ROSANE DE OLIVEIRA É CRITICADA NAS REDES SOCIAIS AO CITAR OLÍVIO DUTRA E A "PROFECIA" SOBRE A FORD
- Alexandre Costa
- 12 de jan. de 2021
- 3 min de leitura
A jornalista Rosane de Oliveira, que é colunista de Zero Hora e também comentarista política da rádio Gaúcha, publicou um pequeno e polêmico texto, na segunda-feira (11/1), intitulado "Profecia de Olívio sobre a Ford se cumpre 20 anos depois". O comentário da jornalista gerou inúmeros comentários e críticas nas redes sociais, principalmente nos grupos de WhatsApp e no Facebook. Entre as centenas de milhares de postagens sobre o tema, vale a pena ler a resposta do economista Sérgio Kapron, que participou das discussões com a montadora, acompanhando José Carlos Moraes (Zeca Moraes), Secretário de Desenvolvimento Econômico e Assuntos Internacionais no Governo Olívio Dutra (1999-2002), falecido em 2009.


Leia o texto de Sérgio Kapron:
"Cara Jornalista Rosane Oliveira, eu não tenho elementos para avaliar o quanto de jornalismo tem nesta sua declaração sobre o anúncio da Ford de ir embora do Brasil e a suposta profecia de Olívio Dutra. Tampouco para desmerecer tua capacidade que, pela posição que ocupas, deve ser das mais elevadas possíveis.
Mas tenho plena capacidade e obrigação de contrapor a duas de tuas afirmações.
E não porque, há 20 anos, me coube a responsabilidade profissional de estar ao lado do competente e saudoso secretário Zeca Moraes na mesa de negociação onde a Ford decidiu, unilateralmente, abandonar seu projeto no RS. Mas porque tinha, e espero manter, discernimento e capacidade de interpretação de que o projeto inciado por FHC e Antonio Britto, de destruição das capacidades do Estado nacional, seria maléfico para o desenvolvimento do Brasil e do RS, apesar dos ganhos passageiros que eram ostentados. E por ser um dos milhares que, junto com Olívio e Zeca, sofreram os “ataques dos adversários” ampliados por câmeras, microfones e páginas 10 vezes mais privilegiadas.
1) Não foi profecia. Olívio Dutra é uma instituição viva da política, decente, honesto, coerente e comprometido com a melhoria da vida da população que mais precisa. E para isso não precisa ser profeta. O que o Olívio, do alto da responsabilidade de governador do RS, afirmou era uma leitura simples e coerente. Diria, até, óbvia, pois embasada em inúmeros analistas e estudiosos do subdesenvolvimento e da globalização financeira. Restava claro que as políticas neoliberais de benefícios às multinacionais, às custas da destruição da capacidade fiscal dos estados, não traria desenvolvimento sustentado e ainda tirariam a capacidade de manter investimentos nos serviços básicos e na infraestrutura, fundamentais ao desenvolvimento.
As multinacionais promoviam uma competição espúria, buscando salários mais baixos e flexibilidades ambientais que já não encontravam em seus países sede. E de brinde, exigiam e levavam benesses que tiraram recursos da saúde, da educação, da segurança e do desenvolvimento da população dos países e estados que a elas se ajoelhavam. Mas claro, possuíam e ainda possuem grande simbolismo pelos empregos que geravam, pequenos impactos localizados e, claro, por suas gordas contas publicitárias.
2) Os “ataques dos adversários por ter ‘mandado (sic) a Ford embora’” foram gerados, amplificados, repetidos mil vezes e constituídos como uma fraude histórica desde as redações e bancadas deste teu lugar de fala, cara Rosane. Restou provado na justiça, com direito a ressarcimento financeiro pela Ford ao povo gaúcho, que foi ela quem foi embora. Mas por ter lado na disputa política e defender os interesses das multinacionais e grupos financeiros contra o desenvolvimento do povo gaúcho e brasileiro é que a maior empresa de comunicação do RS deu vida a tal mito, assim como a outros que se seguiram. Petistas, Olívio Dutra, Zeca Moraes e um RS Democrático e Popular foram achincalhados desde este teu lugar de fala. As reformas destruidoras do setor público seguem sendo prioridade na mesma proporção em que a economia do RS e do Brasil seguem definhando, para o sofrimento de nosso povo. Pior que a montadora, é a vida digna de um povo ser mandada embora.
Lamento, mas esta tua tentativa de deferência a Olívio Dutra não faz justiça histórica.
Talvez um pedido de desculpas, por que não?
De qualquer forma, o mal está feito. E segue sendo feito com a linha editorial de reformas anti povo e destruidoras do patrimônio público, ancorado na mesma ladainha e publicidades de 20 anos atrás: o Estado está quebrado! Mas a história segue. E sabemos muito bem quem pode andar de cabeça erguida e dormir com a consciência em paz."
Sérgio Kapron