Prisão do fundador do Telegram e decisão do "X" de fechar escritório no Brasil demonstram que big teachs estão acuadas
- Alexandre Costa
- 24 de ago. de 2024
- 3 min de leitura

A prisão do fundador do Telegram, na França, e o anúncio de Elon Musk de encerrar o escritório da rede social X (antigo Twitter) no Brasil indicam que as big teachs não estão acima de tudo e de todos. A regulamentação das redes sociais e o respeito por parte de plataformas e de aplicativos às leis e à justiça dos países onde atuam parece inevitável.
O bilionário Pavel Durov, fundador e CEO do aplicativo de mensagens Telegram, foi preso no sábado (24/8) na França, quando descia de seu jato particular na pista do aeroporto de Le Bourget, nos arredores de Paris. De acordo com a imprensa francesa, havia um mandado de busca contra Durov, emitido com base em uma investigação preliminar. A Justiça considera que a ausência de moderação e cooperação com as autoridades, em relação às ferramentas oferecidas pelo Telegram, torna Durov cúmplice de tráfico de drogas, crimes contra crianças e fraudes, dizem as notícias.
A embaixada da Rússia na França afirmou à agência de notícias estatal russa Tass que não foi contatada pela equipe de Durov, após os relatos da prisão, mas que está tomando "medidas imediatas" para esclarecer a situação. A agência Reuters procurou o Telegram para um posicionamento, mas ainda não obteve retorno. O Ministério do Interior francês e a polícia também não comentaram.
O Telegram foi criado em 2013 pelos irmãos russos Pavel e Nikolai Durov. A sede da empresa fica em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, embora seus criadores sejam da Rússia. Há servidores em diferentes partes do mundo e o aplicativo promete encriptar as mensagens, ou seja, transformar a informação usando um algoritmo para impossibilitar a sua leitura por qualquer pessoa, exceto quem está recebendo a mensagem pelo aplicativo.
O Telegram ainda permite ter conversas secretas, que podem ser apagadas automaticamente após um determinado tempo.
Em entrevistas, Pavel disse que a ideia do aplicativo surgiu em 2011, quando as forças especiais russas tentaram invadir sua casa. Ele percebeu que não havia uma maneira segura de se comunicar com o irmão e, por isso, decidiu criar o aplicativo. Antes do Telegram, em 2006, os irmãos criaram a rede social "VKontakte" ou "VK", a maior da Rússia e um dos sites mais acessados no mundo, sendo chamada de "Facebook russo".
"X" DECIDIU FECHAR ESCRITÓRIO NO BRASIL A decisão de Elon Musk de encerrar o escritório da rede social X (antigo Twitter) no Brasil, que existia há mais de uma década, foi justificada pelo bilionário como mais um desdobramento da sua briga com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A Agência Pública de Jornalismo Investigativo publicou entrevista com o professor e pesquisador David Nemer. Ele afirma que Musk “aproveita essa queda de braço junto ao sistema da direita brasileira para justificar o fechamento.”
Nemer, que também integra o Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, explica que Musk já havia dito que não queria manter o escritório brasileiro aberto, pois era deficitário. Ou seja, não teria renda suficiente para bancar sua operação. “Ele está precisando de justificativas para explicar a derrocada. Musk comprou o Twitter por 44 bilhões de dólares: 13 bilhões ele pegou de empréstimo e paga em torno de 1 bilhão só de juros anualmente, ou seja, é muito dinheiro”, comenta.
Para o pesquisador, a guerra entre Musk e Moraes mostra o quanto o X/Twitter não está disposto a respeitar os contextos e as regras de cada país. Nemer diz que o bilionário exporta uma forma de pensar que não pertence ao Brasil, e impõe ao brasileiro como sendo essa a única forma. David Nemer chama isso de “coloniedade” do pensamento. “Essas plataformas, que são baseadas no Vale do Silício, adoram a chamada sessão 230. Essa é uma lei nos Estados Unidos que as tornam imunes a qualquer tipo de processo perante as cortes […] Esse é o tipo de entendimento que essas plataformas querem que seja no mundo inteiro”, explica. Leia a íntegra da matéria da Pública, publicada no sábado (24/8).