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Foto do escritorAlexandre Costa

REPORTAGEM DA 'HEADLINE' MOSTRA A LUTA DOS OPERÁRIOS CONTAMINADOS PELA INDÚSTRIA NUCLEAR DO BRASIL


A reportagem de Tania Malheiros, publicada na sexta-feira (23/6), no site da Headline, mostra a crueldade com que foram tratados os operários que trabalharam da primeira instalação industrial nuclear do Brasil, a Orquima, batizada depois de Usina de Santo Amaro (Usam), da Nuclemon. Durante cerca de cinco décadas, centenas de operários da empresa trabalharam em condições desumanas na manipulação de material radioativo, sem nenhuma proteção.


Desinformados sobre o perigos e riscos do manuseio de material radioativo, muitos morreram contaminados. Autora do livro "Cobaias da radiação", resultado de quatro anos de investigação, a jornalista relata a luta dos sobreviventes, o rastro de mortos e de doentes e os impactos causados da primeira da instalação industrial nuclear em São Paulo.

Com fotos de Mastrangelo Reino, a reportagem conta como a Orquima (Nuclemon) mudou de nome várias vezes ao longo de sua história e passou por vários governos. Lançada oficialmente nos anos 50, durante o governo de Getúlio Vargas, a empresa já operava na década de 40. Nessa trajetória cheia de mistérios, deixou um rastro de transações duvidosas, que enriqueceram alguns poucos empresários à custa da saúde dos trabalhadores.

Unidade militarizada na década de 40, a fábrica operava no bairro do Brooklin, em São Paulo, e chegou a ter 500 trabalhadores — na sua maioria, analfabetos e negros. Eles eram recrutados nas roças e na construção civil da periferia paulista e de outros estados para um trabalho desumano: manusear urânio e tório. Estes dois elementos químicos radioativos eram extraídos das terras raras contidas nas areias monazíticas das praias do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia.


A reportagem de Tania Malheiros traz relatos e fotografias que mostram como os operários eram tratados com descaso, sem as mínimas condições sanitárias: a maioria comia em marmitas no local contaminado e lavava seus uniformes em casa, junto com as demais roupas da família. Para atrair os funcionários pobres, a empresa oferecia latas de leite para filhos menores e botijão de gás.


Hoje, cerca de 100 sobreviventes e familiares dos mortos, conscientes de que foram enganados sobre os riscos, lutam na Justiça por indenização, com a ajuda da Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energia Nuclear (Antpen), lançada em São Paulo, em 2006, para defendê-los. Os processos por indenizações têm sido rejeitados pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB) , que ficou responsável pelo passivo sócio ambiental da Nuclemon, e contra a qual as vítimas travam suas lutas na Justiça.

Das cerca de 70 ações que se arrastam há anos, apenas uma, no valor de R$ 94 mil, foi paga. Desde que a associação em defesa dos trabalhadores foi lançada, mais de 15 operários já morreram. Muitos estão em tratamento contra câncer e sofrem de problemas auditivos e pulmonares, como silicose – uma doença pulmonar causada pela inalação de poeira de sílica, substância cancerígena. Os tratamentos estão sendo garantidos por um plano de saúde pago pela INB, que tentou várias vezes suspendê-lo na Justiça. Foi o único benefício concedido pela empresa.

"Nas minhas inúmeras tentativas de contato, eles argumentam sempre que o que aconteceu é um caso do passado, muito passado. É o argumento oficial da empresa na justiça", descreve a autora "Cobaias da radiação".


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