Reportagem revela o drama dos desabrigados que seguem à espera de casa, cinco meses após as enchentes no RS
- Alexandre Costa
- 7 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de out. de 2024

Passados cinco meses após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, quase duas mil pessoas continuam em abrigos públicos no estado, como revela a reportagem de Amanda Audi, Gregório Mascarenhas, Sílvia Lisboa, Matinal Jornalismo, postada no site da Pública - Agência de jornalismo investigativo, no dia 4 de outubro.
Por Mais de um ano após as enchentes de setembro de 2023, que haviam sido a pior tragédia ambiental do estado até então, e cinco meses depois das de maio de 2024, que foram ainda piores, quase duas mil pessoas continuam em abrigos no Rio Grande do Sul.
O número de gaúchos que perderam suas casas é bem maior, pois mais de 100 mil foram destruídas, de acordo com a Confederação Nacional dos Municípios. Sem uma resposta do poder público, que até agora entregou menos de 500 moradias, muitos foram obrigados a voltar a casas com danos estruturais graves ou em áreas de risco, que fatalmente voltarão a inundar. Ainda há 46 abrigos em funcionamento no estado, a maioria em cidades do Vale do Taquari e na região metropolitana de Porto Alegre – os locais mais afetados. Quase metade dos desabrigados foi transferida de abrigos provisórios, montados às pressas durante a emergência, para os chamados Centros Humanitários de Acolhimento, instituições geridas pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Os centros deveriam funcionar até dezembro, mas funcionários acreditam que o prazo terá que ser prorrogado, uma vez que boa parte dos residentes tem pouca ou nenhuma perspectiva de sair dali.
PLANOS DE HABITAÇÃO NÃO SÃO CLAROS
Em 15 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ministros visitaram o Rio Grande do Sul e prometeram que as famílias com renda mensal de até R$ 4,4 mil mensais que perderam suas casas nas enchentes receberiam novas moradias do governo federal. O programa Minha Casa Minha Vida contratou 11,5 mil novas moradias – os imóveis devem custar até R$ 200 mil e não podem ficar em áreas alagáveis. O ritmo, porém, é lento. Pouco menos de 400 foram liberadas até agora.
Já o governo do Rio Grande do Sul, de Eduardo Leite (PSDB), prometeu 500 novas unidades, que devem ser entregues à medida que as prefeituras disponibilizem os terrenos. Até agora, foram liberadas 144 casas em três cidades do Vale do Taquari e serão mais 48 até o fim de outubro, conforme a administração pública estadual.
Não há um dado geral sobre a quantidade de pessoas que ainda estão desabrigadas no Rio Grande do Sul. O auxílio de R$ 5,1 mil, concedido aos atingidos pelo governo federal, não foi suficiente para que as famílias ouvidas pela reportagem conseguissem reconstruir suas vidas. Muitas, também, não tiveram acesso ao aluguel social, porque não estão inscritas no CadÚnico.
Criado pelo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), o Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática da capital gaúcha é uma força-tarefa temporária, que funcionará até dezembro deste ano. De acordo com a prefeitura, tem orçamento de R$ 890 milhões, dos quais R$ 510 milhões devem servir a obras de drenagem e segurança hídrica e R$ 326 milhões serão destinados à recuperação de 218 equipamentos públicos afetados, entre outros investimentos. O órgão só tem dois servidores do Departamento Municipal de Água e Esgotos para dar conta do principal problema que levou ao desastre.
O Escritório de Reconstrução está sob coordenação do secretário de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Germano Bremm, que estava na gestão anterior, de Nelson Marchezan Jr. (PSDB), e é reconhecidamente alinhado ao setor imobiliário local. É um órgão dominado por cargos comissionados do primeiro escalão do governo Melo, que ganham um benefício especial para integrá-lo. Questionado sobre os trabalhos em andamento pela reportagem, o órgão se limitou a dizer que “Há muita coisa sendo realizada pelo Escritório de Reconstrução. São mais de 300 ações”, sem especificar quais seriam e seus prazos de execução.