Não é de agora que casos de violência protagonizados por bolsonaristas aterrorizam o país. Além das ameaças anônimas e sistemáticas nas redes sociais, os seguidores do presidente Jair Bolsonaro (PL) se sentem à vontade para cometer crimes de feminicídio, racismo, homofobia, entre outros. O perfil dos agressores é semelhante: são covardes, atacam em grupos e em situações nas quais as vítimas não conseguem reagir.
Os protestos antidemocráticos, que acontecem desde domingo (30/10), após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciar oficialmente a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Bolsonaro, começaram com bloqueio de estradas e rodovias, se estenderam para manifestações junto a quartéis ou zonas militares e podem continuar a partir de uma suposta greve geral, anunciada para a próxima segunda-feira (7/11).
Ao não aceitar a derrota nas urnas, os seguidores do presidente são responsáveis pela desordem, tentativa de gerar um caos social e pelos prejuízos irreparáveis à economia do Brasil. Cabe ressaltar que a apologia à ditadura militar é crime e está previsto na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), na Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e no Código Penal (artigo 287). Além do desrespeito à democracia, os bolsonaristas são responsáveis pela tentativa de impor a sua vontade por meio da força, da coerção, da violência física e, em alguns casos, resultaram na morte de opositores.
No dia 10 de outubro foi divulgada a segunda edição do estudo ‘Violência política e eleitoral no Brasil’, produzido pelas organizações de direitos humanos Terra de Direitos e Justiça Global. De acordo com o estudo, durante os dois últimos anos do governo Bolsonaro, entre setembro de 2020 e outubro de 2022, o Brasil contabilizou 54 assassinatos, 109 atentados, 151 ameaças, 94 agressões e 104 ofensas, além de 6 casos de criminalização e 5 de invasão, motivados por violência política e eleitoral.
Nos últimos dois anos, o estudo mapeou 523 casos de violência política envolvendo 482 vítimas entre representantes de cargos eletivos, candidatos/as ou pré-candidatos/as e agentes políticos no Brasil. Apenas em 2022 foram registrados 247 episódios de violência política, um número 400% maior do que os casos registrados em 2018. Somente entre os dias 1 e 2 de outubro foram contabilizados 121 casos. Nos dois meses que antecederam o primeiro turno das eleições, agosto e setembro, foram registrados quase o mesmo número de episódios de violência política e eleitoral do que os sete primeiros meses de 2022.
PT SOFREU MAIS AGRESSÕES
Segundo o levantamento, lideranças de 29 partidos foram atingidas por algum tipo de violência no terceiro trimestre de 2022. O PT foi o partido com o maior número de alvos. Foram 37 casos (17,5%). Em seguida, apareceu o PSOL, com 19 (9%). Um levantamento da Anistia Internacional apontou que nos três meses que precederam o primeiro turno, em 2 de outubro, houve o registro de pelo menos um caso de violência política a cada dois dias, sendo que 88% dos casos ocorreram apenas em setembro, incluindo assassinatos, ameaças contra eleitores, agressões físicas e restrições na liberdade de movimento de candidatos.
O estudo informa que até o ano de 2018, uma pessoa era vítima de violência política a cada 8 dias. Já em 2019, quando foi publicada a primeira edição do estudo, episódios de violência foram registrados a cada dois dias. Apenas em 2022, já há o registro de 247 casos – ou seja, um caso de violência política é registrada a cada 26 horas.
MEDO DE SER AGREDIDO Segundo pesquisa do Datafolha, divulgada em 15 de setembro, 70% dos brasileiros declararam ter medo de serem agredidos fisicamente em função de opiniões políticas.
AMEAÇA DE MORTE
Após receber ameaças de morte, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) pediu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), reforço de segurança e escolta da Polícia Legislativa. A informação foi publicada nesta sexta-feira (4/11) pela revista Veja. "Depois de entrar de cabeça na campanha de Lula, Tebet passou a ser alvo de ataques raivosos de bolsonaristas, principalmente pelas redes sociais. As ameaças, inclusive de morte, aumentaram drasticamente nos últimos dias e obrigaram a parlamentar a agir", diz um trecho da reportagem.
PM REFORMADO É ACUSADO DE ENFORCAR CRIANÇA DE 6 ANOS Em Minas Gerais (MG), dois casos chocaram o país. Um policial militar reformado é suspeito de enforcar uma criança de 6 anos que teria dito palavras de apoio ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Divinópolis, região Centro-Oeste de Minas Gerais. O caso aconteceu no último domingo (30), segundo turno da eleição presidencial. De acordo com o UOL, a mãe da criança, Reisla Naiara Gomes, usou as redes sociais para denunciar o caso. Segundo o boletim de ocorrência, familiares informaram que a criança teria ido até uma padaria próxima de casa, quando foi abordada pelo militar, de 55 anos. O comércio pertence à família do policial reformado. O homem questionou o menino sobre política. A criança respondeu dizendo “Lula lá”, e acabou sendo enforcada pelo militar, que só parou quando a vítima ficou inconsciente. O outro caso também ocorreu no dia do segundo turno. Um apoiador de Jair Bolsonaro (PL) assassinou a tiros um jovem de 28 anos e deixou outras quatro pessoas feridas durante uma comemoração pela vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva, na noite do domingo (30), em Belo Horizonte. De acordo com o jornal "O Globo", o autor do crime, cuja identidade não foi revelada, matou Pedro Henrique Dias Soares na garagem de sua casa no bairro mineiro Nova Cintra. Além disso, o suspeito, de 36 anos, também baleou outras quatro pessoas ao término da apuração: duas mulheres de 47 anos, uma de 40 e uma criança de 12. A polícia investiga o caso como crime de motivação política e explicou que o suspeito estava sob o efeito de álcool quando decidiu sair em "busca de traficantes". Na sequência, "atirou aleatoriamente" ao sair de casa. O criminoso foi preso em flagrante sob acusações de homicídio e tentativa de homicídio. A defesa dele, no entanto, alega surto psicótico e não cunho político.
VIOLÊNCIA CONTRA A IMPRENSA
Em Porto Alegre, integrantes de pelo menos cinco equipes de TV foram ameaçados e impedidos de realizar seu trabalho nos atos bolsonaristas que acontecem em frente à sede do Comando Militar do Sul, no Centro de Porto Alegre. O caso mais grave envolveu a equipe da TV Bandeirantes, que teve uma câmera danificada e o repórter Matheus Goulart agredido por um homem. O agressor foi preso em flagrante pela Brigada Militar (BM).
Segundo a corporação, o homem – que não teve a identidade divulgada – agrediu Goulart e o cinegrafista Rogério Aguiar pelas costas, com socos e empurrões, ao melhor estilo de um covarde. Em seguida, o bolsonarista fugiu, mas foi detido por pessoas que testemunharam o ato de violência. “Apesar das provocações que ouvíamos, comuns em coberturas deste tipo, o clima era tranquilo. As pessoas estavam, inclusive, nos mostrando os cartazes e pedindo que filmássemos. Até que o covarde chegou, me empurrou, deu um soco na nuca do Rogério e outro soco no rosto do Moisés [motorista], que caiu no chão. O covarde ainda tentou quebrar nosso equipamento. Em parte, conseguiu”, explicou Goulart.
A equipe recebeu atendimento no Hospital de Pronto Socorro e logo depois registrou um boletim de ocorrência. A Bandeirantes repudiou a agressão e informou, em editorial lido em seus telejornais, que o ato configura crime. “Além dos danos físicos e materiais causados pelo agressor, é uma afronta à Constituição. Não cometer crimes como o fechamento de ruas e estradas, isso sim é agir de acordo com a Constituição. Agredir jornalistas no pleno exercício do seu trabalho é atentar contra a ordem democrática e o estado de direito”, pontuou a emissora.
Jornalistas da Record e do SBT também foram ofendidos e ameaçados. A repórter Daiane Dalle Tese da Record foi impedida de registrar o ato durante uma participação ao vivo para o programa Balanço Geral. Ela fez um boletim de ocorrência, porém os agressores não foram identificados. A repórter relatou que um homem começou a transmitir seu boletim em uma live e a chamar de mentirosa. “Gravem esse rosto, essa pessoa é mais uma que mente”, disse o agressor. Já o repórter João Pedro Tavares e o cinegrafista Danúbio Germano, da RDC TV, foram cercados pelos bolsonaristas e obrigados a desligar o equipamento de gravação. Depois de ameaçados, foram obrigados a deixar o local para evitar novas agressões. O repórter Lucas Abati e o cinegrafista Cristiano Mazoni, ambos do SBT, também foram impedidos de trabalhar. O mesmo ocorrendo com a equipe da RBS TV, que também teve que deixar o local.
A Record do Rio Grande do Sul emitiu uma nota de repúdio contra as agressões e lembrou que a liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia. A Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) também repudiou a violência dos bolsonaristas. “Meios de comunicação livres são sempre um importante pilar do estado democrático de direito”, diz o documento. O ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que foi reeleito, manifestou sua indignação. “Ataques à imprensa são atentados contra a democracia. Os episódios de hoje em Porto Alegre, cometidos por quem se recusa a aceitar o resultado das urnas, são inaceitáveis e devem ser repudiados por todos. Minha solidariedade aos profissionais”, escreveu.
O Sindicatos dos Jornalistas afirmou que, “em hipótese alguma”, vai admitir que agressões desse tipo sejam feitas contra os profissionais que estão exercendo seu direito ao trabalho. A presidente Laura Santos Rocha vinculou as agressões ao governo de Bolsonaro, que “criou um clima hostil também da parte dos apoiadores do atual presidente, que agem de forma perversa, desrespeitando o resultado democrático das urnas”. Laura reiterou que a entidade encaminhou ofícios às autoridades de segurança pública para que “investiguem e punam os responsáveis por mais esse ataque à imprensa.
BOLSONARO E AS AGRESSÕES A JORNALISTAS
O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o principal violador da liberdade de imprensa em 2021, assim como fora no ano anterior, quando esteve envolvido em 175 casos de ataque. Sozinho, Bolsonaro foi responsável por 147 de 430 casos (34,19% do total), sendo 129 episódios de descredibilização da imprensa e 18 de agressões verbais a jornalistas. Os dados fazem parte do Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2021, lançado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) no dia 27 de janeiro deste ano).
O número total de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação, além de violações à liberdade de expressão alcançou patamar nunca visto: 430 casos, dois a mais do que os 428 registrados em 2020 - ano em que foi registrada uma explosão de alertas, com alta de 105% em relação a 2019 (208). Políticos e seus assessores continuaram a ser os principais agressores (40 alertas, sem contar o presidente). Manifestantes bolsonaristas foram associados a 20 violações. “Os números da violência contra jornalistas atestam, desde que a extrema direita chegou ao Planalto, que nos tornamos alvo e que o objetivo é, de fato, cercear a livre circulação da informação jornalística”, afirmou na ocasião a presidente da Fenaj, Maria José Braga.
Diante da violência, das ameaças, do desrespeito à democracia, cabe questionar: quem vai barrar o bolsonarismo, se parte da sociedade defende os mesmos princípios?