por Alexandre Costa (*)
![](https://static.wixstatic.com/media/099714_16b5c45a21714c129da5ddfa5a1c4526~mv2.jpg/v1/fill/w_940,h_566,al_c,q_85,enc_auto/099714_16b5c45a21714c129da5ddfa5a1c4526~mv2.jpg)
Atualmente, o crescimento do negacionismo, principalmente do movimento antivacina, traz preocupações à comunidade científica no mundo inteiro. Em 2019, a Organização Mundial de Saúde apresentou uma lista com as 10 maiores ameaças à saúde, sendo o medo da vacina uma delas. Durante a pandemia de coronavírus, grupos avessos à imunização foram responsáveis pela distribuição massiva de fake news em todo planeta. Quem imagina que este é um movimento recente, se engana. O negacionismo é tão arcaico quanto os tribunais da Inquisição, que durante o início da Idade Moderna condenavam à morte na fogueira quem defendesse os avanços tecnológicos e o desenvolvimento científico do Renascimento, em detrimento às ideias da Igreja. Durante este período, muitas pessoas foram perseguidas, mortas e torturadas.
No último sábado (28/8), uma das principais lideranças do movimento contra o uso de máscara, morreu de covid-19, no Texas, nos Estados Unidos. Caleb Wallace passou um mês hospitalizado, após combater os primeiros sintomas com vitamina C, comprimidos de zinco e ivermectina. Em novembro do ano passado, Caleb se pronunciou sobre a situação da covid-19 na localidade de San Angelo. O líder negacionista, de apenas 30 anos, liderou a campanha contra as medidas de combate à pandemia, mas se tornou mais uma vítima da covid-19, conforme noticiou o jornal local San Angelo Standard-Times.
No ano passado, no dia 4 de julho, Wallace organizou um protesto em San Angelo, em que os participantes ostentavam cartazes contra o uso de máscaras e o fechamento de comércios como formas de enfrentar a pandemia. Os participantes também rejeitavam as evidências científicas sobre o coronavírus e se mostravam muito críticos à cobertura da imprensa. Em abril, Caleb escreveu uma carta ao distrito escolar da cidade, exigindo que fossem revogadas todas as medidas de prevenção contra o coronavírus. O líder americano deixou três filhas e a esposa, Jessica, que está grávida do quarto filho do casal.
![](https://static.wixstatic.com/media/099714_9df7dab2c3194b179a8b59cdbb900755~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_579,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/099714_9df7dab2c3194b179a8b59cdbb900755~mv2.jpg)
Jessica Wallace disse ao jornal que seu marido começou a sentir sintomas em 26 de julho, mas que se recusou a fazer exame ou ir ao hospital. Em vez disso, tomou elevadas doses de vitamina C, comprimidos de zinco e a ivermectina, um medicamento contra parasitas que as autoridades sanitárias dos EUA já pediram que não seja usado contra o vírus, por não ser efetivo. Caleb foi hospitalizado no dia 30 de julho e desde o dia 8 de agosto estava internado na UTI, inconsciente e respirando com a ajuda de aparelhos.
Mas quem imagina que os grupos que duvidam da ciência são movimentos atuais e recentes, se engana. O negacionismo é tão arcaico quanto os tribunais da Inquisição, que durante o início da Idade Moderna condenavam à morte na fogueira quem defendesse os avanços tecnológicos e o desenvolvimento científico do Renascimento, em detrimento às ideias da Igreja. Durante este período, muitas pessoas foram perseguidas, mortas e torturadas.
![](https://static.wixstatic.com/media/099714_5a60e7d702d94aad91b6e27104db2220~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_551,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/099714_5a60e7d702d94aad91b6e27104db2220~mv2.jpg)
Uma síntese sobre Giordano Bruno e Galileu Galilei
GIORDANO BRUNO Padre, filósofo, místico, poeta, autor de peças de teatro, Giordano Bruno defendia a teoria heliocêntrica de Copérnico e por isso teve a língua furada por uma espécie de prego, para que não dissesse heresias. No dia 17 de fevereiro de 1600, foi conduzido ao seu auto-de-fé, diante de centenas de pessoas, onde ardeu em chamas até a morte, em uma fogueira armada no Campo dei Fiori, em Roma.
![](https://static.wixstatic.com/media/099714_74ae0cce372343f9a7604ad238d5a5bc~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_736,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/099714_74ae0cce372343f9a7604ad238d5a5bc~mv2.jpg)
GALILEU GALILEI Passado pouco mais de uma década, o astrônomo Galileu Galilei, considerado por muitos o criador do método científico, foi ameaçado de morte pela Inquisição, caso não renegasse publicamente suas convicções heliocentristas. Leu em voz alta a sua confissão para o Santo Conselho da Igreja e foi proibido de propagar ideias contrárias à Igreja. No entanto, no dia 22 de junho de 1633 foi condenado por defender o modelo de Copérnico, em que a Terra girava em torno do Sol. Galileu Galilei faleceu em 8 de janeiro de 1642 em Florença, na Itália. Foi apenas em 1992, mais de trezentos anos depois, que o Papa João Paulo II declarou que a Igreja Católica reconhecia a legitimidade de suas teorias.
![](https://static.wixstatic.com/media/099714_dbf47091a5dd4e139a581d5632353aed~mv2.jpg/v1/fill/w_675,h_405,al_c,q_80,enc_auto/099714_dbf47091a5dd4e139a581d5632353aed~mv2.jpg)
A CIÊNCIA REFUTA O CONCEITO DE TERRA PLANA
![](https://static.wixstatic.com/media/099714_a6655c33ac9b4cc79f382f7113d6730d~mv2.jpg/v1/fill/w_500,h_348,al_c,q_80,enc_auto/099714_a6655c33ac9b4cc79f382f7113d6730d~mv2.jpg)
→ Eratóstenes e a circunferência da Terra
A circunferência da Terra foi estimada por Aristóteles, entretanto a primeira medida fiel foi realizada por Eratóstenes em 240 a.C. Para tanto, Eratóstenes valeu-se de conhecimentos de geometria herdados dos pitagóricos e da astronomia da época. Ele imaginou que poderia calcular o raio da Terra se fosse capaz de medir a distância entre duas cidades 800 km distantes – Alexandria e Siena –, fazendo também a medida do tamanho da sombra de uma vareta posicionada nesses dois lugares, no mesmo dia do ano. A data escolhida para a medida não foi aleatória. Eratóstenes esperou o zênite solar em Siena, ou seja, naquela região, os raios de luz incidiam perpendicularmente ao solo, de modo que a vareta usada em Siena não projetasse sombra. Com isso, ele foi capaz de medir o ângulo de inclinação entre as varetas colocadas nas cidades de Alexandria e Siena, obtendo um ângulo de aproximadamente 7 graus. Com base nisso, determinou que 360 graus seriam aproximadamente 50 vezes a distância entre essas cidades e, assim, inferiu que a circunferência terrestre seria de aproximadamente 40.000 km. Mesmo com métodos tão simples, Eratóstenes obteve um resultado com incríveis 5% de desvio em relação às medidas feitas atualmente com a ajuda de satélites.
→ Pêndulo de Foucault e o movimento de rotação da Terra
Em 1851, o físico francês Jean Bernard Léon Foucault desenvolveu um experimento para demonstrar que a Terra girava em torno do seu próprio eixo. O experimento consistia em colocar uma grande massa pendurada em um fio de 67 metros para oscilar em uma grande amplitude. A aceleração centrípeta produzida pela rotação da Terra faz com que o pêndulo tivesse o seu plano de oscilação afetado. Por meio desse experimento, foi possível determinar as coordenadas de latitude e longitude sem qualquer tipo de observação externa. A aceleração que afeta o plano de oscilação do pêndulo é chamada de aceleração de Coriolis. Apesar de ser muito baixa se comparada à gravidade, ela interfere na movimentação dos oceanos e na formação das correntes marítimas.
→ A geometria euclidiana e a menor distância entre dois pontos
Por volta de 300 a.C., o matemático Euclides desenvolveu a geometria euclidiana. De acordo com ela, a menor distância entre dois pontos nas superfícies esféricas não é uma reta, mas sim um arco de circunferência, que hoje em dia chamamos de ortodromia. Apliquemos isso à atualidade, por exemplo: se um avião sair de São Paulo em direção a Paris viajando em linha reta (essa linha é chamada loxodromia), ele percorrerá uma distância maior do que se seguisse a curvatura da Terra. Isso não aconteceria caso a Terra tivesse uma geometria plana. É com base nisso que são traçadas as rotas das navegações e também os voos de longas distâncias. Na superfície esférica, a menor distância entre dois pontos é um arco de circunferência.
→ Claudio Ptolomeu e os mapas do globo terrestre
Alguns séculos depois de Euclides, por volta de 150 d.C., o astrônomo Claudio Ptolomeu escreveu um tratado chamado Geographia fundamentado na circunferência da Terra estimada por Eratóstenes e na geometria de Euclides, criando, assim, um sistema de coordenadas com base em latitudes e longitudes, o qual é utilizado até hoje nos sistemas de localização e também nas navegações.
→ Circum-navegações
A evolução dos mapas permitiu a realização das circum-navegações, que nada mais são do que voltas ao redor de uma região. Neste caso, falamos de voltas ao redor da própria Terra. Fernão de Magalhães, por exemplo, ficou conhecido por realizar a primeira circum-navegação bem-sucedida da história, viajando constantemente ao longo de uma única direção e voltando, assim, ao ponto de origem. A curvatura da Terra também explica o motivo de usarmos os meridianos e os fusos horários. Uma vez que o Sol nasce a leste e se põe a oeste, diferentes partes do globo recebem níveis distintos de luminosidade, promovendo, assim, a separação entre o dia e a noite.
→ A gravitação de Newton e o formato da Terra
A partir da teoria da gravitação universal, o físico inglês Isaac Newton mostrou que era possível calcular a intensidade e a direção da força atrativa que uma massa exercia sobre outra. Os cálculos feitos por Newton permitiam prever a trajetória de asteroides e até mesmo a formação das marés, além de fornecer uma explicação para o formato da Terra e dos demais planetas. Segundo a teoria da gravitação, a gravidade faz grandes porções de massa atraírem-se de forma igual ao longo de todas as direções.
Ou seja, a matéria tende a ocupar espaços cada vez menores, cujo raio, com a passagem do tempo, tende a ser igual em todas as direções. O único formato que admite tal condição é o esférico. Ademais, de acordo com o cálculo e com base na gravitação universal, ambos desenvolvidos por Newton, se a Terra fosse plana, a força gravitacional aumentaria à medida que nos aproximássemos de sua borda. Nesses pontos, os efeitos de contorno fariam com que a gravidade apontasse em uma direção quase paralela ao solo, sendo assim nós acabaríamos "caindo" de volta ao centro da Terra. Dessa forma, não haveria como existir nada nas zonas limítrofes de um planeta plano, nem mesmo as camadas polares, que, segundo a visão terraplanista, circundam a Terra.
→ A relatividade geral de Einstein e a forma da Terra
No início do século XX, Albert Einstein propôs a teoria da relatividade especial e a da relativdade geral. Essa última estabelece a relação entre a trajetória percorrida pela luz e o campo gravitacional. De acordo com a relatividade geral, as ondas eletromagnéticas têm sua trajetória alterada pela presença de corpos massivos, como estrelas e planetas. Tal fenômeno foi testado e comprovado diversas vezes. Em uma delas, dois relógios atômicos foram sincronizados de modo que uma diferença de 1 segundo entre eles só seria observada se passados vários bilhões de anos.
Em seguida, um desses relógios foi colocado em um avião que se movia em alta velocidade e em grande altura em relação ao solo, onde o outro relógio foi deixado no lugar original. Quando o avião pousou, mediu-se uma diferença considerável nos registros dos dois relógios, indicando a influência da gravidade na passagem do tempo. Tecnologias como o GPS são usadas para determinar nossa posição no globo terrestre por meio da medição do tempo que uma onda de rádio leva para chegar até nós e retornar à fonte emissora.
Sendo assim, para usarmos esse tipo de tecnologia, foi necessário que o campo gravitacional da Terra (que depende de sua forma) fosse levado em conta e que algumas correções relativísticas fossem aplicadas, caso contrário, jamais seríamos capazes de medir posições remotamente com tamanha precisão. (*) Alexandre Costa é jornalista e responsável pelo www.esquinademocratica.com