O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por suposta apropriação de R$ 7 milhões, em função da nomeação de funcionários fantasmas. De acordo com matéria publicada pela revista IstoÉ, na sexta-feira (11/9), um dos "fantasmas" recebeu R$ 1,5 milhão para distribuir panfletos. O esquema, segundo a revista, é similar ao utilizado por Flávio Bolsonaro. Ou seja, os filhos do presidente Jair Bolsonaro estão sendo investigados por crime de peculato (quando um servidor se apropria indevidamente de recursos públicos em benefício próprio). As investigações indicam que o esquema teria movimentado movimentado R$ 7 milhões. Carluxo, que é vereador desde 2001, teria utilizado parte dos salários de seus assessores fantasmas para obter vantagens. A prática, conhecida como rachadinha, acontece quando o político retém uma parte ou todo o salário dos funcionários. Também é comum a contratação de parentes que não prestam qualquer tipo de serviço.
A reportagem de IstoÉ revela que Edir Barbosa Goes, funcionário responsável por entregar panfletos no gabinete de Carlos Bolsonaro, por exemplo, recebia um salário de R$ 17 mil mensais e não soube explicar exatamente qual era a sua rotina, nem mostrou qualquer exemplar do material que dizia entregar. Mesmo que isso fosse verdade, o MP-RJ considerou estranho um salário tão alto para um funcionário entregar panfletos. A distorção é clara. Apenas Goes custou cerca de R$ 1,5 milhão aos cofres da Câmara Municipal carioca. Outro comissionado do gabinete do vereador, Guilherme Hudson, também não foi capaz de justificar um trabalho proporcional à sua função na Câmara. Hudson é chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro. É o posto mais alto dentro da estrutura parlamentar da Casa. Ele é primo de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro. Ana também foi chefe de gabinete do ex-enteado e é investigada no processo, sob a acusação de ter sido funcionária fantasma de Carluxo.
As apurações mostram que ela e os outros assessores sacavam entre 80% e 90% dos salários todos os meses, cujo destino está sendo investigado pelo MP. A suspeita é que esse montante seria devolvido ao vereador. Carlos manteve entre 2007 e 2009 um cofre no Banco do Brasil e não conseguiu demonstrar aos investigadores o que guardava no local. Ele nunca declarou o que constava nesse cofre. Os promotores suspeitam que era usado para guardar dinheiro vivo, joias e documentos.
IMÓVEIS E DINHEIRO VIVO De acordo com a matéria de IstoÉ, a ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina, comprou 14 imóveis entre 1998 e 2008, época em que estava casada com o presidente, parcialmente com dinheiro vivo. Na separação do casal, os imóveis estavam avaliados em R$ 3 milhões. Outra ex-mulher do presidente e mãe do Carluxo, Rogéria Nantes Bolsonaro, pagou em dinheiro vivo R$ 95 mil, em 1996, por um apartamento na zona norte do Rio de Janeiro. Na época, ela era casada com Bolsonaro. Hoje, o imóvel está avaliado em mais de R$ 600 mil. A atual mulher de presidente, Michele Bolsonaro, recebeu R$ 89 mil em depósitos feitos pelo ex-PM Fabrício Queiroz, antigo assessor de Flávio Bolsonaro. O outro irmão de Carlos, o senador Flávio (Republicanos), é alvo de investigações sobre rachadinhas, uma loja de chocolates e de vários imóveis comprados com dinheiro vivo. O senador é investigado pelo fato de seu ex-assessor Fabrício Queiroz ter movimentado R$ 1,2 milhão e que ele seria destinatário de parte desses valores. O caso é similar ao que é apurado em relação ao irmão Carlos. Já outro irmão do vereador, o deputado federal Eduardo (PSL), é investigado por disseminar fake news por meio do perfil falso Bolsofeios. O deputado Julian Lemos (PSL-PB) denuncia que ele utilizou verbas do auxílio-moradia da Câmara dos Deputados para comprar um apartamento.
AMIGOS DO PRESIDENTE
IstoÉ faz referência aos amigos do presidente, acusados de atividades ilícitas,como o pastor Everaldo foi preso pela Polícia Federal, em 28 de agosto, sob a acusação de comandar um esquema de corrupção na administração do governador afastado Wilson Witzel. O pastor foi responsável pelo batismo do presidente Jair Bolsonaro no Rio Jordão, em Israel. Ele comandava negócios fraudulentos na Secretaria de Saúde. A reportagem questiona osmotivos pelos quais Fabrício Queiroz ainda não explicou a razão dos depósitos para a primeira-dama. Ele é o principal envolvido nas rachadinhas que favoreceram Flávio. Há ainda outras ligações perigosas com o chefe de milícias Adriano Nóbrega e com os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Vieira, apontados como participantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). A matéria de IstoÉ cita o caso de Adriano, que foi até condecorado por Flávio, a pedido de Bolsonaro, em 2005. Foragido, ele foi morto em ação policial em fevereiro. "Ronnie Lessa é morador do mesmo condomínio de Bolsonaro. Ronnie e Élcio estão presos. Os negócios da família sempre foram suspeitos e a chegada ao poder apenas colocou luz em relações altamente nebulosas", cita a reportagem de IstoÉ.