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TEMPOS SOMBRIOS: NEGACIONISMO VERDE E AMARELO E OS RETROCESSOS DO PRESIDENTE GENOCIDA (PARTE 4)

por Alexandre Costa (*)

Apesar do tempo transcorrido da obrigatoriedade da vacinação contra a varíola para o atual enfrentamento à covid-19, o negacionismo no Brasil parece o mesmo. Em novembro de 1904, durante a primeira campanha de vacinação contra a varíola, diversas pessoas se opuseram à iniciativa, seja por razões religiosas, crenças de que a imunização fazia mal à saúde ou por divergências à imposição decretada pelo governo a pedido do sanitarista Oswaldo Cruz. O fato foi o estopim para uma revolta popular que gerou enfrentamento de manifestantes contra a polícia e contra o Exército, resultando na morte de dezenas de pessoas.

A pandemia de coronavírus fez o Brasil retroceder no tempo e também em relação à evolução da ciência. Pesquisa divulgada em maio de 2019 aponta que um em cada quatro brasileiros não consegue acreditar que as missões Apollo aconteceram. Os números são de um levantamento realizado pelo instituto Datafolha em 103 cidades brasileiras. A iniciativa marcou a passagem dos 50 anos da viagem que levou o homem à Lua. Os dados apontam que há forte relação entre a escolaridade dos entrevistados e a descrença nas missões lunares. No mesmo mês, o instituto Datafolha também divulgou uma pesquisa revelando que 7% dos brasileiros acreditam que a Terra é plana. O percentual de pessoas que não acreditam no formato esférico do planeta serve de alerta em relação à proliferação de ideias negacionistas no país.

É importante ressaltar que, movimentos como esse, apenas conseguem se destacar devido à falta de informação da sociedade, especialmente no meio digital, fazendo com que a população acredite em tudo que circula na internet é verdade. Nesse sentido, é importante reforçar que o único antídoto verdadeiro para qualquer tipo de negacionismo é apoiar a Ciência e a Educação.

No caso da pesquisa sobre o homem ter pisado na lua, foram entrevistadas 2.086 pessoas, das quais 70% responderam que acreditam, sim, que Neil Armstrong e BuzzAldrin caminharam na Lua em 20 de julho de 1969. No entanto, uma parcela de 26% não conseguem acreditar que a viagem de fato aconteceu. Outros 4% disseram não ter opinião formada sobre o tema. Na separação por escolaridade, o maior índice de descrentes é entre as pessoas que pararam os estudos ao fim do ensino fundamental (38%). Entre as pessoas que estudaram até o ensino médio, o percentual dos que não acreditam que a missão de fato aconteceu é de 21%. Entre os que estudaram em universidades, 14% consideram as missões à Lua “uma fraude”.

Em outra pesquisa, na mesma semana, o Datafolha entrevistou 2,086 pessoas maiores de 16 anos em 103 cidades e 7% das pessoas defenderam que a Terra é plana. Enquanto 10% das pessoas que deixaram a escola após o ensino fundamental defendem o chamado terraplanismo, essa parcela diminui entre os que estudaram até concluir o ensino médio (6%) ou superior (3%).

PRESIDENTE GENOCIDA DISSEMINA ORIENTAÇÕES FALSAS

Outro estudo, publicado em maio deste ano pela Social Science Research Network, uma reconhecida revista acadêmica internacional, reforça o argumento que o governo do presidente Jair Bolsonaro foi o principal responsável pelas mortes provocadas pela pandemia do coronavírus no Brasil. O levantamento nos leva a uma conclusão lógica: onde as pessoas seguiram as orientações erradas e anticientíficas de Bolsonaro, todos ficaram mais expostos ao coronavírus. Evidentemente, existem outros fatores que influenciam no maior ou menor risco das pessoas, seja por distribuição geográfica, por renda ou condições sanitárias.

O estudo sobre os efeitos do negacionismo no número de casos e de mortes no Brasil, indica que nos municípios onde o presidente Jair Bolsonaro teve mais de 50% dos votos no segundo turno de 2018, o risco de infecção foi 299% e o de mortes, 415% maior do que nos municípios onde ele perdeu a eleição. Os números ficam ainda mais discrepantes quando focados em cidades que deram mais de 70% dos votos no segundo turno para Bolsonaro, comparadas com aquelas em que menos de 30% escolheram o então candidato. O resultado é alarmante: quem vive num desses municípios chegou a ter 567% a mais de chance de se infectar e 647% a mais de risco de morrer do que numa cidade onde ele teve menos de 30% dos votos. Isso equivale a sete vezes mais mortes nas cidades onde Bolsonaro ganhou com ampla margem.


A pesquisa, que foi realizada pelos professores Sandro Cabral (Insper), Nobuiuki Ito (Ibmec) e Leandro Pongeluppe (Universidade de Toronto, Canadá), condensou os dados de mortes e casos de todos os 5.570 municípios brasileiros, durante as primeiras 52 semanas da pandemia, equivalentes a um ano. O resultado deste gigantesco banco com dois milhões de dados foi cruzado com os resultados eleitorais de 2018 em cada cidade, de acordo com as informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

DISCURSO BOLSONARISTA LEVA À MORTE

Se o presidente combate ostensivamente o isolamento social e as máscaras, únicas "vacinas" possíveis antes das vacinas que estão sendo aplicadas no mundo inteiro e em menor escala no Brasil, as pessoas, particularmente as que votaram nele, passam a se aglomerar, a sair sem máscara, a se arriscar. Ou seja, estas pessoas assumem uma postura negacionista e passam a se contaminar e a contaminar os demais. Independente do candidato que as pessoas votaram, o que se observou é que o risco de morte é maior para todos. Um dado importante da pesquisa diz respeito a um fato ocorrido na sétima semana da pandemia, quando Bolsonaro fez pronunciamento oficial sobre a covid, no rádio e na TV, que o risco de infecção e morte aumentou claramente nos municípios com maioria bolsonarista em relação aos não bolsonaristas.


Dez semanas depois (na 17.ª), esse descolamento entre os registros nos dois blocos de cidades passa a ter fortíssima significância estatística. Com um detalhe: a partir da 38.ª semana, o distanciamento dispara. A dedução parece também lógica: ocorreu exatamente a partir das eleições municipais, quando os candidatos alinhados ao Planalto replicaram nos municípios bolsonaristas o discurso tóxico do "mito" no combate à pandemia.


A partir dos resultados da pesquisa, os professores definiram Bolsonaro como um "arquétipo de líder em negação", lembrando que o presidente do Brasil fez uma sequência de discursos em cadeia de Rádio e TV minimizando a gravidade da pandemia de covid-19, classificando-a como uma gripezinha e se manifestando contra o isolamento social e a favor de remédios sem eficácia comprovada, como o chamado kit covid. Além de Bolsonaro ter trocado o ministro da Saúde, por duas vezes, após pressioná-los a instituir a cloroquina como um remédio a ser utilizado no combate a doença, contrariando a Organização Mundial da Saúde fosse, o governo brasileiro também recusou onze ofertas formais de fornecimento de vacinas contra a covid19.


QANON TAMBÉM ATUA NO BRASIL

Conteúdos com teorias da conspiração QAnon, que já haviam se espalhado em grupos com teor antivacina nos Estados Unidos, estão ganhando espaço também no Brasil. A partir de 2017, o negacionismo passou a utilizar as redes sociais de forma organizada, espalhando conteúdos conspiratórios, de extrema direita e antivacina. Porém, medidas para conter a proliferação destes grupos em plataformas como o Facebook só foram tomadas em agosto de 2020. O Facebook anunciou na época que havia excluído páginas, grupos e contas diretamente ligados a estes grupos, por considerar que os conteúdos violam suas políticas. Em setembro do ano passado, o Facebook informou que derrubou grupos e páginas no Brasil, com pelo menos 570 mil seguidores.


A União Pró-Vacina é uma iniciativa organizada pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) Polo Ribeirão Preto da USP em parceria com o Centro de Terapia Celular (CTC), o Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), a Ilha do Conhecimento, a Vidya Academics, o Gaming Club da FEA-RP, o Instituto Questão de Ciência e o Pretty Much Science.

O objetivo é unir instituições acadêmicas e de pesquisa, poder público, institutos e órgãos da sociedade civil para combater a desinformação sobre vacinas, planejando e coordenando atividades conjuntas. Umas das principais iniciativas da organização, que vem sendo realizada desde o início de 2020, é a monitoração das postagens dos dois grupos mais conhecidos com temática antivacina no Brasil. Os assuntos referentes ao QAnon começaram a aparecer em fevereiro e alcançaram picos em abril e julho. Ao todo, a análise encontrou 144 conteúdos, entre comentários e postagens incluindo vídeos, links, imagens e textos, que exibiam algum tipo de termo ligado ao movimento ou direcionavam os usuários para grupos ou sites específicos.

No total, foram mapeados 16 termos tradicionalmente usados pelo QAnon nessas publicações.


Análises realizadas anteriormente pela União Pró-Vacina, indicam que o padrão se repete: um número pequeno de usuários é responsável por um volume muito grande de postagens. Nesse caso, apenas 8 dos 73 autores das postagens geraram 55 publicações, mais de 38% do total.


PESQUISA INDICA QUE DESINFORMAÇÃO GERA LUCRO

A proliferação de fake news nas redes sociais sobre temas relacionados à pandemia de coronavírus colocou acomunidade científica de todo planeta em alerta. No início de 2019, a Organização Mundial da Saúde já considerava a hesitação vacinal uma das maiores ameaças à saúde global. Com a fase final de testes de vacinas, a circulação de vídeos com desinformação no YouTube e nas redes sociais como o WhatsApp despertou autoridades mundiais sobre a necessidade de monitorar a desinformação nos ambientes da web.

Um artigo publicado no final de outubro na revista Frontiers revelou que, apesar de declarações de comprometimento do YouTube em relação ao combate a desinformações perigosas, aquelas relacionadas a vacinas continuam sendo disseminadas em vídeos em português, gerando lucro para produtores de conteúdo e para a própria plataforma. O artigo faz parte da pesquisa de Dayane Machado, aluna de doutorado do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências da Unicamp, orientada pela docente Leda Gitahy. Também é assinado por Alexandre Fioravante de Siqueira, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos.

De acordo com Dayane, o estudo visava verificar se o YouTube estaria combatendo as desinformações sobre vacinas conforme vinha declarando nos últimos meses. Os pesquisadores desenvolveram uma metodologia que tentasse simular o comportamento de um usuário normal navegando na plataforma para identificar o que o público possivelmente encontraria sobre o tema. Para especificar quais desses vídeos continham desinformação, foram criadas seis categorias principais de análise: segurança, efetividade, saúde alternativa, moralidade, teorias da conspiração e outros (como liberdade de escolha e apelo emocional).


A amostra inicial continha 158 vídeos. Desse total, os estudiosos identificaram 52 vídeos em 20 canais com desinformação sobre vacinas. A coleta dos dados foi feita por Alexandre, que integra o Grupo de Estudos da Desinformação em Redes Sociais (EDReS) da Unicamp, do qual a professora Leda é uma das coordenadoras. “Os vídeos foram salvos em um banco de dados, pois alguns deles podem ser derrubados da rede por conta de seu conteúdo. Analisamos em cada um os seis critérios dos vídeos e das propagandas neles inseridas, os chamados anunciantes”, conta Leda.


O resultado do estudo sugere que o YouTube não tem feito o suficiente para combater a circulação de desinformações sobre vacinas e de certa forma incentiva a produção desse tipo de material através da monetização de conteúdo. Apesar da plataforma já ter se posicionado sobre o combate a conteúdos danosos, vídeos com desinformações sobre vacinas continuam sendo divulgados em português porque há interesses em não retirá-los. Um relatório recente do Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH) estima, por exemplo, que Facebook, Instagram, Twitter e YouTube lucram até 1 bilhão de dólares por ano graças ao movimento antivacinação. De acordo com Dayane, que é a primeira autora do artigo, “as principais desinformações encontradas na análise coincidem com as mais populares entre as comunidades de oposição a vacinas: afirmações de que os imunizantes contêm ingredientes perigosos; defesa da liberdade de escolha e incentivo à ‘pesquisa independente’; promoção de serviços de saúde alternativa; o mito de que vacinas causam doenças; teorias da conspiração e a alegação de que causam efeitos colaterais severos”. O artigo revela também uma parceria entre os canais que promovem serviços de saúde alternativa. “Essa colaboração ocorre através da reprodução de vídeos de canais associados ou através do apoio a criadores de conteúdo que fazem parte da rede. Os canais espalham desconfiança em relação a instituições tradicionais, como organizações de saúde pública, médicos, cientistas e imprensa para promover a si mesmos como fontes confiáveis e lucrar com a venda de serviços de saúde alternativa”, ressalta Dayane.


Os canais usam diferentes estratégias financeiras para obter lucros, como a venda de cursos, livros e tratamentos alternativos, além de pedidos de doações por meio de plataformas de arrecadação e depósitos em contas bancárias e até mesmo de grandes empresas, por meio de anúncios no YouTube. Na análise, os pesquisadores identificaram anúncios de 39 marcas em 13 vídeos. Entre elas, estão marcas globais como Mobil, Kia, Fiat, Philips, Spotify, Eucerin (Beiersdorf) e Buscopan (Boehringer Ingelheim), além de anúncios dos governos da Índia e do Japão. “Apesar de o Programa de Parceiros do YouTube — serviço que permite a monetização de conteúdo — ser uma fonte de renda importante, os canais da amostra usam estratégias econômicas variadas para garantir o lucro mesmo que seu conteúdo seja identificado como impróprio e desmonetizado pela plataforma”, diz Dayane. Segundo Leda, “apesar de o YouTube dizer que controla o conteúdo, em português isso não ocorre porque o moderador algorítmico não identifica quando os conteúdos de desinformação adaptam o tema. As grafias são alteradas propositalmente para não passarem pelo filtro da rede, que é automática”.

Existem estudos mostrando que a exposição excessiva a desinformações — e teorias da conspiração — sobre vacinas pode influenciar, por exemplo, na tomada de decisão das pessoas de não se vacinarem. Então, é possível dizer que essa crise de desinformação pode interferir na percepção da população em relação a uma vacina contra Covid-19 e até no imaginário das vacinas de forma geral. Com o WhatsApp, a difusão de vídeos com conteúdos de desinformação passou a ser muita mais rápida. “Essa dinâmica de disseminação já era esperada entre os estudiosos da área. Já a postura mais recente do presidente da República de mencionar supostas medidas de obrigatoriedade relacionadas à vacinação contra a Covid-19 parece parte de uma estratégia para manter a confusão e mais uma vez espalhar desconfiança em relação às instituições e aos processos – aqueles relacionados ao desenvolvimento de vacinas e à produção científica de forma geral. Com isso, ele ao mesmo tempo sinaliza uma certa validação das comunidades que se opõem a vacinas, ajuda a criar polêmicas em relação a questões secundárias e consegue atacar atores que vem sendo considerados inimigos do governo federal”, destacou Dayane.

De acordo com a pós-graduanda, o próximo passo da pesquisa será investigar o papel do YouTube na disseminação de desinformações sobre a Covid-19. “Queremos entender como e se as mudanças nas políticas de uso da plataforma vêm sendo implementadas no Brasil, além de identificar quem está por trás desse tipo de conteúdo”, diz.


INTERCEPT ANALISA CANAIS DE EXTREMA DIREITA

Em março de 2020, o site The Intercept Brasil publicou reportagem em que constatou que o Youtube faz canais de direita ganharem dinheiro espalhando mentiras sobre coronavírus. O Intercept analisou dez canais de extrema direita que explodiram com a ascensão do bolsonarismo. Todos eles, como de costume, produzem um enorme volume de conteúdo que ressoa as notícias do dia com um viés bolsonarista – e o coronavírus é um dos assuntos em alta. Na época, pelo menos seis seguiam ganhando dinheiro com anúncios em vídeos, mesmo depois do YouTube ter decidido reduzir exibição de anúncios em vídeos relacionados à covid-19 que não sigam regras de difusão de informações confiáveis sobre a doença.

O Youtube reagiu depois que o ideólogo Olavo de Carvalho disse em um vídeo que “não há um único caso de morte por coronavírus”, fechando os olhos para as quase 15 mil pessoas que já morreram por complicações da doença no mundo. A maior plataforma de vídeos do mundo fez o mínimo: tirou o vídeo do ar. A alegação é de que ele violou as regras da plataforma. Segundo a empresa, é essencial “encontrar conteúdo de confiança neste momento. Por isso, continuaremos garantindo que o YouTube ofereça informações precisas aos usuários”. Entre os 100 canais que mais cresceram no período no ranking Em Alta, que exibe o conteúdo que estava bombando no momento, 15 eram de direita. Oito deles estavam entre os vinte principais canais e a metade lucrava com anúncios. O The Intercept Brasil informou que "em uma estimativa conservadora, feita com o SocialBlade (site gratuito que presta o serviço de rastreamento de estatísticas e análises de mídias sociais), calculou que esses canais monetizados faturaram juntos, no mínimo, US$ 9,5 mil por mês com anúncios. Com o dólar a R$ 5, cerca de R$ 47,5 mil mensais".

PARCERIA LUCRATIVA COM YOUTUBERS

Segundo o Google, uma das razões para que vídeos burlassem as regras estariam associadas ao fato de que, durante a pandemia, a empresa trabalhava com um número reduzido de revisores, os profissionais que fiscalizam se os conteúdos violam os termos da empresa. O Google permite que canais com mais de mil seguidores sejam monetizados – isto é, exibam anúncios. Uma vez cadastrado no sistema, o youtuber cede espaço em seus vídeos para que a plataforma veicule as propagandas. O youtuber não escolhe quem irá anunciar: é o Google que exibe anúncios direcionados de acordo com o histórico e o perfil de quem está assistindo. Os anunciantes também não escolhem diretamente quem vai exibir suas propagandas – embora possam vetar determinados sites e assuntos.

Os lucros são divididos entre o YouTube e o produtor de conteúdo. É por isso que, para o Google, é interessante ajudar os youtubers a bombarem seus canais. O YouTube desenvolveu algoritmos eficientes para recomendar conteúdo e incentivar que as pessoas gastem o maior tempo possível na plataforma. Deu certo: em 2017, a empresa bateu a meta de 1 bilhão de horas assistidas por dia.


(*) Alexandre Costa é jornalista e responsável pelo www.esquinademocratica.com


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