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Foto do escritorAlexandre Costa

PRIVATIZAÇÃO DOS CORREIOS PROPOSTA POR BOLSONARO É PARTE DO GOLPE PARA ATACAR AS ESTATAIS DO BRASIL

O ex-presidente Lula criticou na quinta-feira da semana passada, dia 20 de maio, o projeto que prevê a privatização dos Correios. Por meio de uma série de postagens no twitter, Lula fez referência à empresa, que tem mais de 350 anos e que ano passado registrou lucro líquido de R$ 1,53 bilhão, lembrando que "em mais de 2 mil municípios onde não existem agências bancárias, os Correios são a única instituição a atender moradores e negócios locais".

A manifestação do ex-presidente é pertinente e poderia servir ao menos para abrir os olhos da imprensa adormecida e da sociedade desinteressada. Quais os motivos para o governo a abrir mão de uma empresa lucrativa e o que de fato está por trás da privatização de uma empresa que registra lucros bilionários? Silenciosa e extremamente rápida, a privatização que inexplicavelmente foi aprovada em caráter de urgência pelos deputados da base de apoio do presidente Bolsonaro, no dia 20 de abril, são apenas alguns dos tantos questionamentos que permanecem no ar.

No final do ano passado, no dia 25 de novembro, o jornal Valor Econômico publicou matéria anunciando o lucro bilionário em 2020, chamando atenção de que aquele era o melhor resultado da estatal desde 2012. Naquele ano, o lucro da empresa alcançou R$ 1,113 bilhão. Depois, foram quatro anos seguidos de prejuízo. O resultado só voltou ao azul em 2017, superando o déficit operacional que estava perto de R$ 2 bilhões e que foi utilizado à exaustão para fortalecer os argumentos dos defensores da privatização dos Correios.


O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, incluindo os Correios no Programa Nacional de Desestatização (PND), havia sido enviado ao Congresso no final de fevereiro. O alerta feito pelo ex-presidente Lula coloca luz em um tema que estava, de certa forma, escondido ou relegado a um segundo plano no cenário político nacional. A proximidade com o processo eleitoral e a retomada das manifestações de rua contra o governo Bolsonaro podem impedir que o processo de privatização dos Correios seja consolidado. De qualquer forma, cabe à imprensa e à sociedade questionar os motivos reais para o governo abrir mão de uma empresa lucrativa e com evidentes perspectivas de crescimento.


TECNOLOGIA 5G

Impulsionados pelo incremento da automação digital em suas operações nos últimos dois anos, os Correios vislumbram uma série de inovações em seus serviços e produtos com a chegada da tecnologia 5G ao país. Com as novas possibilidades de conexão, a estatal pretende agregar mais valor aos seus processos produtivos e ampliar a oferta de serviços digitais aos cidadãos que vivem nos pontos mais longínquos do Brasil. Atualmente, a empresa conta com mais de 25 mil chips instalados nos smartphones utilizados pelos carteiros, que permitem a atualização em tempo real dos status de mais de 2,8 milhões de encomendas entregues diariamente em todo país.


Outras iniciativas em curso, que buscam oferecer uma melhor experiência aos clientes por meio de canais físicos e digitais, certamente também serão potencializadas no ambiente 5G. Será possível, por exemplo, a abertura de mais pontos de atendimento na modalidade “Correios Aqui”, bem como agilizar a instalação dos lockers Correios, armários inteligentes que oferecem mais praticidade na hora de receber as encomendas. Alojados em locais de fácil acesso e grande circulação de pessoas – como estações de metrô, rodoviárias e shoppings – , os equipamentos devem ser instalados, ainda em 2021, em mais de 150 pontos em todo o país.


Com a chegada da tecnologia 5G, os Correios ainda têm a expectativa de aumentar a disponibilidade e integração de seus dispositivos, bem como a sua capacidade de processamento de dados. Essa evolução digital e de automação está sendo estudada com objetivo de promover avanços na robotização nos fluxos operacionais, como no caso do projeto de roteirização dinâmica, que permitirá o cálculo das rotas de distribuição por meio de algorítimos, melhorando o atendimento na última milha.


Há também projetos de uso de telemetria embarcada na frota dos Correios, para obter informações de localização e dirigibilidade dos veículos, aumentando a eficiência e segurança nas entregas. Estas inovações já estão em desenvolvimento, com previsão de implantação até 2022. Com uma plataforma digital mais robusta, os Correios continuarão a interligar pessoas e negócios, mas elevando significativamente a qualidade dos seus serviços. “A empresa está atenta a estas oportunidades e comprometida com as adaptações necessárias para modernização do seu portfólio, que traz a segurança e a confiabilidade já reconhecidas da marca Correios”, destaca o superintendente de Tecnología da estatal, Thiago Kovalski.

REFERÊNCIA MUNDIAL

Em 2019, a estatal ganhou o Prêmio ABComm de Inovação Digital daquele ano, um dos mais relevantes do e-commerce brasileiro, organizado pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). No ano passado, os Correios venceram o World Post & Parcel Awards, prêmio internacional considerado o "Oscar" dos correios de todo o mundo. Quase metade de suas receitas atuais provém de encomendas expressas. A companhia postal detém 44% do mercado brasileiro, que já é aberto à concorrência nesse segmento, e a pandemia de covid-19 gerou uma explosão do e-commerce. A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) projeta crescimento em torno de 30% para este ano.


PRIVATIZAÇÃO FAZ PARTE DO GOLPE

Mas vale lembrar que as notícias sobre privatizações de estatais vêm estampando os jornais do Brasil desde o impeachment de Dilma Rousseff. Por diversas vezes, o processo de privatizações foram e continuam sendo denunciados pelos partidos de esquerda, centrais sindicais e movimentos sociais, como parte do golpe que derrubou a democracia, vem vendendo o patrimônio público, destruindo o estado e retirando direitos e conquistas históricas dos trabalhadores brasileiros. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) foi criada em 1663 e o seu desenvolvimento se mistura à história do país e à evolução das novas tecnologias.

Com o impeachment de Dilma Rousseff, a estatal passou a ser um dos principais alvos dos defensores das privatizações. Ao assumir a Presidência da República, Michel Temer deu início ao pesadelo vivido pelos trabalhadores da empresa. Alegando déficit acumulado de mais R$ 4 bilhões nos dois anos anteriores, os diretores dos Correios impuseram uma agenda de reestruturação, que resultou na demissão de milhares de funcionários e no fechamento de pelo menos 250 unidades próprias em todo o país.


O Plano de Demissão Voluntária (PDV) da estatal, lançado no início de 2017, obteve a adesão de 5,5 mil empregados. Na época, os Correios contavam com 117 mil empregados e mais de 6.400 agências próprias, além de outras mil conveniadas. A estatal entregava, em média, mais de 30 milhões de correspondências e encomendas por dia em todo o Brasil.


ARGUMENTOS PARA PRIVATIZAR Um dos motivos alegados para privatizar os Correios está relacionado à qualidade dos serviços. O tempo de entrega é considerado maior do que os serviços privados, que garantem a entrega, no mesmo dia, de 70% das suas encomendas. No entanto, o próprio mercado reconhece os serviços prestados pelos Correios, seja pelas premiações recebidas ou pelo interesse que despertam nos concorrentes e os argumentos falaciosos sobre o monopólio existente no setor. O monopólio dos Correios se limita apenas ao serviço de cartas e está previsto na Constituição para a garantia do direito ao serviço postal de todos os brasileiros. Já o serviço de encomendas, como Sedex e PAC, está aberto para o livre mercado, ainda sim, de acordo com os dados da estatal, apresenta bons resultados.


Outro argumento é de que os lucros da empresa não são reais, pois só são possíveis em função da isenção tributária. No entanto, os dados dos relatório administrativos da empresa desmentem estes argumentos. Descontado o custo dos produtos e serviços prestados, o lucro bruto da empresa aumentou em mais de R$ 200 milhões nos últimos dois anos, atingindo R$ 2,7 bilhões em 2019. Soma-se a isso, o fato de que, diferente de outras estatais, a empresa não sendo dependente do Tesouro Nacional. Ou seja: o governo não precisa colocar recursos na empresa e a produção toda é feita pelos trabalhadores dos Correios.


DÍVIDA FUTURA SIM, PREJUÍZOS NÃO

A principal justificativa para o resultado negativo nas contas dos Correios é o aporte para financiar o plano de saúde dos funcionários. Do total de R$ 2,1 bilhões em prejuízos apurados em 2016, cerca de R$ 1,6 bilhão seria apenas referente à alocação de gastos para o plano de saúde. Ocorre que a maior parte desse gasto, na verdade, é uma projeção contábil da empresa para manter o benefício do pós-emprego, ou seja, o plano de saúde dos aposentados. Há quase quatro anos, a empresa mudou seu balanço contábil para incluir uma dívida futura com o plano de saúde, com base em estimativas da expectativa de vida dos aposentados. Os Correios não têm que desembolsar esse recurso agora, mas estão usando esse argumento para pedir um sacrifício aos seus trabalhadores, prejudicando o atendimento ao público.


POR TRÁS DA PRIVATIZAÇÃO

O que de fato está por trás do projeto de privatização dos Correios são os interesses econômicos, tendo em vista que a estatal executa uma atividade estratégica e extremamente lucrativa, pois o comércio digital cresce a cada dia. A área das encomendas é justamente onde a empresa mostra que é competitiva. Investidores estimam que os Correios poderiam valer de R$ 3 a R$ 5 bilhões, apesar de sua receita anual ultrapassar os R$ 18 bilhões. Dessa receita total, mais de 54% provêm de serviços exclusivos que só a empresa opera por deter o monopólio do setor no país. A quebra desse monopólio por meio da privatização poderia atrair gigantes de outros países, como as norte-americanas Fedex e DHL.


FUNÇÃO SOCIAL DOS CORREIOS Além da entrega de cartas, correspondências e encomendas, os Correios conduzem grandes operações logísticas, como a distribuição de livros didáticos e das provas do Enem. Presente em todos os municípios do país, a empresa ainda é responsável pela inclusão bancária de milhões de brasileiros, por meio do Banco Postal, única instituição financeira presente em mais de 1.600 municípios do país. É de conhecimento público que o capital privado não tem interesse nos pequenos municípios, onde o volume de negócios é pequeno.


NA CONTRAMÃO DO MUNDO


Mais uma vez, o governo do presidente Jair Bolsonaro está na contramão das tendências mundiais. Atualmente, existem 192 correios em todo o mundo e apenas oito são 100% privatizados e outros 11 contam com participação acionária da iniciativa privada, os demais são serviços estatais. Entregar os Correios para a iniciativa privada representa prejuízo em diversos aspectos.



O Estado brasileiro perderia completamente a capacidade de influenciar uma cadeia que no futuro vai ser tornar predominante pelas atuais tendências e que foram determinantes para países como França, Holanda e a Argentina reestatizarem o serviço postal.


INICIATIVA PRIVADA VAI LUCRAR

Na prática e de forma bem objetiva, privatizar os Correios significa entregar de mão beijada a logística do Brasil, com toda capacidade de operação e com os invejáveis lucros para a iniciativa privada. Além de prejudicar o país, a tendência é de que a iniciativa privada também passe a regular os preços, o que inevitavelmente resultará na elevação das tarifas dos serviços prestados. O lobby exercido de forma "invisível" pelos concorrentes é o que de fato move o projeto de privatização dos Correios.

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