Ao revelar que um dos envolvidos no atentado a bomba no Aeroporto de Brasília (DF) tinha um plano para dar um tiro no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a posse presidencial, em 1º de janeiro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, faz um alerta para os brasileiros que defendem a democracia. Para além das disputas no campo político, a declaração de Dino deve ser interpretada não como um aviso do risco que o país corria e sim como uma ameaça permanente, ainda que pareça invisível.
Os interesses que sobrevoam o poder, seja ele onde for, estão contaminados não apenas pelo mercúrio usado na extração do ouro ilegal ou nos agrotóxicos e nas queimadas que fazem o agro ser rentável às custas da poluição e destruição das reservas naturais. As disputas pelos espaços de poder na política não são apenas ideológicas, mas estão na mira e no horizonte do crime organizado. As mãos, antes sujas de sangue, agora são meras digitais que confirmam a subtração dos recursos em todas as esferas do estado, do poder público ou nos ambientes em que se possa obter lucro fácil, mesmo às custas da morte de um, dois, três ou de dezenas, centenas ou milhares.
No mundo de hoje, não há mais espaços para ingenuidades. Tão difícil como interpretar o movimento das elites mundiais é decifrar o significado dos tiros, sejam eles disparados pelos garimpeiros na Amazônia ou pelos nazifascistas da Ucrânia. Assim como o petróleo e como as drogas, as guerras deixaram de ter a nostalgia da luta pela liberdade e pela soberania dos povos e se tornaram o mais lucrativo dos negócios do mundo de hoje.
Os tiros dos garimpeiros contra a polícia federal não são uma reação isolada e descolada dos movimentos políticos e dos interesses que rondam o Brasil. Agora, mais do que nunca, o presidente Lula deve se proteger de toda e qualquer forma de ataque. Cabe aos serviços de inteligência, a nobre tarefa de interpretar a política, não apenas pelo viés ideológico, mas principalmente pelos interesses econômicos, que são explícitos. Porém, as ambições mundiais contemporâneas têm inúmeras áreas de convergência, muitas delas ocultas.