PSOL propõe homenagens à atriz Fernanda Torres na Câmara Municipal de Porto Alegre e na Assembleia Legislativa do RS
- Alexandre Costa
- 9 de jan.
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A atuação de Fernanda Torres, vencedora do prêmio de melhor atriz do Globo de Ouro 2025, interpretando Eunice Paiva no filme Ainda Estou Aqui, inspirou a bancada de vereadores do PSOL da capital gaúcha a apresentar proposições para conceder à artista o título de Cidadã de Porto Alegre e o Troféu Câmara Municipal de Porto Alegre. Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a deputada estadual Luciana Genro (PSOL) indicou a atriz Fernanda Torres à Medalha da 56ª Legislatura. O longa-metragem Ainda Estou Aqui entrou no cenário do país em um momento delicado da política brasileira. O clima ficou ainda mais tenso após os atos do dia 8 de janeiro de 2023 e do avanço das investigações da Polícia Federal (PF), que reuniu uma série de evidências sobre a existência de um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre Moraes. A prisão de militares e de apoiadores do golpe, inclusive do general Braga Neto, candidato à vice na chapa do ex-presidente Jair Bolsonaro, resultaram em um ambiente de ameaça constante à democracia do Brasil. O filme Ainda Estou Aqui fez o país mergulhar nos tempos sombrios dos anos de chumbo, que, durante 21 anos, prendeu, torturou, matou e ocultou corpos de quem era contrário ao regime. Fernanda Torres interpretou Eunice Paiva, advogada viúva do deputado federal Rubens Paiva, torturado e morto nos porões da ditadura militar. Ela foi uma ativista incansável na luta pelos direitos civis e dos desaparecidos deste período sombrio da história do Brasil. Eunice foi incansável na busca de informações sobre o desaparecimento do marido, liderando campanhas para a abertura dos arquivos da ditadura. Também foi muito combativa no sentido de impulsionar a lei 9.140/95, que reconhece como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante a ditadura militar. Porém, somente em 1996, Eunice Paiva conseguiu o atestado de óbito do seu marido, preso, torturado e morto pelos órgãos de repressão entre 20 e 22 de janeiro de 1971.
O vereador Roberto Robaina (PSOL) ressalta que o trabalho de Fernanda Torres, assim como do diretor Walter Salles, que conseguiu trazer para o cinema a história relatada por Marcelo Rubens Paiva no livro Ainda Estou Aqui, tem sido extremamente importante para relembrar a história do país e para a defesa da democracia. “Nestes tempos em que muita gente reivindica a ditadura e até idolatra torturador, é fundamental punir quem atenta contra as liberdades democráticas”, argumenta Robaina.
LUCIANA GENRO INDICA FERNANDA TORRES À MEDALHA DA 56ª LEGISLATURA A deputada estadual Luciana Genro, líder do PSOL na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, apresentou proposta semelhante ao parlamento estadual, indicando Fernanda Torres à Medalha da 56ª Legislatura. Luciana é filha do ex-governador Tarso Genro, que, durante a ditadura, exilou-se no Uruguai para não ser preso. “Homenagear a Fernanda, que interpretou com tanta força e respeito a Eunice Paiva, é homenagear a luta de todas as famílias, inclusive a minha, que sofreram e ainda sofrem os horrores daquele período. Através dela, queremos dizer: Ditadura Nunca Mais!”, afirmou a parlamentar.
Luciana Genro propôs também, à Secretaria da Educação (Seduc), a inclusão do livro “Ainda Estou Aqui” no acervo das bibliotecas das escolas públicas estaduais do Rio Grande do Sul. Ao adotar essa iniciativa, estaremos não apenas aproveitando o momento de grande visibilidade da obra, mas também contribuindo para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes de seu papel na construção de um futuro mais justo e democrático”, justificou a deputada, que colocou o mandato à disposição para avaliar uma possível emenda a fim de financiar a compra dos exemplares.
DOCUMENTOS SOBRE A PRISÃO DE RUBENS PAIVA ENCONTRADOS EM PORTO ALEGRE A homenagem à Fernanda Torres pela Câmara Municipal também é sustentada por um fato marcante, que coloca Porto Alegre no mapa da luta da família Paiva pela verdade. Em 2012, foram encontrados na cidade os documentos que comprovavam a entrada de Rubens Paiva como preso político no DOI-Codi do Rio de Janeiro, durante a ditadura militar. O Exército jamais admitira envolvimento no sumiço do deputado. Os papéis estavam no arquivo pessoal do coronel da reserva Júlio Miguel Molinas Dias, assassinado no bairro Chácara das Pedras naquele ano.