruas de Porto Alegre e faz parte da equipe de articulação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis e é estudante do curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Reconhecido como um dos principais líderes na luta dos catadores de Porto Alegre e também pela forma como se manifesta. Invariavelmente, as manifestações de Alex nos levam a reflexões sobre o trabalho que é realizado pelos catadores, pouco valorizado e a invisibilidade que o tema tem na sociedade, de uma forma geral. No vídeo abaixo, ele nos faz refletir sobre a vida, os sonhos e o respeito ao trabalho destas pessoas que sobrevivem dos restos da sociedade.
DAS BOAS LEMBRANÇAS À REALIDADE AMARGA

Porto Alegre foi a cidade referência em inclusão social e reciclagem, finalizando seu lixão em 1990 – para se ter ideia, atualmente há mais de 2 mil lixões ainda ativos no Brasil – e implantou a coleta seletiva com a inclusão dos catadores nesta década. A coleta seletiva foi quase inventada aqui.
Na época, formou uma associação com os catadores do lixão e outras 11 com catadores de rua, os conhecidos catadores de papel, que juntos, à várias mãos, serviam como mãos da cidade em defesa da natureza, reciclando mais de 100 toneladas de resíduos por dia, com uma renda média de dois salários mês para cada catadora e catador. Um orgulho para a gestão pública, para a sociedade. A coleta seletiva logo se tornou referência para todo o continente, mas não pelo simples serviço de coleta, pois existiam outros modelos, mas sim pela inclusão social que impulsionava a cidade a discutir, emitir opinião, falar. As catadoras e catadores aprenderam a falar a língua do cooperativismo, da solidariedade, da democracia e da distribuição de renda em partes exatamente iguais.
Atualmente, Porto Alegre amarga retrocessos, calando vozes, matando a democracia, riscando da sua política a inclusão social, nem mesmo a coleta seletiva funciona bem. Nos últimos anos se dobrou a quantidade de resíduos gerados, tivemos o advento dos plásticos descartáveis e das latinhas de alumínio em nossas vidas, as comidas de tele entrega, ou seja, dobrou a geração de resíduos, e triplicou os investimentos em serviços.
A realidade para os catadores que sobrevivem em Porto Alegre está cada vez mais difícil e piorou ainda mais com o prefeito Sebastião Melo. O cenário que temos em plena pandemia é de catadores excluídos, a educação ambiental encerrada e a vida dos catadores em risco. Cabe lembrar que 70% da categoria são de mulheres, normalmente elas são chefes da família, e quase 90% são negros.