Reportagem de Rubens Valente, da Agência Pública, denuncia militares por se negarem a entregar cestas básicas aos Yanomami. Publicada nesta terça-feira (20/6), a matéria afirma que o Ministério da Defesa cobra o pagamento de R$ 1,6 milhão a cada dois meses para entregar 5.318 cestas básicas por meio fluvial até as aldeias, no lado do Amazonas, na terra indígena. Cabe lembrar que ainda está em vigor a emergência sanitária de socorro aos Yanomami. Com a ausência dos recursos, a entrega dessa parte das cestas básicas está paralisada.
Nos últimos anos, grupos Yanomamis estão passando fome, seja pela diminuição de seus territórios, pela degradação ambiental causada pelo garimpo ilegal em suas terras, ou pela influência cada vez maior da cultura ocidental em suas comunidades, que tem levado ao declínio nas práticas tradicionais de caça, pesca e agricultura. Essas questões têm impactado negativamente a segurança alimentar dos Yanomamis. Atualmente, existem mais de 400 grupos indígenas na Amazônia e a estimativa é de que a população indígena seja de cerca de 2,5 milhões de pessoas. Muitos desses grupos estão ameaçados pela pressão da colonização, da exploração econômica e do desmatamento.
As informações apuradas pela reportagem da Agência Pública demonstram menosprezo e indiferente aos indígenas. De acordo com a matéria a ajuda militar é solicitada desde março pela presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Joenia Wapichana, sem sucesso. "Ela já escreveu pelo menos três vezes ao chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, o almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire. O militar primeiro pediu à Funai um “planejamento detalhado para análise da viabilidade” da operação, depois argumentou que as Forças Armadas precisam de R$ 1,6 milhão a cada dois meses" descreve a reportagem, informando ainda que três meses se passaram sem que qualquer cesta tenha chegado às comunidades indígenas do Amazonas. Entregas pontuais têm sido feitas pela Funai com apoio aéreo, mas as cestas que deveriam ir por meio fluvial com o apoio militar não chegaram.
Confira abaixo, mais alguns trechos da reportagem de Rubens Valente:
Todas as comunicações, a presidente da Funai ressaltou “o grave quadro de fome e insegurança alimentar enfrentado por essas populações [indígenas] nos estados de Roraima e Amazonas”. Em março, Wapichana explicou que o pedido “se justifica dadas às condições de acesso extremamente difíceis e o perigo de retaliação por parte dos invasores, fazendo-se imprescindível o suporte logístico da instituição [Defesa] de modo a garantir a efetiva entrega dos alimentos às comunidades yanomami e a segurança dos agentes públicos envolvidos”.
Em março, Wapichana já havia solicitado à Defesa “a possibilidade de mobilizar a estrutura fluvial das Forças Armadas com vistas à entrega de cestas nas comunidades localizadas no estado do Amazonas”. “O aludido desenho é de plena aceitação por parte desta Fundação, que possui hoje recursos humanos escassos para atuação em Roraima, e foi bem recepcionado pelos oficiais das Forças Armadas à frente da operação em Boa Vista e mesmo pelo Ministério do Desenvolvimento Social”, escreveu a presidente da Funai em 10 de março.
A Pública apurou que as cestas estão estocadas em armazéns de Boa Vista (RR) e de Manaus (AM) à espera de uma solução. Fotografias comprovam grandes volumes de cestas sem distribuição.
Além da questão fluvial, os militares continuam sem cumprir o pedido original da Funai para que sejam distribuídas 12,6 mil cestas mensalmente aos Yanomami nas aldeias dos dois Estados, Amazonas e Roraima, neste último caso por via aérea, de preferência por helicópteros. O plano foi apresentado em 10 de fevereiro pela presidência da Funai.
Se o plano tivesse sido acolhido pelos militares na íntegra, deveriam ter sido entregues até o momento aproximadamente 50 mil cestas básicas aos Yanomami. Perguntado pela Pública, o Ministério da Defesa informou ter distribuído, até a última segunda-feira (19), “mais de 23 mil cestas”. O número corresponde a menos de 50% do plano original.
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