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Foto do escritorAlexandre Costa

Tendência Quilombo Socialista como Ferramenta de Organização e Resistência - Uma Visão Crítica e Realista, por Luís Alberto da Silva*

Em maio de 2021, um grupo de militantes do Partido dos Trabalhadores, de vários Estados do Brasil resolveu fundar a tendência Quilombo Socialista como meio de contribuir não só no debate qualificado sobre a questão racial, como também organizar minimamente o segmento socialista e antirracista dentro da estrutura partidária dentro do Partido dos Trabalhadores. A motivação desse movimento interno partidário deveu-se à avaliação coletiva de que as tendências tradicionais não estavam dando conta e nem a atenção devida à questão racial como ela merece. Aliás, em muitas vezes a questão racial além de ser, na prática, desqualificada servia apenas para engrossar a base de apoio sem possibilidades de de influência na definição dos rumos do partido. A questão racial sempre foi pautada no Partido dos Trabalhadores desde a sua fundação, porém, como podemos perceber, acompanhando a história do partido, com o passar do tempo ficavam mais nítidos os equívocos e práticas discriminatórias das tendências tradicionais que afastavam a militância negra dos centros de decisões, inclusive nas formas de interpretação das questões ideológicas contidas no pensamento socialista de Marx, principalmente àquelas que se reivindicavam “marxistas”. Na prática, entendemos que, para mudar essa realidade, não bastava apenas sair do partido como muitos companheiros e companheiras faziam, uma vez que sempre tivemos a consciência da importância de um partido político que representasse a classe trabalhadora e os excluídos. Então, nossa missão era disputar o partido e educá-lo na perspectiva antirracista, mesmo diante das adversidades. Nossa experiência vivenciou cada etapa das tentativas de organização interna, que começou com os núcleos de negros e negras, comissões de negros e negras, setoriais de negros e negras e até recentemente Secretaria de Combate ao Racismo. Todas estas fases foram superadas com muita dificuldade e praticamente chegando ao isolamento quando havia movimentos de unidade mínima, pois a esquerda branca dominante sempre preteriu nossa ascendência interna, uma vez que, mesmo a militância negra se reunindo em torno da base dessas tendências, ainda assim nos tratavam com menosprezo e quando eventualmente uma liderança negra chegava em algum posto de direção simplesmente perdia sua identidade com a causa, em uma relação de completa subordinação aos chefes das suas tendências, sendo que em muitas vezes justificavam sua conduta em nome de um suposto centralismo democrático questionável. Como a tendência Quilombo Socialista é um espaço cuja base ideológica é internacionalista e baseada no socialismo histórico e científico, nossa tarefa é estimular e provocar o debate e apontar as contradições do Partido dos Trabalhadores para serem superadas e preparar nossa militância para combater o capitalismo internacional e, não apenas e tão somente, trabalhar para criação de políticas públicas, que só são viáveis se cumprirem os limites impostos pela burguesia local e internacional. Como forma de alcançar nossos objetivos, devemos direcionar nossa capacidade intelectual para entender a fundo como funciona a sociedade capitalista de classes. Assim, estaremos atentos às formas de manipulação, principalmente da questão racial, utilizadas pela classe dominante capitalista, que simplesmente e com muita competência é capaz de transformar em mercadoria a essência dos movimentos sociais. Esse engodo é tão eficaz que setores do movimento negro já embarcaram na onda neoliberal e acreditam que dentro dessa potência de exploração é possível chegar ao patamar de igualde de oportunidades. Setores da esquerda tradicional são sabedores dessa impossibilidade, portanto, para sobreviver em meio disso tudo, utilizam sofismas que direcionam à ideia liberal de diminuição das desigualdades, ao passo que deveriam utilizar a linha de combate à exploração assumindo abertamente o projeto socialista e democrático da classe trabalhadora, sem vacilos ou tergiversações. É esse nesse patamar que seremos vitoriosos na luta política, sem depender da prática carcomida de apostar no personalismo carismático de quem quer que seja. * Luís Alberto da Silva é advogado, Bel. em Sociologia pela UFRGS, acadêmico em Filosofia pela UFRGS, mestrando em Segurança Cidadã pela UFRGS e dirigente nacional da Tendência Interna do PT- Quilombo Socialista.

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